Após terremoto, Haiti vive uma catástrofe além da imaginação

14/01/2010

Haiti – O presidente do Haiti, René Préval, pediu ontem a ajuda urgente da comunidade internacional para enfrentar o que chamou de "inimaginável" catástrofe ocorrida no país com o terremoto de terça-feira.

Em suas primeiras declarações após o terremoto, Préval disse, em entrevista ao diário The Miami Herald, que ele mesmo caminhou entre corpos e ouviu gritos de pessoas presas nos escombros do prédio do Parlamento. Segundo Préval, pode haver milhares de mortos, embora por enquanto não seja possível divulgar um número oficial.

"O Parlamento afundou, o edifício de impostos, as escolas e os hospitais. Há muitas escolas destruídas com muita gente dentro", assinalou Préval. O presidente haitiano explicou que percorreu vários bairros de Porto Príncipe para avaliar as consequências do tremor. "Todos os hospitais estão abarrotados de gente. É uma catástrofe", acrescentou. O poderoso terremoto aconteceu às 19h53 (Brasília) de terça-feira e teve epicentro a 15 quilômetros de Porto Príncipe, capital da nação mais pobre do hemisfério ocidental.

O exército brasileiro confirmou que pelo menos 11 militares do País que participam da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) morreram em consequência do terremoto. O comandante do Exército, Enzo Peri, disse que além dos mortos, há oito desaparecidos e nove feridos. Ele destacou, porém, que esses números mudam a todo momento. Peri faz parte da missão que embarcou ontem para o Haiti.

Além dos militares, a coordenadora nacional da Pastoral da Criança, a médica Zilda Arns também morreu no tremor. Seu corpo será transportado hoje de Porto Príncipe para Curitiba. (EFE)

O País perde Zilda Arns, da Pastoral

A coordenadora internacional da Pastoral da Criança, a médica Zilda Arns Neumann, 73 anos, foi uma das vítimas fatais do terremoto no Haiti. Ela estava no país implantando a Pastoral, entidade de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. É uma perda muito significativa, lamenta o bispo de Novo Hamburgo, Don Zeno Hastenteufel. "A morte de Zilda Arns no Haiti é um ato de heroísmo. Como disse o irmão dela, Dom Evaristo, ela teve uma morte de heroína. Podia ter se aposentado depois de tanto trabalho, mas preferiu começar a trabalhar em defesa dos pobres". Em 2001, Zilda esteve em Novo Hamburgo para receber uma doação de mil pares de calçados infantis, entregue por um grupo de empresários produzidos durante a 25ª Fimec, em abril daquele ano. A iniciativa de fazer doação, fazendo parte do Projeto Calçar, partiu da empresa hamburguense Himaco Hidráulicos e Máquinas Ltda. Para a diretora da Himaco, Luciane Bondan Schorr, "Zilda era uma pessoa carismática que se doou integralmente para fazer todos esse trabalhos. Foi uma perda lastimável, mas ela estava fazendo o que gostava", disse. Zilda foi a primeira brasileira a concorrer ao Prêmio Nobel da Paz, em 2006.

Haitiano no Estado está sem informações

O haitiano de Carrefour, Steeve Zephir, 24 anos, está no Estado há três anos. Estudante de Administração, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Zephir também é professor de dança e dá aulas em Novo Hamburgo. Ele conta que após sair da sua aula, na terça-feira, foi para a rodoviária do Município pegar o ônibus para Porto Alegre, onde reside, quando recebeu a notícia. "Um amigo me avisou. Fiquei muito preocupado e passei a noite inteira na Internet tentando entrar em contato com minha família."

Zephir também conta que desde a tragédia, ele e outros haitianos residentes no Estado, não conseguem qualquer tipo de contato com o Haiti. "Nem amigos que se encontram nos Estados Unidos conseguiram contato. Queremos muito saber notícias de nossas famílias e amigos." O haitiano diz que até agora, o governo brasileiro não entrou em contato para oferecer apoio. "Estamos esperando alguém nos ajudar. Queremos ir muito para Haiti e ajudar as pessoas lá. É o nosso dever como cidadãos do nosso país."

Dois militares gaúchos entre as vítimas

O terremoto impediu o retorno para casa do militar gaúcho de São Gabriel, Bruno Ribeiro Mário (foto acima), 26 anos. O 1° tenente, que servia no 5° Batalhão de Infantaria Leve, localizado em Lorena, São Paulo, já tinha data marcada do retorno para o Brasil no próximo sábado. O Ministério do Exército informou que Bruno estava há sete meses na missão brasileira e estaria fora da base da Força de Paz da ONU em uma área onde os danos foram grandes. O pai de Bruno, Alacir José Mário, diz que o momento é de muita tristeza. "Ele voltaria no sábado e ocorre essa tragédia." Alacir estava com a esposa Ângela e com a filha Daniele, em Santa Maria, quando recebeu a notícia. Outra vítima foi o Cabo Douglas Pedrotti Neckel (foto abaixo), 23 anos, de Cruz Alta. Também servia em Lorena onde vive sua família e era voluntário das Forças de Paz. A última informação que Neckel postou no Orkut dizia "em breve: casa".

