BC intervém no câmbio; mercado espera novas ações

09/01/2009

São Paulo e Rio, 7 de Dezembro de 2004 – Operadores prevêem que a cotação se eleve a R$ 3. O dólar comercial registrou ontem uma alta de 0,37%, encerrando o dia vendido a R$ 2,718.

A valorização da moeda foi “patrocinada” pelo Banco Central (BC), que realizou o segundo leilão de compra de dólares do ano. Embora o resultado prático da operação tenha sido a apreciação do dólar, o presidente do BC, Henrique Meirelles, negou que fosse uma intervenção. “O governo brasileiro, juntamente com o BC, tem o objetivo de recomposição gradual de reservas. A única meta é a de inflação”, garantiu Meirelles.

Com ou sem o objetivo de forçar a alta, a operação agradou aos setores ligados à exportação. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, depois de afirmar que a compra de dólares pelo BC é natural, voltou a lembrar que a cotação atual preocupa porque “houve aumento de custos no mercado interno, matérias-primas, tarifas, tributos”. Para ele, o melhor seria um câmbio ao redor de R$ 3, com variações máximas de 5%.

A opinião de Furlan vai na mesma direção – dólar a R$ 3 – da posição defendida pelos exportadores. “Nós não gostamos da taxa de câmbio atual, mas não há como reclamar formalmente porque o câmbio é livre e varia ao sabor do mercado”, disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Nas contas de Castro, a valorização do real terá impacto sobre cerca de 30% das empresas exportadoras brasileiras em 2005 – num ambiente de pressões de custo onde se destacam petróleo e aço. Mas, para Castro, pelo menos o BC está “atento”. “O leilão é insuficiente e espero novas intervenções”, disse. Neste ponto, há consenso entre o setor produtivo e o mercado financeiro.

Os analistas de câmbio são unânimes ao afirmar que, sem grandes alterações nos cenários interno e externo, o dólar voltará à trajetória de depreciação. “Com o cenário global favorável à depreciação da moeda em relação ao euro e ao iene, só com a ação do BC o dólar se valorizará internamente”, diz Júlio César Vogeler, analista da corretora Didier Levy.

Gazeta Mercantil
7/12/2004