Analistas apostam em novo corte de 0,5 ponto na taxa de juro
09/01/2009
SÃO PAULO – Analistas de mercado acreditam que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve repetir o grau de parcimônia adotado no encontro anterior e aplicar um novo corte de 0,50 ponto percentual na reunião deste mês, levando a taxa Selic a 14,75% ao ano. A avaliação geral é de que o resultado do encontro, a ser divulgado após o fechamento de hoje dos mercados, levará em conta o bom comportamento da inflação e os riscos pontuais gerados pela volatilidade do quadro internacional.
Apesar do consenso, também há apostas em uma redução de 0,25 ponto percentual. Mesmo aqueles que acreditam na redução de 0,50 ponto não descartam a possibilidade de maior conservadorismo neste momento. Essa posição seria justificada não só pela recente piora do cenário geopolítico internacional e os efeitos sobre o preço do petróleo como também pela perspectiva de aquecimento da economia nos próximos meses e a incerteza em relação ao impacto do atual ciclo de baixa do juro sobre a economia.
Defende essa opinião o estrategista-chefe do banco BNP Paribas, Alexandre Lintz. Segundo ele, o Comitê deve reduzir o passo do corte de juro neste encontro e dar prosseguimento às reduções da Selic nas próximas reuniões. Lintz acredita que essa decisão estará baseada principalmente na defasagem da política monetária. Isso significa que o bom comportamento da inflação visto neste ano é resultado do aperto monetário anterior, mas, ao mesmo tempo, os indicadores de atividade industrial e comercial dão sinais de pressão de demanda. Esse descompasso diminuiu a precisão na condução do juro, o que requer maior gradualismo.
“Além disso, a volatilidade internacional ainda não deu sinais de redução e a cautela é necessária neste momento”, disse, fazendo referência ao vaivém dos ativos norte-americanos e as dúvidas geradas pelos indicadores econômicos daquele país. Lintz observou que é preciso considerar que o preço internacional do petróleo é outro fator de risco a ser ponderado pelos integrantes do colegiado. A commodity vem demonstrando forte alta nas últimas semanas devido à instabilidade no Oriente Médio, acentuada pelos ataques de Israel contra o Líbano, e à expectativa contínua de aumento da demanda pelo produto.
No entanto, esse conjunto de ressalvas sobre riscos inflacionários é percebido pelos agentes financeiros como pequenos para levar o BC a diminuir mais o ritmo de baixa do juro neste encontro. “O corte de 0,50 ponto é compatível com a parcimônia que vem sendo sinalizada nas últimas atas”, diz Pedro Jobim, economista-chefe do banco ING.
Segundo ele, embora o quadro externo seja um “componente extra de cautela”, não configura elemento suficientemente forte para alterar ou interromper o processo gradual de diminuição do juro básico.
Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, concorda com essa avaliação e também acredita em uma diminuição de 0,5 ponto percentual da taxa. Para ele, o Copom pode vir a diminuir o ritmo de cortes nas próximas reuniões, mas não nesta. “Trabalhamos com a taxa a 14% no final deste ano”, comentou, lembrando que isso incluiria mais três cortes de 0,25 ponto cada um até dezembro.
Rosa analisa que o cenário de atividade e de inflação ainda oferece condições para um corte maior no encontro de hoje. Embora concorde que a atividade industrial tende a se acelerar nos próximo semestre, ele crê que não há justificativa para diminuir o nível de corte da Selic para 0,25 ponto. “Se isso acontecer a curva toda de juros deve subir com força”, prevê.
O temor com uma possível reação desse tipo é um dos elementos que o colegiado deve considerar para votar em linha com as expectativas de mercado, expressou Wladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora. “Com as atuais dúvidas no cenário externo não é interessante adicionar volatilidade, que é o que aconteceria se fosse decidido uma redução de 0,25 ponto”, notou, explicando que é importante que o Copom tenha atitudes mais previsíveis para garantir os efeitos da política monetária no médio e longo prazo.
Em contrapartida, o economista da Fator lembrou que o aumento dos gastos públicos e a dinâmica mais acelerada da demanda, com recomposição salarial e elevação da taxa de emprego, podem gerar uma mudança de foco da política monetária do Copom para 2007, quando, segundo ele, o cenário para a inflação pode ser mais complicado. Caramaschi prevê que, depois de dezembro, os efeitos do petróleo alto, a safra agrícola e os efeitos do dólar sobre a balança comercial podem tornar 2007 um ano menos favorável.
Sem contar que o efeito dos atuais cortes de juros tende a refletir em um aumento de atividade ao longo do próximo ano. Esse impacto mais concentrado das próximas decisões do Copom sobre a inflação do ano-calendário de 2007 é um dos aspectos considerados pela corretora Concórdia em seu relatório. Apesar de esperar mais uma redução de 0,5 ponto percentual da Selic hoje, Elson Teles, economista da Concórdia, ponderou que nos próximos encontros essa questão deve levar o colegiado a ser um pouco mais conservador.
“Apesar da avaliação prospectiva favorável para a inflação, acreditamos que o Copom deverá sinalizar na ata que poderá aumentar o grau de parcimônia nos próximos encontros, justamente para preservar as importantes conquistas obtidas no combate à inflação até agora.”
Fonte:
Bianca Ribeiro
Valor Online