Bancos públicos têm US$ 30 bi emprestados para a Petrobras
12/03/2015
(Bloomberg) — Aldemir Bendine nunca trabalhou na indústria de óleo e gás, mas já sabia muito sobre a Petrobras antes de se tornar seu presidente no mês passado.
O motivo é que ele ocupou o mesmo cargo durante anos no Banco do Brasil SA. O BB é um dos bancos públicos que a Moody's Investors Service estima terem emprestado um total combinado de US$ 30 bilhões à Petrobras, que está no centro daquela que pode ser a maior investigação de corrupção do Brasil.
Os bancos estão sendo colocados sob análise em um momento em que a Petrobras avalia a extensão das baixas contábeis após as denúncias de que seus executivos aceitaram propinas de construtoras em troca de contratos.
Os bancos também estão sob risco de provisões maiores para perdas com empréstimos porque provavelmente terão que fornecer financiamento à petroleira em um momento em que as opções de financiamento estão escassas, disse a Moody's
"Isso está colocando os bancos – especialmente os estatais – sob enorme pressão", disse Nicholas Spiro, diretor-gerente da Spiro Sovereign Strategy, firma de consultoria de investimentos com sede em Londres.
Os US$ 1,5 bilhão em bonds do Banco do Brasil com vencimento em 2022 perderam 7,7% desde novembro, quando a Petrobras atrasou pela primeira vez seu balanço em meio à expansão da Operação Lava Jato.
O total de US$ 500 milhões em notas da Caixa Econômica Federal com vencimento similar deu um salto de 7%, enquanto os US$ 1,75 bilhão em bonds do BNDES para 2023 caíram 6,4%.
As empresas financeiras dos mercados emergentes perderam 0,3% no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Reforçando o compliance
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal preferiram não comentar o impacto da investigação de corrupção na Petrobras sobre os resultados dos bancos.
A assessoria de imprensa da Petrobras preferiu não fazer comentários sobre o risco dos empréstimos bancários e a exposição dos bancos públicos em meio à investigação de corrupção.
A assessoria de imprensa do BNDES disse que as garantias dos empréstimos protegem o banco. O BNDES também está reforçando os mecanismos de compliance para evitar qualquer problema.
O temor também ressalta o papel cada vez maior dos bancos, que aumentaram os empréstimos a pedido da presidente Dilma Rousseff para impulsionar a expansão da economia.
"Os riscos são maiores para os bancos públicos, que são garantidos pelo governo federal e podem ser compelidos a apoiar a Petrobras e sua base de fornecedores para evitar uma crise de crédito no setor", disse a Moody's, em um relatório na segunda-feira.
Exposição ao petróleo
A Moody's cortou o rating da Petrobras em dois níveis, para junk, no dia 24 de fevereiro, no segundo rebaixamento em menos de um mês, devido à preocupação de que a investigação reduzirá sua capacidade de obter financiamento.
A incapacidade da empresa de determinar a escala das baixas contábeis impediu a divulgação de resultados financeiros auditados, colocando-a em risco de violar cláusulas dos bonds, o que poderia levar os credores a acelerar a dívida.
O BNDES, com sede no Rio de Janeiro, tem a maior exposição a empresas de petróleo e gás, petroquímicas e de construção, com os empréstimos respondendo por 81,3% do capital principal do banco, segundo estimativas do JPMorgan Chase Co.
A fatia contrasta com a de 68,5% do Banco do Brasil e de 56,9% da Caixa.
O setor do petróleo respondia por cerca de 15% das carteiras corporativas dos bancos brasileiros no fim de 2014, enquanto as empresas construtoras respondiam por cerca de 10%, disse a Fitch Ratings, em um relatório na terça-feira.
"Cerca de um terço da nossa projeção para provisão para perdas de crédito para 2015 para os bancos brasileiros vem de empresas relacionadas à Petrobras e à sua cadeia de fornecedores de produtos e serviços", disse a Fitch.
Fonte:
Bloomberg
Paula Sambo