Bevilaqua deixa o BC após anúncio do PIB fraco

09/01/2009

Apontado como o maior foco do conservadorismo econômico do governo, o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Afonso Bevilaqua, anunciou ontem que deixará o cargo “por motivos pessoais”. Ele será substituído, por tempo indeterminado pelo atual diretor de Estudos Especiais do BC, Mário Mesquita, considerado igualmente conservador.

Mesquita acumulará as duas funções. O presidente do BC, Henrique Meirelles, se esquivou de responder quando e com que grau de autonomia a escolha do substituto definitivo ocorrerá.

O anúncio da saída de Bevilaqua ocorreu um dia depois da divulgação da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2006, de apenas 2,9%. A ala dita desenvolvimentista do governo considera que o baixo crescimento é conseqüência da política do BC de manter a taxa de juros num nível acima do que seria o necessário para controlar a inflação

Bevilaqua seria o principal fiador dessa política. Sua saída é uma vitória do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que, aos poucos, procuram eliminar os resquícios da “era Palocci”.

Apesar disso, após a notícia da saída de Bevilaqua, Mantega disse que “nada muda na política do Banco Central”. “Quem decide a política do BC é Conselho Monetário Nacional (CMN)”, acrescentou

Se a saída de Bevilaqua representará o abrandamento na política do BC, ainda é uma questão incerta. Sua substituição, num primeiro momento, por Mário Mesquita é um sinal de que, por enquanto, nada muda.

“A política do Banco Central não é dependente de um ou outro diretor”, afirmou Henrique Meirelles, em entrevista à imprensa ontem à noite.

Outro sinal de manutenção da linha é que Bevilaqua deverá participar da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 6 e 7 de março. “Em princípio, ele participa”, disse Meirelles, ao explicar que a saída de um diretor não ocorre de uma hora para outra, mas segue um cronograma.

Meirelles negou que a saída de Bevilaqua o deixará menos protegido na defesa das políticas do BC. Questionado se não fica mais exposto ao “fogo amigo”, afirmou: “Ele nunca me abandonou”.

O fato de Meirelles não ter confirmado a permanência de Mesquita na diretoria de Política Econômica alimentou especulações sobre a nomeação de um nome mais afinado com a ala desenvolvimentista do governo.

Coincidência ou não, ontem Mantega jantou com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, que vinha sendo cotado para o BC no caso de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optar por uma linha mais desenvolvimentista.

Mantega e Dilma ficaram especialmente irritados com o BC quando, logo após o anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro, o Copom reduziu o ritmo de corte nas taxas de juros.

Mas Fiocca não estaria entusiasmado com a possibilidade de trocar o BNDES por um cargo no BC.

“Ele só vai amarrado”, disse à Agência Estado uma fonte do governo, sugerindo que se deve esperar que o presidente Lula oficialize, como se espera, que Mantega, Meirelles e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, continuarão no governo no segundo mandato. Ontem, após o jantar, Mantega negou os rumores sobre a ida de Fiocca para o BC.

Na entrevista de ontem, o próprio Meirelles evitou dar como certa a sua permanência, antes de um posicionamento oficial do presidente. “Absolutamente, não”, respondeu, quando perguntado se já estaria confirmado no cargo.

Fonte:
Cosmo online