Banco do Sul é vitória de Chávez frente ao Brasil, diz ‘El País’
09/01/2009
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, conseguiu no Rio de Janeiro, onde foi assinada na terça-feira a proposta de criação do Banco do Sul, “uma vitória na batalha que livra para ganhar influência na América do Sul frente ao seu arqui-rival, os Estados Unidos, e inclusive frente a um aliado regional como o Brasil”, afirma reportagem publicada nesta quarta-feira pelo diário espanhol “El País”.
A reportagem comenta que o Banco do Sul, que deverá ser criado oficialmente no dia 3 de novembro, é “o primeiro projeto chavista de envergadura regional que vê a luz”. “Será um banco de desenvolvimento e começará com um capital de US$ 7 bilhões”, diz o jornal.
Segundo o texto, “o governo da Venezuela vem desenhando seu plano de integração nos últimos anos até identificar dois caminhos-chave, o financeiro e o energético”. “O Banco do Sul é a ponta-de-lança da primeira via, enquanto que o Gasoduto do Sul, muito mais verde e difícil de concretizar, é a segunda”, afirma.
O diário observa que, por ter sido idéia de Chávez, inicialmente apoiada pelos presidentes Néstor Kirchner, da Argentina, e Evo Morales, da Bolívia, o banco terá sede em Caracas e subsedes em Buenos Aires e La Paz, mas nascerá com a participação também de Brasil, Equador, Paraguai e Uruguai.
Alternativa
A reportagem comenta ainda que o novo banco “nasce como alternativa ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), duas instituições com sede em Washington e identificadas pela esquerda radical latino-americana como simples apêndices da Casa Branca”.
O jornal cita uma fonte não identificada do Ministério das Relações Exteriores do Brasil que explica que inicialmente o país havia sido contrário ao Banco do Sul por já ter seu próprio banco de desenvolvimento, o BNDES, mas que aderiu posteriormente porque “se o Brasil quer manter sua influência regional, não pode se dar ao luxo de não participar de uma entidade onde há outros seis países”.
“Para Brasília foi muito importante que a nova entidade se definisse como de desenvolvimento, sem faculdades como as que têm o Fundo Monetário Internacional, que quando concede um crédito substancial também se converte em um vigilante da ortodoxia financeira do devedor”, diz a reportagem.
Votos no conselho
O jornal observa ainda que o Brasil defendia que os votos no conselho do banco fossem proporcionais aos aportes financeiros de cada país participante, mas que na ata de fundação prevaleceu a tese venezuelana de que cada país terá apenas um voto, o que reduz o potencial poder brasileiro no banco.
Apesar de ter cedido na questão do voto no conselho, comenta a reportagem, o governo brasileiro “conseguiu uma condição que lhe interessava muito: que os créditos do Banco do Sul somente podem ser concedidos a países sul-americanos”.
“Aparentemente, a diplomacia brasileira queria evitar que prosperasse a idéia de Chávez de que o banco servisse também para ajudar a outros aliados de fora da região, como Cuba e Nicarágua, em programas assistencialistas de fundo ideológico e político e que poderiam distorcer o papel da futura instituição”, diz o jornal.
Fonte:
Uol Economia