Aprovação a Lula atinge o menor nível desde a posse

09/01/2009

Queda de popularidade mostra que estratégia de manter o presidente isolado da crise política e de evocar os bons números da economia atingiu seu limite

EXAME A aprovação pessoal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu seu pior nível desde sua posse, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte e do instituto Sensus, divulgada nesta terça-feira (13/9). Realizada entre os dias 6 e 8 deste mês com 2 000 entrevistados, a pesquisa mostra que 50% da população ainda aprova o desempenho de Lula. Trata-se de uma queda de praticamente dez pontos percentuais em relação a julho, quando 59,9% apoiavam o presidente.

A parcela dos que reprovam Lula subiu de 30,2% para 39,4% no mesmo período. Esta também é a maior taxa de desaprovação já registrada neste governo. O recorde anterior pertence a junho de 2004, quando 37,6% reprovavam Lula. Já os que não sabem ou não opinaram passaram de 9,9% da amostra para 10,7%.

Os resultados mostram o esgotamento da estratégia do governo de manter o presidente isolado da crise política que já tragou sua base aliada no Congresso e derrubou a antiga cúpula do Partido dos Trabalhadores, que Lula ajudou a fundar há 25 anos. Nem mesmo os bons números da economia foram capazes de deter o desgaste de sua popularidade. “A população está cada vez mais insatisfeita com a postura de Lula diante da crise”, afirma o cientista político João Augusto de Castro Neves, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibep).

Em julho, 47,8% dos entrevistados declararam que Lula estava tomando as atitudes corretas frente à crise. Em setembro, a percentagem recuou para 44,8%. Já para 45,1%, as ações do presidente não são adequadas, contra 31,9% em julho.

Limite
Desde a eclosão do escândalo de compra de deputados, em maio, Lula realizou dois pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e televisão, nos quais se destacaram duas estratégias. A primeira foi tentar convencer a opinião pública de que o presidente não sabia dos possíveis acordos de financiamento irregular de campanhas, nem de eventuais propinas pagas a parlamentares aliados. Em seu discurso mais contundente, Lula chegou a afirmar que foi traído pelo PT, pediu desculpas à nação e prometeu investigações “profundas”.
A segunda estratégia foi insistir que o país vai bem, do ponto de vista econômico, e que a crise política poria em risco seu desempenho.

Nenhum desses recursos foi suficiente para conter a desaprovação crescente a Lula, segundo os analistas. “Não se pode dizer que o presidente seja o mentor do esquema de corrupção, mas a pesquisa mostra que a população acredita que ele tinha algum nível de conhecimento disso”, afirma Ricardo Ribeiro, cientista político da consultoria MCM. Segundo a pesquisa CNT/Sensus, 49,5% dos entrevistados crêem que Lula sabia da corrupção em seu governo, contra 33,6% em julho.

Outro dado mostra o tamanho da descrença dos eleitores. A pesquisa mostra que 38,9% não acreditam no discurso de Lula, contra 31% que acreditam. Os que crêem apenas parcialmente nele representam 26% da amostra.

Contaminação
Não se pode dizer, porém, que a articulação para isolar Lula da crise não tenha sido bem-sucedida, no início da crise. A pesquisa da CNT/Sensus mostra que, para os entrevistados, a corrupção está muito mais ligada ao PT (39,1%), e ao Congresso (24,2%), que ao presidente Lula (13,5%) ou ao governo (10,7%).

A tendência, porém, é que a inabilidade de Lula de dar uma resposta à altura da crise e a continuação das investigações acabem vinculando ainda mais a corrupção ao Poder Executivo. “Não dá para dizer que o Executivo se tornará o maior foco, mas a percepção de corrupção ainda vai se generalizar mais”, diz Castro Neves, do Ibep.

Eleições
A CNT/Sensus também confirmou o que outras pesquisas já vinham indicando. Lula, antes considerado imbatível e com grandes chances de se reeleger no primeiro turno, já está tão desgastado que enfrentará um segundo turno em qualquer cenário eleitoral. Ao contrário, porém, dos outros institutos de pesquisa, Lula aparece em situação de empate técnico – e não derrotado – com o prefeito de São Paulo, o tucano José Serra, com 37,9% a 37,5%, respectivamente.

“Lula deixou de ser o favorito para ser um candidato competitivo”, diz Castro Neves. Para Ribeiro, da MCM, as simulações de primeiro turno, em que o presidente aparece com cerca de 30% das intenções de voto, mostram que sua base de apoio voltou aos patamares históricos, ou seja, o esforço de 2002 para conquistar parcelas da classe média tradicionalmente arredias ao PT foi perdido.

Fonte:
Portal Exame
Márcio Juliboni
14/9/2005