América Latina bate projeções mas depende de commodities
09/01/2009
A América Latina teve um ano de forte crescimento em 2004. Quase todos os países da região que já divulgaram dados oficiais superaram as expectativas mais otimistas. Mas, se os valores são de nível asiático, a qualidade da expansão não o é, pois foi baseada sobretudo em exportação de commodities (agrícolas e petróleo). As projeções para 2005, embora inferiores, são boas, mas dependem da cotação dos produtos básicos.
A Venezuela apresentou 17,3% de crescimento; o México, 4,4%; e o Peru, 5%. A Argentina, por sua vez, repetiu o desempenho de 2003 e cresceu 8,8% em 2004, continuando o processo de recuperação do colapso econômico de 2001. O Brasil ainda não apresentou seus números oficiais, mas estima-se que o crescimento tenha ficado por volta de 5,2%.
“No caso argentino e no venezuelano outro fator deve considerado: os números são significativos porque refletem também a recuperação de uma fase excepcional de instabilidade política que, apesar dos problemas, não afetou os fundamentos econômicos mais saudáveis”, diz o economista Rogério Gonçalves, da Cepal.
A Venezuela passou por uma greve de petroleiros em 2002 que afetou sua produção e acabou se refletindo nos anos seguintes. Naquele ano e no ano seguinte, o PIB caiu 8,9% e 7,6% respectivamente. O país é o quinto produtor de petróleo do mundo e sua economia depende em grande parte da commodity. Menos de 3% de seu território é usado para a agricultura.
Mas o resultado de 17,3% de crescimento, mesmo que baseado na volátil alta do petróleo, superou em muito a projeção que o FMI fez em setembro passado, de 12,1%.
No Peru, a rejeição ao presidente Alejandro Toledo chegou a passar de 85% em 2003. Crises provocadas pela rebelião contra a tentativa de privatização de empresas elétricas no interior do país já haviam paralisado as atividades do governo por meses no ano anterior. Mesmo assim o crescimento vem se mantendo forte: 4,9% em 2002; 4,1% em 2003; e 5% em 2004, o melhor resultado desde 1997.
No caso mexicano, a paralisia política foi um fator menor. A economia em grande parte baseia-se na demanda dos EUA.
Tanto Peru quanto México ultrapassaram as expectativas do FMI feitas há poucos meses, que eram de 4,5% e e 4% respectivamente.
Mas é a demanda chinesa que vem puxando os números gerais latino-americanos. “A soja e o aço do Brasil, o cobre do Chile e os produtos alimentícios do Peru encontraram uma demanda excepcional na China”, lembra Gonçalves. “As previsões para 2005 são boas, mas baseadas na continuação da demanda global nos mesmos níveis de agora: a Argentina cresce 5,5%, o México 4,8% e a Venezuela alcança um patamar mais sustentável de 5%.”
O gerente-geral do FMI, Rodrigo Rato, que está em visita aos países andinos, mostra otimismo: “A América Latina pode esperar com segurança manter o crescimento sustentável pelos próximos dez anos”, disse numa entrevista coletiva em Bogotá, na Colômbia. Ele acrescentou porém que ainda há vários desafios a serem enfrentados na região, entre eles destacando-se a necessidade de reduzir os níveis das dívidas públicas através de políticas fiscais mais eficientes.
Valor Economico
18/2/2005