Argentina propõe que Mercosul taxe a exportação agrícola
09/01/2009
GENEBRA – A Argentina quer discutir com os sócios do Mercosul a adoção de taxa na exportação de produtos agrícolas pelo bloco. Buenos Aires já cobra o imposto de seus exportadores, desde que os preços das commodities dispararam. ” Não nos critiquem, juntem-se a nós ” , é a mensagem argentina para Brasil, Uruguai e Paraguai, em vista da cúpula do bloco nos dias 17 e 18 de dezembro, em Montevidéu, onde gostaria de ver o assunto debatido.
Para o secretário de Comércio Internacional da Argentina, Alfredo Chiaradia, o momento é propício, por causa do excesso de demanda que manterá os os preços elevados. ” No mercado internacional não há grãos, produtos lácteos ou carne em quantidade suficiente, a demanda é bem maior que a oferta e essa mudança é estrutural ” , afirmou. ” Se não adotássemos a medida, os exportadores argentinos venderiam tudo para fora. ” Se a renda aumenta, também existe o risco de a exportação crescer em volume excessivo, deixar menos comida em casa e a inflação subir, argumenta o argentino.
Para Chiaradia, a taxa merece ser examinada pelos sócios, porque ” está comprovado pela situação do mercado de commodities que é um instrumento bom, útil e não extemporâneo, e em vez de nos criticarem que discutam conosco (sobre sua aplicação) ” .
Prevendo um ” ciclo confortavelmente longo ” de alta de preços para os exportadores do Mercosul, o governo argentino também se indaga por que ainda necessita negociar liberalização agrícola na OMC, onde terá de pagar em contrapartida na área industrial.
Chiaradia se diz surpreso ao constatar como ” alguns países não fizeram as contas corretamente ” , para perceberem que a situação mudou. Com os preços agrícolas em alta, os países ricos têm condições de abrir mais seus mercados e reduzir substancialmente os subsídios, porque seus agricultores necessitam de menos subvenções e podem ” afrontar o mercado ” .
De outro lado, estima que os ricos também já levariam vantagem na área industrial com a oferta de corte tarifário de 50% pelos emergentes. A Argentina alega que isso afetaria 25% das alíquotas aplicadas (2.200 linhas tarifárias), em setores como têxteis, calçados, equipamentos e autopeças. O governo argentino se diz pronto a fechar um acordo na negociação global, ” se outros não pedirem a lua ” na área industrial. Indagado se a Argentina não pedia a lua na área agrícola, ele retrucou: ” Já temos. ”
Ou seja, com ou sem acordo na Rodada Doha, Brasil, Argentina e outros exportadores vão continuar vendendo muito, em meio à enorme demanda global. ” A UE fechava o mercado, porque seu preço interno era mais alto que o internacional e queria proteger seu produtor. A situação se alterou completamente. ”
A Argentina, recentemente, aumentou a retenção sobre exportações de soja, milho e trigo. Produtores brasileiros, que importam 70% de seu trigo do mercado vizinho, ficaram irritados. Para justificar a tributação, Buenos Aires argumenta que, além do boom dos preços internacionais, os exportadores foram beneficiados pela desvalorização do peso em 2002 e pela manutenção de um câmbio alto por longos anos. As retenções sobre exportações são importante fonte de receita da Argentina. Com a elevação recente da taxa, o governo deve arrecadar US$ 1,5 bilhão a mais.
Fonte:
Assis Moreira
Valor Econômico