MILITARES BRASILEIROS MORTOS

1º tenente Bruno Ribeiro Mário (gaúcho); 2º sargento Davi Ramos de Lima; 2º sargento Leonardo de Castro Carvalho; cabo Douglas Pedrotti Neckel (gaúcho); cabo Washington Luis de Souza Seraphin; soldado Tiago Anaya Detimermani; soldado Antônio José Anacleto; cabo Arí Dirceu Fernandes Júnior; soldado Kleber da Silva Santos; subtenente Raniel Batista de Camargos e coronel Emilio Carlos Torres dos Santos

GIGANTE – Não há número oficial de vítimas, mas o premiê do Haiti, Jean-Max Bellerive, disse acreditar que os mortos "estejam além dos 100 mil". Esse foi o mais forte tremor registrado no país nos últimos 200 anos (7 graus). A agência geológica americana US Geological Survey informou que o terremoto ocorreu às 16h53 no horário local (19h53 de Brasília).

Brasil – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o Brasil busca uma "uma ação coordenada" com os Estados Unidos para ajudar o Haiti. O governo brasileiro anunciou uma doação de US$ 10 milhões para colaborar com a reconstrução do Haiti e enviará dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) carregados com 28 toneladas de alimentos.

EUA – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu apoio "total" de seu país ao Haiti e ordenou o envio de um grande contingente militar, incluindo um porta-aviões para socorrer o país e suspendeu as deportações de haitianos. Obama disse que para o Haiti "esta tragédia parece ser especialmente cruel e incompreensível".

LULA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que pretende conversar com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para tentar articular a ajuda humanitária de outros países ao Haiti. O presidente também pediu aos governadores que fiquem em alerta para colaborar com recursos para o povo haitiano. "Aquele povo não merecia mais uma desgraça na vida deles", lamentou Lula.

ALIMENTOS – O Brasil poderá enviar ao Haiti 400 toneladas de leite em pó para tropas militares e sobreviventes do terremoto. Segundo a Secretaria de Segurança Alimentar, os alimentos fazem parte do estoque do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e, se houver demanda, o Ministério do Desenvolvimento Social ainda tem disponíveis 200 toneladas de feijão e arroz.
saúde – A organização Médicos sem Fronteiras (MSF) classificou de "caótica" a situação do Haiti após o tremor e afirmou que o sistema de saúde do país está em "colapso". Stefano Zannini, um dos chefes de missão na nação, relatou danos severos em hospitais e informou que "há corpos por toda parte. O povo reúne-se nas ruas, acende fogueiras e tenta ajudar os moradores", disse.

Doação – A organização não governamental (ONG) Viva Rio, que tem uma equipe de 400 pessoas, entre brasileiros e haitianos, trabalhando no Haiti, anunciou ontem a abertura de uma conta no Banco do Brasil para receber donativos para aquele país. O número da conta é 5113-6 e a agência, 1769-8. O Haiti é o país que receberá a maior ajuda financeira enviada pelo Brasil a outras regiões nos últimos anos.

ONU – O chefe da missão das Nações Unidas no Haiti, o tunisiano Hedi Annabi, foi morto no terremoto segundo o presidente René Préval. O representante especial adjunto da ONU no Haiti, o brasileiro Luiz Carlos da Costa, que estaria junto de Annabi, segue desaparecido, no momento em que as forças estrangeiras no país tentam ajudar milhares de pessoas e resgatar suas próprias vítimas.

Quase 3 milhões afetados

O total de pessoas afetadas pelo terremoto pode chegar a 3 milhões, segundo a Cruz Vermelha Internacional. Ainda não há uma contagem oficial de mortos. O Centro de Comunicação Social do Exército confirmou que o Brasil pode enviar mais soldados para ajudar os militares que integram a Missão da ONU nos trabalhos de resgate e na reconstrução das regiões mais afetadas.

Verba do Banco Mundial

O Banco Mundial anunciou que vai desbloquear US$ 100 milhões adicionais para o Haiti. A entidade estima que o país, o mais pobre das Américas, perderá mais de 15% do seu PIB, registrado em 2008, por causa do terremoto, segundo a diretora de operações do Banco Mundial para o Caribe, Yvonne Tsikata.

Palácio do governo

O imponente palácio do governo do Haiti (à direita) desmorou em questão de minutos no terremoto de 7 graus de magnitude. O tremor afetou também cidades da região metropolitana próximas a Porto Príncipe, como Carrefour e Pattonville, além de Jacmel e Jeremie, onde vivem quase 2 milhões de pessoas.

 Fonte:
Diário de Canoas