Alckmin admite que é candidato à Presidência

09/01/2009

Pela primeira vez, Geraldo Alckmin assume abertamente a candidatura à Presidência e fala sobre os seus planos para o Brasil

Por Maurício Lima e Sérgio Ruiz Luz

EXAME Normalmente avesso a perguntas mais diretas, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, surpreende na entrevista abaixo. Ele fala sobre sucessão presidencial, seus pontos de vista sobre o Brasil e sobre as denúncias de corrupção no governo Lula. A seguir, os principais trechos:

EXAME Por que o senhor quer ser presidente do Brasil?
Alckmin Acumulei uma boa experiência. Fui prefeito da minha cidade natal, Pindamonhangaba. Relatei projetos importantes, como o Código de Defesa do Consumidor, durante o período em que fui deputado federal. Tive a chance de ser co-piloto de um bom comandante, que foi o governador Mário Covas. Posso dizer que, com Covas, tive aulas práticas de administração pública. Política é destino. E cargo majoritário não é fruto de vontade pessoal, é decisão coletiva. Mas estou pronto.

EXAME Eleito presidente, o que faria para reduzir a carga tributária do país?
Alckmin Esse é um dos gargalos que comprometem o crescimento da economia brasileira. Temos carga tributária equivalente à do Reino Unido e à de outros países desenvolvidos e pouquíssima capacidade de investimento. Mesmo aqui na nossa vizinhança, encontramos cargas mais baixas na Argentina, no Chile, no México e na Venezuela. É evidente que temos de fazer um esforço para reverter isso. São Paulo tem reduzido os impostos estaduais, e aprendemos por aqui que, se não fizermos isso, estaremos empurrando uma parte da sociedade para a informalidade.

EXAME Todo mundo fala em reforma tributária, mas nada acontece. Por quê?
Alckmin Existe uma paralisia no governo federal. Temos um governo de baixa eficiência, que funciona de forma muito lenta — as coisas simplesmente não andam. Acho que a reforma tributária tem de avançar muito. Deveríamos discutir imposto de valor agregado, unindo ICMS, IPI, outros tributos; enfim, fazer uma reforma muito mais forte. E ir além. Fazer também uma reforma fiscal. É preciso discutir receita e despesa.

EXAME O senhor pode ser mais específico?
Alckmin São Paulo teve déficit orçamentário durante praticamente uma década. O governador Mário Covas assumiu e o baixou para 3% e, há dez anos, o estado não tem mais déficit. Ou seja: cortamos despesa. Mas, além disso, é preciso melhorar a qualidade do gasto público. Em São Paulo, diminuímos o gasto com pessoal. Antes, o comprometimento da receita com a folha estava em 49%. Fizemos cair para 44%. Outro exemplo é a questão das compras. O estado usa, obrigatoriamente, meios eletrônicos para comprar caderno para escola, remédio e até automóvel para a polícia. Já economizamos 2,8 bilhões de reais com essa iniciativa. Também é possível reduzir o número de ministérios e de órgãos públicos.

EXAME Qual seria a sua prioridade à frente da Presidência da República?
Alckmin Permita-me colocar essa resposta não na hipótese de eleito, porque cada coisa vem a seu tempo, e a definição do candidato do PSDB é só no ano que vem. Mas entendo que precisamos de reformas constitucionais, reformas estruturantes. A velocidade do mundo moderno é estonteante, e é preciso fazer reformas que permitam acompanhar essas mudanças. Uma delas é a reforma tributária, da qual já falamos, e que considero a maior prioridade. A outra é a reforma política. As nossas crises ocorrem também pela falta de reforma política. Um item como a fidelidade partidária, por exemplo, já facilitaria a governabilidade. Hoje, há 19 partidos com assento na Câmara Federal e outros 11 registrados. Acho que o número ideal é algo como cinco ou seis partidos.

