As estratégias de investimentos e a teoria dos jogos

09/01/2009

Aquiles Mosca

Em 1989, Charles Ellis na publicação “Investment Policy” defendeu que, ao observarmos o universo do mercado financeiro sob a ótica da teoria dos jogos, podemos chegar à conclusão de que trata-se de um jogo de perdedores. Por definição, em um jogo de vencedores, ganha o participante que vence mais vezes. Em contrapartida, em um jogo de perdedores, o resultado final é determinado pela ação dos que efetivamente perdem a disputa.

Dessa forma, um participante vence um jogo de perdedores não por acertar mais vezes, mas sim ao evitar erros e permitir que os demais participantes, em seu habitual excesso de iniciativa na procura por retornos extraordinários, cometam maior número de erros e, com isso, definam quem serão os vencedores do jogo.

Uma vez que o mercado de investimentos é largamente dominado por investidores profissionais – tesourarias, fundos de pensão, fundos mútuos, entre outros -, detentores de grandes volumes de recursos, a participação do investidor individual pessoa física nos movimentos de mercado é pequena e incapaz de influir na definição da tendência dos preços dos principais ativos. Conseqüentemente, configura-se um jogo de perdedores. Ou seja, um mercado cujos participantes jogam entre si e, em grande medida, com base no mesmo conjunto de informações publicamente disponíveis.

Se tal teoria estiver correta, a verdadeira oportunidade para alcançar performance superior aos competidores não está em acertar diferentes posições nos diversos ativos mais vezes e em maior magnitude que a média dos participantes do mercado, mas em estabelecer e aderir a uma política de investimentos apropriada (como X% do patrimônio em fundos de ações e Y% em fundos DI).

Nesse cenário, o que importa é a alocação de ativos estratégica definida com base nos objetivos, limitações e tolerância ao risco de um determinado investidor e não os movimentos táticos e constantes de curto prazo. Dada a natureza do jogo em questão, quanto maior a movimentação, maior a probabilidade de erro. Isto é, ao contrário do que prega o senso comum, os ganhos não estariam em comprar e vender em diferentes ativos em diversos momentos, mas em esperar.

Duas coisas definem os movimentos dos mercados: o esperado e o inesperado. Os fatores que são amplamente aguardados pelos participantes dos mercados já têm seus efeitos incorporados aos preços dos diversos ativos no período corrente e, conseqüentemente, são inúteis para a obtenção de vantagem financeira. Já no que diz respeito aos fatores inesperados, para que um investidor consiga obter ganhos é necessário que, de alguma forma, consiga antecipá-los e traduzi-los em posicionamentos vencedores no mercado antes que os demais participantes o façam. Caso contrário, não haverá possibilidade de geração de valor extraordinário para a carteira.

Para tal, o investidor precisa formar expectativas de maneira mais eficiente e rápida que os concorrentes, seja por possuir melhores informações ou por ser capaz de processar as informações publicamente disponíveis de maneira mais eficaz que os demais, motivo pelo qual o uso de informação privilegiada é considerado crime. Por fim, o investidor necessita traduzir as informações públicas em posições corretas nos diversos mercados de ativos de risco.

Dito isso, o que deve fazer o investidor individual pessoa física para montar uma carteira apropriada de investimentos? Esperar que tal aplicador faça por si só todo o trabalho descrito acima parece injusto e desleal. Pela própria natureza de um jogo de perdedores, há alta probabilidade de esse aplicador individual incorrer em erros e, conseqüentemente, em perda de patrimônio.

Resta, então, ao investidor pessoa física identificar o gestor que consiga portar-se com regularidade da maneira descrita anteriormente. Nesse sentido, alguns indicadores podem ser valiosos para balizar a avaliação. O principal deles é a consistência dos retornos observados. A experiência mostra que gestores com forte aderência a seus processos e política de investimentos tendem a se diferenciar dos demais. Ainda que eventuais descolamentos com relação ao benchmark possam ocorrer ao longo do tempo, tal consistência na abordagem da gestão tem se mostrado como um diferencial em diversas regiões geográficas e mercados.

Caso o mercado de investimentos tenha se convertido de fato em um jogo de perdedores como defende Charles Ellis, apenas aderência a uma estratégia de alocação de ativos apropriada ao investidor e paciência tendem a ser convertidos em ganhos extraordinários ao longo do tempo.

Fonte:
Valor Economico