Análise: BC amplia apetite na compra de dólares

09/01/2009

SÃO PAULO – Com base nos dados do fluxo cambial de outubro, o mercado fez as contas e percebeu que, em pleno mês eleitoral, o Banco Central (BC) intensificou a compra de dólares no mercado à vista para conter a valorização do real. Em outubro, o BC comprou US$ 4,9 bilhões, na comparação com os US$ 1,7 bilhão de setembro, os US$ 4 bilhões de agosto e os US$ 2,8 bilhões da média mensal deste ano. Os economistas do Credit Suisse estimam compras acumuladas de US$ 30,2 bilhões neste ano, frente a fluxo líquido positivo de US$ 35,2 bilhões. Ontem, apesar de mais compras do BC, o dólar fechou com queda de 0,05%, a R$ 2,139. No ano, a moeda teve desvalorização de 8%.

” A liquidez internacional para mercados emergentes está acima da esperada ” , diz Alexandre Lintz, estrategista-chefe para América Latina do BNP Paribas. Segundo ele, apesar de indicadores díspares sobre o ritmo de desaceleração no crescimento da economia dos Estados Unidos na última semana, os preços do petróleo em torno dos US$ 60 o barril têm mantido baixas a inflação corrente americana e também as expectativas, acalmando os mercados. ” Apesar do PIB fraco e da queda na confiança dos empresários e dos consumidores nos EUA, a busca por rendimentos continua forte ” , diz. Ele calcula que as posições compradas em dólar do governo federal, considerando-se o mercado à vista e futuro, cheguem a US$ 30 bilhões.

Na outra ponta, os estrangeiros mantêm posições vendidas em dólar na Bolsa de Mercadorias & Futuros, de US$ 7 bilhões, somando o mercado de dólar futuro e de DDI (cupom cambial), bem abaixo do pico de US$ 15 bilhões em fevereiro, mas não muito inferiores às de US$ 8 bilhões registradas em abril. A razão: as apostas ainda são de queda nos juros básicos Selic e valorização do real. ” Se a liquidez internacional continuar elevada, essas são as perspectivas no curto prazo ” , concorda Lintz.

A maior parte do mercado acredita em corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, no dia 29, segundo a pesquisa ” Focus ” divulgada ontem pelo BC. Mas Lintz e Giovanna Rocca, economista da Unibanco, prevêem redução de 0,25 ponto percentual. A produção industrial de setembro, a ser divulgada hoje, pode alterar expectativas – o mercado espera queda de 0,3% a 0,5%. ” Os investidores vão ficar atentos também ao dólar e ao IPCA de outubro, que será divulgado na sexta-feira ” , afirma Lintz.

Ontem, o IPC de outubro da Fipe veio acima do 0,30% esperado – subiu 0,39%, por causa de pressão nos preços dos alimentos. A surpresa negativa provocou pequena alta nos juros futuros projetados em quase todos os vencimentos da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM & F). As taxas dos Depósitos Interfinanceiros projetadas para janeiro de 2007 tiveram alta de 0,01 ponto percentual, para 13,44% ao ano. O contrato para janeiro de de 2008 projetou 12,92% anuais, aumento de 0,02 ponto. Para o IPCA, as expectativas são de alta de 0,32% em outubro. ” A inflação só continuará contida se o dólar se mantiver fraco em relação ao real ” , comenta Lintz.

Ontem, mais uma vez o cenário internacional impulsionou a busca por risco e pelas moedas e títulos dos emergentes. As ações nos Estados Unidos se valorizaram em meio às notícias de aquisições alavancadas, com os principais índices (Dow Jones, Nasdaq e Standard & Poor ? s) subindo mais do que 1%. O risco-Brasil acompanhou o otimismo e caiu 0,47%, para 212 pontos básicos. Com relação ao iene, o dólar se valorizou pela quarta vez consecutiva, depois que o presidente do Fed (banco central americano) de Chicago, Michael Moskow, disse que é necessário elevar juros para conter a inflação nos EUA. Os títulos do Tesouro americano de vencimento em dez anos chegaram a registrar alta em suas taxas logo após a declaração, mas elas terminaram o dia estáveis, a 4,705% ao ano.

Fonte:
Cristiane Perini Lucchesi
Valor Econômico