BC vende dólar porque não precisa pagar IOF
22/09/2011
O dólar sobe no mundo todo respondendo à intensidade do estresse nos mercados internacionais. Quanto a isso, não há dúvida ou questionamento. Mas no Brasil, o dólar sobe bem mais e mais rápido por causa de uma disfuncionalidade que só nós temos.
A jabuticaba do mercado de câmbio brasileiro é a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações de derivativos – quem quiser vender dólares em contratos futuros precisa pagar o imposto. Para evitar a taxação, os vendedores sumiram do mercado e quem ocupou o lugar foi o Banco Central, que nesta quinta-feira anunciou uma operação com derivativos de até, nada menos, US$ 5 bilhões, para tentar segurar a disparada da moeda americana. O BC não precisa pagar o IOF quando vende dólares no mercado futuro.
Ora, mas não era exatamente este o objetivo do governo quando anunciou o novo imposto? Fazer o dólar subir?
Sim, mas não com excesso de volatilidade e tão rapidamente. O real foi a moeda que mais se desvalorizou nos últimos dois meses, exatamente depois que o novo IOF foi anunciado, em comparação com as moedas dos países emergentes. Enquanto o dólar aqui subiu cerca de 20%, nos outros países, o aumento foi entre 10% e 15%. O fluxo de dólares no mercado a vista continua positivo em cerca de US$ 6 bilhões, mas nos derivativos, saiu de US$ 22 bilhões há dois meses, para cerca de US$ 9 bilhões agora.
A volatilidade excessiva na moeda gera perdas importantes nos agentes econômicos. Empresas importadoras podem perder. Mesmo os exportadores ficam receosos em fechar negócio. Sem falar nos consumidores brasileiros que nunca gastaram tanto no exterior como este ano.
A cobrança do IOF foi adotada pelo governo para conter a corrida ao real pelos investidores estrangeiros que, além de verem o Brasil crescendo mais que outros países, contavam com rendimento de uma das maiores taxas de juros do mundo. Até agora o governo não conseguiu regulamentar a medida e acabou adiando o recolhimento dos impostos. Mas os investidores separaram o dinheiro das operações já realizadas para pagar os impostos quando o governo souber como pode receber o pagamento.
O que estava em jogo quando o governo decidiu reagir ao apetite dos investidores era a competitividade da indústria brasileira, que passou a sofrer com a enxurrada de importações a preços muitos mais atrativos ao consumo. A pressa acabou jogando areia na engrenagem do mercado de câmbio do Brasil, criando mais um problema para o país, quando o desafio agora é se concentrar nos enormes desafios que o caos na economia internacional espalhou pelo mundo, cobrando em dólares.
Fonte:
G1