Após nove meses, BC pára de subir juros
09/01/2009
O Banco Central encerrou ontem a mais longa série de alta de juros em sete anos, ao manter os juros básicos da economia em 19,75% ao ano por mais um mês. A decisão foi tomada ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que vinha elevando a taxa Selic havia nove meses.
Desde que o Copom passou a fixar mensalmente os juros, em 1999, não se registrava uma série de aumentos tão longa como essa. A decisão de ontem foi anunciada com uma nota divulgada no início da noite: “Avaliando as perspectivas para a trajetória da inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 19,75% ao ano”.
Embora a decisão tenha vindo no meio de uma crise política, a manutenção dos juros já era esperada por boa parte dos analistas do mercado financeiro, apesar de previsões semelhantes já terem sido feitas -e não concretizadas- em reuniões anteriores do Copom. Desta vez, porém, ganhou força a percepção de que a economia brasileira está num processo mais forte de desaceleração e um novo aperto monetário poderia agravar o quadro.
A reunião de ontem foi a primeira a ser realizada depois que o IBGE divulgou números sobre o nível de atividade econômica no primeiro trimestre. Na comparação com o último trimestre de 2004, a economia cresceu só 0,3%, o pior resultado desde o segundo trimestre de 2003 -no ano passado, o país cresceu 4,9%.
Tanto o consumo das famílias como os investimentos das empresas sofreram queda neste ano. Após a divulgação desses indicadores, a projeção do mercado para o crescimento da economia neste ano caiu de 3,50% para 3,12%, de acordo com levantamento feito pelo próprio BC. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a expansão deve ser de 2,8%.
Dentro e fora do governo, os números divulgados pelo IBGE foram percebidos como um sinal de que o aperto promovido pelo BC teria sido excessivo. Desde setembro, quando a taxa Selic estava em 16% ao ano, o objetivo dos aumentos de juros era, justamente, frear o crescimento do país.
Em várias oportunidades, a diretoria do BC manifestou sua preocupação com a possibilidade de o ritmo desse crescimento gerar inflação, dificultando o cumprimento das metas fixadas pelo governo. Neste ano, o objetivo é fazer com que a alta do IPCA não ultrapasse 5,1% -entre janeiro e maio, o acumulado é de 3,18%.
Documento divulgado após a reunião de outubro do Copom, por exemplo, já mostrava uma preocupação com o que o BC chamou de possíveis “pressões excessivas de demanda” -situação em que a procura por bens e serviços é maior do que a oferta, e as empresas são, então, levadas a reajustar seus preços para lucrar mais com o maior consumo.
Além do desaquecimento da economia, outros fatores favoráveis à estabilidade da inflação têm sido observados nos últimos meses e colaboraram para interromper a alta dos juros. A queda do dólar ajuda a conter preços como os importados e de combustíveis.
Ainda segundo os analistas consultados pelo BC, mesmo com a manutenção dos juros, uma redução significativa da taxa deve demorar para acontecer. A expectativa é que a Selic comece a cair em setembro, para quando se espera um corte de 0,25 ponto percentual. Por essas projeções, os juros devem chegar a 18% ao ano até dezembro próximo.
Folha de S.Paulo
NEY HAYASHI DA CRUZ
16/6/2005