Banco Central indica que alta dos juros está perto do fim

09/01/2009

O Banco Central já avalia que os juros atingiram um nível alto o suficiente para manter a inflação sob controle. A taxa básica de juros (Selic) deve subir um pouco mais, mas depois deve ficar estável por algum tempo. Foi nesse tom, bem mais ameno do que em janeiro, que os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) justificaram a última alta da Selic, na semana passada, em ata da reunião divulgada ontem.
O sinal foi suficiente para gerar euforia no mercado. Os juros futuros caíram, com os contratos que projetam taxas para o final do ano oscilando de 18,99% para 18,70%. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta de 4,55%, a maior variação positiva desde maio do ano passado.
O mercado de câmbio também reagiu, com o dólar ganhando terreno ante o real e subindo 1,5%. A cotação da moeda norte-americana ficou em R$ 2,633. O impacto da ata foi bem mais eficaz, nesse sentido, do que as operações de compra de dólares do BC, que não estavam sendo suficientes para baixar a cotação do real.
Explica-se a reação do câmbio: quanto mais próximo o fim da fase de aperto monetário, menor o período em que os juros ficarão altos e, por conta disso, menor o período em que entrarão dólares por conta da diferença entre os juros internos e os do mercado internacional, que torna o Brasil atraente ao capital externo.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, por sua vez, negou mudança de tom por parte do Copom. “A ata é sempre realista, não é otimista nem pessimista.”

Sinais de reação
A economia real também dá sinais de que já responde à fase de aperto monetário inaugurada em setembro do ano passado. A produção industrial paulista, medida por meio do indicador da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), divulgado ontem, caiu em janeiro. O movimento é normal para o primeiro mês do ano, mas foi a maior queda entre dezembro e janeiro desde 2002, o que mostra que começou, segundo a própria Fiesp, um processo de desaceleração.
A inflação também dá sinais de que começou a ceder. A Fundação Getúlio Vargas divulgou o IGP-M de fevereiro, que ficou em 0,30% contra 0,39% em janeiro.
Outro indicador, divulgado ontem pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados), mostra que, apesar de ainda aquecida, a economia brasileira está longe de beirar o descontrole de preços. As vendas dos supermercados subiram 9,94%, em janeiro quando comparadas com janeiro do ano passado. Mas, ao mesmo tempo, os preços caíram 5,24% em relação ao mesmo período de 2004.
De fato, o BC avalia, por meio da ata, que os riscos de aceleração da inflação são hoje menores do que eram quando foi realizada a reunião do Copom de janeiro, cuja ata teve tom bem mais duro.
Ainda assim, a ata deixa claro que a economia continua aquecida -enfatiza que a demanda doméstica segue alta- e que pode haver necessidade de nova alta dos juros, para que finalmente a autoridade monetária dê como terminada a fase de aperto monetário. O mercado crê em nova alta de até 0,5 ponto em março e queda só no segundo semestre.

Folha Online
25/2/2005