Ata do Copom desmonta recuperação da bolsa
09/01/2009
SÃO PAULO – O mercado acionário sofreu o revés que vinha sendo esperado em resposta à divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que reafirmou o tom conservador das minutas anteriores e, segundo alguns analistas, mostrou ainda mais preocupação diante do comportamento inflacionário. Diante disso, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) fechou em queda de 2,04%, aos 24.029 pontos e giro financeiro de R$ 1,369 bilhão.
A ata da reunião do comitê, informação mais aguardada pelo mercado desde o aumento de 0,50 ponto percentual da Selic, aplicado pelo colegiado no último dia 19, confirmou as suspeitas do mercado e permitiu a interpretação de que novas elevações estão previstas para a taxa básica de juro. Também acentuou a necessidade de manter a taxa em alta por um período mais longo antes de partir para um eventual período de cortes da Selic.
Indicadores e projeções de inflação acima da meta de 5,1% estabelecida pelo BC para este ano foi uma das principais justificativas do colegiado para afirmar a perspectiva de seguir com o aperto monetário. De acordo com o texto da ata, ” os membros do Copom reafirmam a sua convicção de que etapas adicionais do processo em curso de ajuste na taxa de juros básica, seguidas de um período suficientemente longo de manutenção dos juros, deverão ser suficientes para trazer a trajetória futura da inflação para o objetivo estabelecido para a atuação da política monetária ” .
Depois de três dias consecutivos de recuperação, a bolsa paulista cedeu com força, não só pela piora perspectiva em relação ao juro, mas também por causa do comportamento das bolsas de Nova York. O declínio do segmento ficou mais acentuado a partir das 16h, quando Wall Street firmou tendência de queda por conta de resultados corporativos.
Maurício Gallego, analista da corretora Concórdia, destaca que diante do mau humor generalizado, com os juros futuros e risco Brasil em alta, os investidores retomam as ordens de “stop loss”. Trata-se de um mecanismo usado pelas instituições para limitar perdas acumuladas por uma determinada operação ou ativo. Assim, com o intuito de evitar que uma aplicação desvalorize-se ainda mais, investidores determinam um limite máximo para perdas em um dado horizonte de tempo, optando pela zeragem de posições. Instantes atrás, o EMBI+ brasileiro, calculado pelo Banco JP Morgan Chase, avançava consideravelmente: 1,47% de alta, para 413 pontos.
Ainda assim, Gallego acredita que o fato de o Ibovespa ter encerrado o pregão com pontuação superior a 24 mil pontos, assinala a possibilidade de o pregão de amanhã ser menos “sombrio”. “Mesmo assim, o movimento de recuperação costuma ser mais difícil nas sextas-feiras”, diz, mencionando o fato de pregão que antecede o fim de semana mostrar comportamento mais cauteloso e de menor risco.
Dentre tantas perdas no dia, poucas ações conseguiram subir ao fim do pregão. As ações preferenciais do Bradesco se destacaram, favorecidas pelo cenário de alta da Selic, que proporciona maiores lucros ao setor bancário. Os papéis do banco, que divulga seu balanço trimestral na próxima segunda-feira, terminaram em alta de 0,81% (R$ 62,00), seguidos das ordinárias da Telemar, que ganharam 0,67% (R$ 43,40) e das ações preferenciais da Embraer, que valorizaram 0,33% (R$ 20,91). As ordinárias da companhia encerraram o pequeno grupo de apreciação da jornada e terminaram com avanço de 0,19% (R$ 15,15).
Na ponta inversa, o setor de energia devolveu a recuperação observada no pregão anterior e lideraram o cenário de perdas do índice. As preferenciais da Cesp recuaram 5,67% (R$ 10,80), as ordinárias da Tractebel perderam 5,67% (R$ 7,84) e as da Light declinaram 5,38% (R$ 52,40).
(Bianca Ribeiro Valor Online)
27/1/2005