Atendimento terceirizado cresce 4,2% ao ano no Brasil
18/10/2011
São Paulo – Repassar certas atividades feitas em uma empresa a outras companhias, especializadas – a chamada terceirização da mão de obra – tem seu futuro no setor de serviços. Bancos, companhias de turismo, empresas têxteis e alguns tipos de indústria são as que mais usarão funcionários terceirizados nos próximos anos. Antes sinônimo de precarização do trabalho, a terceirização luta para se livrar deste estigma: cada vez mais colaboradores qualificados (alguns até de nível universitário) trabalham em companhias de terceirização. Só no Estado de São Paulo há 700 mil funcionários terceirizados atuando na economia, em 5.346 empresas focadas na atividade.
Estas são algumas previsões e dados expostos ontem em evento promovido pelo Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros, Colocação e Administração de Mão de Obra, Trabalho Temporário, Leitura de Medidores e Entrega de Avisos do Estado de São Paulo, o Sindeepres. Eles foram tirados de uma extensa pesquisa conduzida a respeito pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann. "A terceirização no Brasil se mostra cada vez mais complexa: ela hoje remunera melhor, e os trabalhadores têm ficado um pouco mais de tempo nas empresas", afirma ele. O estudo conduzido por Pochmann traz informações sobre o setor no Estado de São Paulo, mas as conclusões gerais a respeito podem ser extrapoladas a todo o País.
"Nos últimos 25 anos, quase dobrou o poder aquisitivo dos trabalhadores terceirizados", relata Pochmann. "Outra grande novidade é que o setor vem gradualmente migrando da realização de atividades-meio nas empresas para atividades-fim, diretamente ligadas ao ramo em que atua a companhia que usa os serviços terceirizados. Ou seja, os trabalhadores deste setor estão se tornando cada vez mais cruciais para aqueles que contratam seus serviços." O professor da Universidade de São Paulo (USP) e consultor político Gaudêncio Torquato, que esteve presente no evento, é categórico: "O crescimento qualitativo da terceirização no Brasil é fato irrefutável, mesmo que muitos ainda insistam em dizer o contrário".
Produtividade
Na Europa e nos Estados Unidos o trabalho terceirizado existe há muito tempo. Nestes países ele tradicionalmente não está ligado à ideia de trabalho precário e mal pago; pelo contrário, o vínculo nos mesmos da terceirização é com o aumento da produtividade. Já no Brasil a atividade nasceu no início da década de 1980 com foco no barateamento de custos das empresas, e assim permaneceu por um bom tempo. Por sinal, até o início dos anos 90 houve predominância feminina na mão de obra do setor, porque até então a terceirização de mão de obra se dava principalmente em atividades de limpeza.
É forte também a tendência a aumento do nível de instrução dos trabalhadores do setor. Se no passado a imagem era de que apenas pessoas de baixa alfabetização atuavam nestas companhias, isto mudou: em 2010, o Estado de São Paulo possuía 32% dos ocupados na área com apenas ensino fundamental, ao passo que em 1985 esta proporção chegava a 92%. Melhor ainda: ano passado, 9% dos trabalhadores terceirizados tinham formação universitária.
Salários
Entre 2003 e 2010 a quantidade média anual de empregos terceirizados abertos no Estado de São Paulo foi de 354 mil novas vagas, enquanto na década de 1990 era de 231 mil ocupações por ano. Outro dado relevante: entre 1985 e 2010 houve aumento médio anual no salário do trabalhador terceirizado de 2,3%. No entanto, apesar da elevação do índice salarial médio dos terceirizados, este ainda representa, hoje, algo em torno de 54% do salário de um trabalhador não-terceirizado. "Nosso setor ainda é novo, há muito nele a ser melhorado. Em especial, precisamos de uma legislação mais forte na proteção de nossos trabalhadores", destaca Genival Beserra Leite, presidente do Sindeepres.
Mas ele comemora: a elevação do piso salarial da categoria, bem como os constantes aumentos do salário mínimo acima da inflação ocorridos na última década, contribuiu de forma decisiva para a nova imagem que surge do funcionário terceirizado no Brasil. Em 25 anos, a massa de salários do conjunto dos empregados terceirizados paga pelas companhias em São Paulo cresceu nada menos que 2,5 mil vezes.
Os últimos destaques da pesquisa de Pochmann ficaram por conta da constatação de que áreas como turismo, limpeza, bancos e alguns ramos industriais serão as maiores empregadoras de mão de obra terceirizada daqui para a frente no Brasil. Os auxiliares gerais ainda serão os mais procurados por tais empresas, mas a demanda por colaboradores qualificados terceirizados crescerá de forma constante.
Fonte:
DCI