Analistas revisam previsões de crescimento
09/01/2009
Produção industrial deve crescer perto de 7,0% este ano e evolução do PIB pode superar 4,0%.
A vigorosa recuperação da indústria brasileira, que deve ser confirmada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está levando à revisão das projeções de produção industrial e, consequentemente, do Produto Interno Bruto (PIB) para 2004.
O Instituto de Economia (IE) da UFRJ, em boletim divulgado ontem, estima uma nova taxa de crescimento da produção industrial para o ano na faixa de 7%, um recorde, e revisa o PIB de 4% para 4,3%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também está refazendo a taxa do PIB para algo próximo de 4%, ante os 3,5% anteriores e Paulo Levy, seu diretor, acredita que a indústria poderá crescer acima de 6%, ante os 4,4% estimados no início do ano.
“O desempenho do segundo trimestre foi surpreendente, achávamos que viria uma reação e por isso prevíamos em abril uma expansão do PIB trimestral do período em 3,8% ante o segundo trimestre de 2003. Mas, calculo que esta projeção já ficou superada em função do forte crescimento da própria indústria ao longo desse período e do desempenho das vendas do comércio, superior ao que imaginávamos, com continuidade da recuperação do consumo”, observou.
Para o diretor do Ipea/Rio esta retomada tem uma característica diferente das anteriores, na medida em que o efeito das exportações é superior ao de qualquer outro momento da economia brasileira. Ele também ressalta a redução do déficit em transações correntes por conta do desempenho expressivo da balança comercial. “Isto reduz a volatilidade dos choques externos e aumenta muito a confiança na economia, influindo na expectativa de investimento”.
Para ele, o efeito confiança também alonga o prazo de consumo de bens duráveis e estimula outros componentes, como a aquisição de não duráveis. Esta pode deslanchar agora, pois o mercado de trabalho começa a mostrar crescimento da ocupação e recuperação da renda real.
Por conta desse fator, Levy está otimista em relação à recuperação também do investimento, entendido como formação bruta de capital fixo. Ele considera que o nível médio de capacidade instalada da indústria – que saltou de 81,6% para 83,3% entre maio e junho, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) – é pico da série e é realmente expressivo. “Sinaliza o que a gente precisa, ou seja, está acontecendo investimento”.
O Ipea/Rio, como adiantou Levy, também revisou para cima sua projeção de crescimento da formação bruta de capital fixo este ano de 5,3% para 5,5% a 6%. E a taxa de participação dos investimentos no PIB pode chegar a 20%.
Caio Prates, economista do IE da UFRJ, observa, no editorial do boletim de conjuntura do instituto, que “já não cabe mais nenhuma dúvida de que a economia brasileira se encontra em franca recuperação e a um ritmo razoavelmente forte”. Até agora, constata ele, “a queda de apenas 0,5 pontos percentuais da Selic nos primeiros sete meses do ano não comprometeu a recuperação, que também não foi afetada pela turbulência dos mercados ocorrida no final de abril e meados de junho, como atestam o comportamento do câmbio e do risco Brasil”.
Entretanto, o economista ressalta que apesar de mais uma vez a economia estar demonstrando ser capaz de crescer mesmo com taxas de juros reais muito elevadas pelos padrões internacionais, há riscos para a continuidade desse crescimento no curto prazo.
Entre eles, Prates destaca como principal fator de incerteza o comportamento da inflação e da taxa de juros, pois teme que uma eventual alta da Selic pelo Banco Central nos próximos meses ou mesmo sua manutenção em 16% por um longo período, para conter os preços, acabe afetando a retomada. No longo prazo as preocupações são com a realização de investimentos suficientes para manter o crescimento, principalmente na infra-estrutura e se a economia é capaz de sair da alternância de períodos de expansão e retração que vêm marcando seu desempenho nos últimos anos.
Carlos Thadeu de Freitas Filho, responsável por inflação e juros no boletim do IE, calcula que se o Banco Central continuar a utilizar o mesmo modelo de política monetária usado desde 1999, com a adoção do regime de metas, a Selic poderá chegar a 17% em dezembro.
A projeção foi feita a partir de uma equação observada pelo BC durante as reuniões do Copom para fixar a taxa de juro básica da economia. A cartilha do BC, baseada nas metas de inflação estima que a cada 1% de desvio das expectativas inflacionárias em relação ao centro da meta o juro básico tende a subir entre 3% a 3,5%. Atualmente, o centro da meta de 2005 é 4,5%, o as projeções de mercado já apontam para 5,5%.
O vice-presidente da Sul América Investimentos, o economista Walter Mundell, também não tem dúvidas de que o crescimento este ano está “garantidíssimo”. Sua projeção aponta para um PIB de 3,9%. Mas, ele não tem dúvidas de que haverá mais inflação.
Ele lembra que os setores chamados não comercializáveis perderam participação nos índices de preços e vão buscar recomposição agora. A seu ver, a solução seria “ampliar o superávit primário ou reduzir a renda dos exportadores, atrasando o câmbio, o que não pode ser feito”, analisa. Como não crê que o governo vá fazer um corte maior de gastos, conclui que “vai haver mais inflação”. Nesse contexto, sua certeza, por enquanto, é a de que, pelo menos até o primeiro trimestre de 2005 os juros não caem e podem até subir.
Valor Online
6/8/2004