Bachelet é eleita presidente do Chile

09/01/2009

Candidata socialista vence segundo turno das presidenciais e se torna a primeira mulher a dirigir o Chile, onde incidentes marcaram jornada

SANTIAGO (Roberto Lameirinhas/AE) – A socialista Michele Bachelet será a primeira mulher a dirigir o Chile. Com 67,23% dos votos totalizados até as 22 horas (de Brasília), Bachelet tinha 53,22% dos votos, enquanto seu rival da Renovação Nacional (RN), Sebastián Piñera, obtinha 46,77%, de acordo com o boletim oficial lido pelo subsecretário de Interior, Jorge Correa Sutil. A vitória de Bachelet dá à Concertação de Partidos pela Democracia – coalizão formada para combater a ditadura de Augusto Pinochet (de 1973 a 1990) – o quarto mandato consecutivo desde a redemocratização do país. A candidata venceu Piñera em 12 das 13 regiões do país.

Bachelet chega ao Palácio de La Moneda em março, após uma campanha na qual prometeu intensificar os programas de assistência aos mais pobres, com o objetivo de reduzir a desigualdade social no país. O resultado de ontem confirma a tendência prevista pelas últimas pesquisas de opinião pública. Bachelet foi a candidata mais votada no primeiro turno, em 11 de dezembro, com 45,95% dos votos. Piñera tinha recebido pouco mais de 22% dos votos, mas suas chances de chegar à presidência no segundo turno se ampliaram com a adesão do terceiro colocado na votação de dezembro, o candidato da União Democrata Independente (UDI), o ex-prefeito de Santiago Joaquín Lavín.

Logo após a divulgação do boletim, partidários de Bachelet ressaltavam o marco histórico que representa a eleição de uma mulher para a presidência do Chile, um país no qual mulheres e homens têm de votar em seções separadas.

Os mesários começaram a contar os votos às 16 horas (17 horas de Brasília), o que permitiu à Justiça Eleitoral estabelecer um recorde na rapidez com que anunciou o resultado da eleição de um presidente. O boletim oficial foi divulgado apenas duas horas depois.

As mesas começaram a ser instaladas às 7 horas (8 horas de Brasília) e, uma hora depois, 95% delas já estavam em plena atividade, segundo as autoridades eleitorais. O dia foi de tempo bom na maior parte do país. Em Santiago, a temperatura beirou os 30°C entre o fim da manhã e começo da tarde. A proibição de qualquer tipo de manifestação partidária nas ruas, incluindo o uso de camisetas e bonés, praticamente apagou da cidade todos os sinais de que havia uma eleição em curso. De diferente, só o grande número de soldados do Exército, que reforçavam as patrulhas pelas calçadas.

Incidentes – No mais grave da jornada, o deputado Pablo Longueira, da União Democrata Independente (UDI), partido de direita que deu apoio a Pinochet, foi agredido por um grupo de ativistas de esquerda quando chegou para votar no distrito de La Pintana, em Santiago. Aos gritos de “ladrão” e “assassino”, os manifestantes jogaram pedras e latas de refrigerante em Longueira.

Um princípio de tumulto ocorreu também na chegada de Bachelet ao seu local de votação, o Colégio Verbo Divino, em Las Condes – setor nobre da capital. Uma multidão de jornalistas tentava se aproximar da candidata, quando alguns começaram a se agredir, exigindo a intervenção dos carabineiros, a polícia militar do Chile. Um fotógrafo jogou sua câmera no rosto de um repórter de rádio, que reagiu a socos. Em meio à confusão, uma atônita Bachelet pedia calma. “Vocês precisam permitir ao menos que eu caminhe até a urna”, disse.

Piñera votou sem problemas no Instituto Superior de Comércio, Insuco, no centro de Santiago. Na saída, convocou os chilenos a votar “livre de pressões” e se dirigiu, junto com a mulher, Cecilia, e o filho, Cristóbal, à Igreja de São
Francisco, na Alameda, onde assistiu à missa.

Pouco depois, também no Insuco, chegou o presidente Ricardo Lagos. Chegou em meio a aplausos de uma multidão que o esperava do lado de fora do edifício. “Lagos, amigo, o povo está contigo”, gritavam os simpatizantes. O presidente, que chega ao fim do mandato com uma aprovação popular de 75%, votou em 30 segundos. “Aqui estamos encerrando mais uma campanha eleitoral”, disse depois, ao deixar o local de votação. “E, como em todo período eleitoral, há choques e divergências. Mas amanhã, o Chile volta a ser o Chile, todos os chilenos voltarão a se unir em nosso objetivo comum”.

Convidados – No centro de imprensa instalado no Hotel San Francisco Plaza pelo comando da campanha de Bachelet, o filho do presidente, Ricardo Lagos Weber, disse à AE que não tinha dúvidas de que a candidata venceria. Lagos Weber também saudou a presença no Chile dos convidados estrangeiros que acompanhavam a eleição, particularmente o assessor especial de assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia. Entre outros, também estão no país a deputada brasileira Maria do Rosário (PT), os políticos argentinos Raúl Alfonsín, Carlos “Chacho” Alvarez e Alberto Fernández, o ex-candidato presidencial colombiano Horacio Serpa e o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González.

Fonte:
O liberal online