BC reduz para R$ 80 bilhões a estimativa de déficit com exterior em 2015
25/03/2015
O dólar mais caro e a desaceleração da economia foram os dois principais fatores que levaram o Banco Central a revisar a projeção de rombo nas transações de bens e serviços do Brasil com o exterior em 2015. A autoridade monetária diminuiu a estimativa de saldo negativo nas transações correntes neste ano em US$ 3 bilhões. Para o BC, esse cenário contribuirá para reduzir o déficit brasileiro de US$ 91,3 bilhões, registrados em 2014, para US$ 80,5 bilhões em 2015.
Assim como ocorre desde 2012, o déficit nas transações correntes do País não deve ser totalmente financiado pela entrada de investimento estrangeiro direto. O BC manteve a projeção de ingresso de IED em US$ 65 bilhões.
Em fevereiro, o rombo nas contas externas fechou em US$ 89,9 bilhões, na leitura em 12 meses, o equivalente a 4,22% do Produto Interno Bruto (PIB). Já os ingressos líquidos de IED somaram US$ 60,1 bilhões – 2,82% do PIB, no mesmo período.
Os dois principais destaques para a revisão na projeção de déficit nas contas externas, segundo o BC, são a queda das remessas de lucros e dividendos e das despesas com aluguel de equipamentos.
O chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, afirmou que o câmbio e a desaceleração da atividade econômica foram responsáveis pela queda no envio de lucros no primeiro bimestre deste ano em 36,3%. Para o acumulado do ano, a autoridade monetária reduziu a projeção de envio de lucros de US$ 26,5 bilhões para US$ 24,5 bilhões.
Além de refletir o ritmo bem mais fraco de crescimento econômico, que faz com que as companhias lucrem menos, o recuo da remessa de lucros é consequência da desvalorização do real. O dólar mais caro desestimula as empresas multinacionais a tirar dinheiro do País, já que seus resultados são apurados em reais.
Já a projeção de gastos com aluguel de equipamentos foi reduzida para US$ 23,5 bilhões em 2015, US$ 2 bilhões a menos do que a estimativa anterior. Rocha afirmou que o recuo se deve ao atual momento da indústria extrativa mineral. Esse serviço está associado aos investimentos na área de petróleo, que precisa arrendar máquinas e equipamentos de fora. Com o plano de desinvestimentos da Petrobras e em meio às investigações de corrupção na estatal, o BC projeta agora que o crescimento dos gastos com aluguel de equipamentos crescerá pouco em relação ao apurado em 2014 (US$ 22,7 bilhões).
A projeção para o saldo negativo das transações correntes não caiu ainda mais porque a autoridade monetária diminuiu, de US$ 6 bilhões para US$ 4 bilhões, a estimativa para superávit da balança comercial em 2015.
Pelo lado da entrada de capitais, o BC acredita que o Brasil receberá US$ 65 bilhões em IED em 2015, apesar de no primeiro bimestre ter ocorrido uma queda de 26,5% na comparação com os dois primeiros meses de 2014, ano em que o fluxo somou US$ 62,5 bilhões. Para Rocha, o fluxo vai se recuperar ao longo do ano porque o nível da atividade econômica atual não é o principal determinante para a entrada desses recursos.
A outra parcela do rombo deve ser coberta pelo capital de aplicações financeiras, que pode sair mais rapidamente do País em momentos de crise. No primeiro bimestre de 2015, entraram US$ 10,6 bilhões para renda, mais do que a metade da projeção do BC para o ano todo (US$ 20 milhões), fluxo influenciado pelo cenário de juros básicos em alta.
Apesar de estar abaixo dos níveis observados nos últimos meses, a taxa de rolagem da dívida das empresas – calculada pela razão entre captações e amortizações dos empréstimos de médio e longo prazos – atingiu 103% em fevereiro. "Embora possam ocorrer desdobramentos futuros, não temos observado nenhuma dificuldade das empresas em captar no mercado internacional", afirmou Rocha, quando questionado se a piora na taxa de rolagem tinha relação com as investigações da Operação Lava Jato.
Fonte:
Jornal do Comercio