BC corta mais 0,5 ponto e Selic fecha o ano em 18%
09/01/2009
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira reduzir a taxa de básica de juros da economia brasileira, a Selic, de 18,5% para 18%. O corte de 0,5 ponto percentual era mesmo a principal aposta do mercado, mas dos oito membros votantes do Copom, dois escolheram um corte mais ousado, de 0,75.
É a quarta queda consecutiva da Selic desde setembro deste ano, quando um corte de 0,25 ponto percentual reduziu a taxa de 19,75% para 19,5%. Na época, a Selic já acumulava alta de 3,75 pontos desde setembro de 2004. O nível mais alto da taxa básica durante o governo Lula foi de 26,5%, mantido entre fevereiro e junho de 2003.
A queda de setembro foi sucedida por baixas de 0,5 ponto nas reuniões de outubro e novembro, sempre por unanimidade. O placar de 6 x 2 em favor do 0,5 ponto é uma novidade da última reunião do Copom no ano. Em 2006, as reuniões serão mais espaçadas, deixando de ser mensais e ocorrendo oito vezes por ano.
Na ata da última reunião, o Banco Central sinalizara nova queda nos juros, mas sempre alertando para uma eventual aceleração da inflação. Todos os índices vêm se mostrando razoavelmente desacelerados, e nem mesmo um IPCA maior parece ter preocupado o Copom – o centro da meta, de 5,1%, deve ser estourado em alguns décimos.
O peso da crise
A crise política, que já causou baixas importantes no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e impacta negativamente a popularidade do governo, pode ter sido um fator na queda da taxa. Nesta quarta-feira, simulação realizada pela CNI/Ibope com diferentes cenários para as eleições presidenciais de 2006 indicou, pela primeira vez, que Lula ficaria atrás do atual prefeito de São Paulo, José Serra, já no primeiro turno das eleições.
A queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, quase quatro vezes maior do que a esperada pelo mercado, pode ter sido outro estímulo à redução da Selic. Industriais e empresários transformaram o mau resultado num recado ao Copom, de que os juros estariam altos e restritivos demais às atividades produtivas.
O anúncio do pagamento adiantado de dívida de US$ 15 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o aumento da taxa básica de juros norte-americana para 4,25%, pelo Federal Reserve (Fed), o qual sinalizou que o aperto monetário nos EUA pode estar chegando ao fim, chegaram a motivar os analistas a apostar até mesmo em cortes mais agressivos por parte do Copom – por exemplo, de 0,75 ponto. Mas isso não aconteceu.
Reação do mercado
Analistas de mercado disseram já esperar o corte de 0,5 ponto, mas ressaltaram que o ideal seria uma redução mais profunda.
Para Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi, o Copom precisaria prestar mais atenção aos sinais dados pelos maus resultados da atividade econômica.
“A atividade econômica não está bem, embora os últimos dois meses mostrem resultados um pouco melhores. O comércio formal está ruim em várias regiões do país e a indústria tem setores que mostrarão alguma melhora apenas porque o Papai Noel chegou um pouco atrasado.”
Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, economista-chefe da Global Invest, considerou a decisão do Copom em dezembro conservadora demais.
“Mantiveram o tom hiper-conservador. Vamos ter que rever a velocidade de queda dessa taxa de juro. Minhas estimativas indicam que a taxa de juro real estará no fim do primeiro semestre do ano que vem em torno de 11%, um nível elevadíssimo para quem espera algum estímulo para a taxa de crescimento.”
Centrais sindicais
A Força Sindical divulgou nota após o anúncio da nova básica de juros criticando, mais uma vez, a decisão. Para a central, a manutenção de juros altos levou à queda no consumo, na produção e na criação de empregos. “Brasília terminou o ano praticando a maior taxa básica de juros do mundo e já compromete as negociações salariais do 1º semestre de 2006”, acrescentou a nota.
Já a Central Única dos Trabalhadores considerou que o corte de 0,5 ponto percentual foi “tímido”.
“A Central Única dos Trabalhadores lamenta novamente o conservadorismo do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. A redução da taxa Selic, anunciada neste dia 14, foi positiva, mas extremamente tímida. Com esta decisão, mantém-se um dos fundamentos de uma política econômica que impede o crescimento econômico do país, da produção e do emprego”, divulgou a central em nota.
Fonte:
Invertia