Bird destaca o peso da agricultura na AL

09/01/2009

PIB agrícola tem um efeito multiplicador na economia dos países latino-americanos, diz o banco.

A agricultura tem potencial multiplicador do crescimento econômico maior do que se imagina, afirma o estudo “Além da cidade: a contribuição rural para o desenvolvimento”, divulgado ontem pelo Banco Mundial. O organismo pede que os governos da região invistam mais em serviços públicos para a população rural, menos organizada e capaz de menor pressão política. Mas, para reduzir efetivamente a pobreza rural, será necessário diminuir a concentração de renda nas zonas rurais, alerta.

A agricultura representa 12% do PIB na América Latina, mas crescimento de 1 ponto percentual no PIB setorial eleva o PIB regional em 0,22%, e a renda de famílias mais pobres em 0,28%. “A agricultura contribui para o desenvolvimento com o dobro de sua participação no PIB”, diz o estudo. O economista-chefe do Bird para a América Latina, Guillermo Perry, diz que a contribuição rural para o desenvolvimento é maior do que se acredita.

O impacto em outras cadeias de atividade econômica e o grande percentual de exportações explica o efeito multiplicador do crescimento rural. O Banco Mundial diz que a população rural na região é subestimada pelos governos e chega a 42% do total, quase o dobro do número oficial de 24%. A diferença deve-se ao uso de critérios pelo banco semelhantes aos utilizados pela OCDE, que consideram densidade populacional junto com distância de grandes cidades.

Para o economista Daniel Lederman, do Bird, a contribuição rural para o desenvolvimento é prejudicada por políticas públicas inadequadas e baixo investimento em serviços públicos para a população rural, como saúde e educação.

Do total da população pobre da América Latina, 37%, ou 65 milhões de pessoas, vivem na área rural. Bolívia, Nicarágua, Paraguai e Peru têm índices de pobreza rural de até 70%, enquanto no México o índice é de 35%. No Brasil, a taxa de pobreza rural ainda é muito alta, de 55,3%, embora tenha caído de 70,6% em 1990. A indigência rural também é superior à urbana, 27% ante 9,3% nas cidades. A pobreza rural no Brasil é bem maior que no Chile, Costa Rica e Panamá e inferior à dos países andinos.

Embora o discurso nos fóruns internacionais seja que os subsídios agrícolas causam grande perda à América Latina, o impacto é heterogêneo. Dos 22 países da região, 15 são importadores líquidos de comida e gastariam mais com o fim dos subsídios e alta dos preços. Mas esse efeito poderia ser suavizado se fossem reduzidas tarifas de importação sobre os produtos após a eliminação de subsídios. Os maiores prejudicados pelos subsídios atuais são os exportadores líquidos, Brasil, Argentina e Chile.

No Brasil, o crescimento agrícola não reduz diretamente a pobreza. O grande fator de melhora da renda na zona rural nos últimos anos foi o aumento de permanência na escola e a redução do tamanho das famílias, além de criação de empregos na zona rural não diretamente ligados à agricultura. Segundo o Bird, a pobreza seria reduzida mais efetivamente com uma reforma agrária e alta de impostos sobre a propriedade agrícola, reduzindo a concentração de renda.

Valor Online
15/2/2005
Tatiana Bautzer