EXAME Qual seria o momento mais oportuno para essas reformas?
Alckmin Isso precisa ser feito logo no primeiro ano. É o tipo de coisa que, se você não faz logo de cara, perde a oportunidade. Essas reformas constitucionais demandam maioria qualificada, duas votações na Câmara, duas no Senado. Não é fácil. Por isso, o grande impulso tem de ser feito no começo de governo. É o momento em que o Executivo está mais forte.

EXAME Qual o tamanho ideal do Estado brasileiro?
Alckmin O Estado provedor de tudo, executor de tudo, não existe mais. Acabou. O papel do governo tem de ser mais regulador e fiscalizador. Não podemos mais ficar na dependência de investimento estatal. Temos de fazer um grande programa de concessões e de parcerias públi co-privadas. E, nesse caso, a palavra-chave é confiança. Respeito a contratos e confiança entre as partes. As agências reguladoras têm um importante papel nessa relação. Mas, além disso, temos de estimular o empreendedorismo. Criar uma cultura e um ambiente receptivo à atividade empreendedora. O Brasil, infelizmente, tem uma cultura cartorial. É necessário desburocratizar, simplificar e ajustar os processos para que existam mais empresas, mais emprego e mais renda.

EXAME Como fazer o Brasil crescer a taxas maiores?
Alckmin O país é vocacionado para o crescimento. Temos hoje um mundo com cenário de “céu de brigadeiro”. Estamos perdendo oportunidades, andando meio de lado, sabe? Chamo isso de custo PT. Você passa 20 anos falando uma coisa e depois faz outra. Ou seja: a dose precisa ser mais alta para ter resultado menor. Não acredito numa fórmula mágica. O que precisamos é resolver o gargalo da questão de logística para facilitar as exportações. É tocar as reformas das quais já falamos. É dar à administração pública os mesmos critérios da iniciativa privada. O caminho é eficiência, eficiência, eficiência. Trabalho, trabalho e trabalho.

EXAME Como diminuir a corrupção?
Alckmin O governo precisa ter princípios e valores — e o exemplo vem de cima. A máquina percebe quando há um relaxamento da questão ética. O que se verificou no governo federal foi uma enorme confusão entre governo e partido. Alguns dizem que os fins justificam os meios. Sou contra. Os fins não justificam os meios, por mais nobres que eles possam ser. E, nesse caso, nem eram. Buscava-se apenas a perpetuação no poder. É preciso respeito ao dinheiro dos impostos da população. A absoluta austeridade na questão dos gastos públicos deve ser um princípio de toda a administração. Não é só não roubar e não deixar roubar, é muito mais que isso. É preciso ter controle sobre todo tipo de gasto.

EXAME O senhor acredita que o presidente Lula sabia da corrupção?
Alckmin É difícil afirmar o nível de conhecimento do presidente. Mas é óbvio que, do que se passava no governo, ele tinha conhecimento. Aliás, o ex-ministro Zé Dirceu falou recentemente: “Eu não fazia nada que não fosse do conhecimento do presidente. Mais: eu não fazia nada que não fosse autorizado pelo presidente”. O episódio do mensalão, aliás, acabou encurtando o governo e precipitando o debate eleitoral.

EXAME O presidente Lula é um candidato enfraquecido?
Alckmin O presidente da República nunca é um candidato fraco. Mas acredito que o segundo mandato ficou mais difícil.

EXAME As pesquisas mostram o prefeito José Serra com o dobro das intenções de voto que o senhor tem. Qual deve ser o critério de escolha do PSDB?
Alckmin O PSDB possui quadros excepcionais. O Serra é um deles. Mas temos o Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o Tasso Jereissati e o Marconi Perillo. Acredito que as eleições começam com o horário eleitoral gratuito, quando o horário da novela muda. Só aí o brasileiro começa a pensar em que gaveta deixou o título de eleitor. Várias viradas já aconteceram às vésperas da eleição. Portanto, pesquisa nesse momento tem um papel relativo. É muito mais o recall da eleição anterior do que um indicador fundamental da próxima.

Fonte:
Portal Exame
20/10/2005