Ajuda a países mais pobres cai pela metade em 40 anos
09/01/2009
A porcentagem da riqueza interna que os países mais abastados destinam aos países mais pobres caiu pela metade nos últimos 40 anos. Ela era de 0,48% entre 1960 e 1965. É hoje de 0,24%.
A informação foi divulgada ontem pela Oxfam, entidade sediada em Londres que monitora a evolução dos indicadores de saúde, educação, igualdade e pobreza.
Os países mais ricos fixaram na ONU, em setembro de 2000, a chamada “Declaração do Milênio”. Para atingir alguns objetivos em 2015, como acabar com a fome e a miséria, os mais ricos precisariam investir em ajuda externa 0,7% de suas rendas internas.
Apenas cinco deles atingiram ou superaram essa meta. São eles a Noruega, a Dinamarca, a Holanda, Luxemburgo e a Suécia. Os demais estão aquém, e o exemplo mais evidente são os EUA, com apenas 0,14% de sua renda destinada aos países mais pobres.
Uma comparação com os anos 60 é problemática, pois, na época, a URSS, os EUA e seus aliados mais ricos distribuíam dinheiro segundo a lógica da Guerra Fria.
A prioridade americana é hoje a guerra ao terrorismo. O “Financial Times”, comentando o relatório da Oxfam, diz que os EUA não destinam dinheiro aos países que mais precisam, mas àqueles com um papel estratégico no combate ao extremismo islâmico.
Um exemplo tirado do estudo de 91 páginas que a Oxfam publicou ontem: em 2002, um terço do aumento de verbas destinadas aos países mais pobres beneficiou o Afeganistão e o Paquistão, que estão na linha de frente da tentativa de neutralização da Al Qaeda.
A ajuda americana a Israel, Egito, Jordânia, Iraque, Turquia e Afeganistão totalizou, em três anos, uma quantia idêntica à encaminhada aos demais países mais carentes. A Oxfam diz que “a guerra ao terrorismo tira a ajuda de países que mais a necessitam”.
Com isso, entre os oito objetivos fixados há quatro anos pela Conferência do Milênio da ONU, apenas um -reduzir pela metade a pobreza- poderá ser atingido. Os demais estão comprometidos, como a universalização da educação primária, a redução da desigualdade entre os sexos e a redução da mortalidade infantil.
Segundo a Oxfam, US$ 100 milhões são pagos diariamente em juros de dívida externa pelos países mais pobres. Em termos globais, em 2003, os mais pobres pagaram US$ 39 bilhões de suas dívidas e receberam US$ 27 bilhões em programas de ajuda. Um país como Zâmbia gastou em juros o dobro do que em educação.
O distanciamento das metas do milênio significa que, até 2015, 45 milhões de crianças deverão morrer, 247 milhões da África abaixo do Saara continuarão a sobreviver com menos de US$ 1 por dia, 97 milhões de crianças não freqüentarão uma escola e 53 milhões de não terão saneamento.
Esse quadro se reverteria caso, nos países mais ricos, se gastasse o equivalente a US$ 80 por habitante em programas de auxílio.
Essa ajuda equivaleria a um quinto dos gastos dos ricos com defesa ou a metade do que gastam em subsídios agrícolas.
“Conforme os países ricos se tornam mais ricos, eles estão doando menos, o que é um escândalo que precisa ser revertido”, diz Barbara Stocking, diretora da Oxfam.
Folha de Sao Paulo
Com agências internacionais