Adelino Colombo: o Brasil está doente, mas não vai morrer

24/08/2015

Ele começou a vender aparelhos de TV logo que a novidade surgiu, de porta em porta. Aos 84 anos, segue no comando de uma rede de 246 lojas espalhadas pela Região Sul. Adelino Colombo confessa que não se vê longe do comando. Até já tentou, contratando executivos, mas depois de certo tempo retomou a tarefa. Em julho, um dos mais promissores, Rodrigo Piazer, também se desligou. Haverá substituição, mas só em 2016, mesmo que isso custe horas a mais de trabalho. Colombo conversou com a coluna +Economia na semana passada, quando o frio ensaiava um retorno. Ele gostou, porque era a chance de reduzir o estoque de aquecedores? Que nada. 

— Tenho ódio do frio. Gosto do verão, para andar de bermuda, à vontade — devolveu.  Era assim que estava semanas antes quando, pela primeira vez, tentou fisgar salmões no Chile. Neste ano complicado, nem a pescaria, com o fiel parceiro Paulo Bellini, da Marcopolo, rendeu. 

— Foi interessante, mas não pegamos nada.

O senhor sempre foi otimista em períodos difíceis. Está conseguindo se manter assim? 

Não está fácil. Tivemos muitos problemas no passado, a inflação era 30%, 40% por mês, corte de três zeros na moeda, congelamento de preços. Vamos superar. Essa crise é mais política, econômica e de confiança. E não se sabe quando termina. Na empresa, não cortamos investimentos. Vamos abrir uma loja neste mês, mais três no próximo, pensamos em outros pontos. Infelizmente, tive de reduzir parte do meu pessoal, em certos setores. E fazer um corte profundo de despesas. Não estamos gastando se não precisa, mas tocando o negócio. O Brasil está doente, mas não vai morrer. 

O senhor mencionou características da crise, como a questão política e de confiança. Em termos de gravidade… 
(interrompe) 
Ah, é disparado a pior de todas. A inflação era alta mas a vida continuava, tudo era indexado. Pessoal comprava, a gente financiava com 38% de juro ao mês. O mercado, os negócios não paravam. Estive em Porto Alegre outro dia e me assustei. O rapaz da garagem onde estaciono disse que tem cem carros a menos por dia. Em todos os lugares está assim, restaurante, supermercado, farmácia. É uma crise profunda. 

O senhor disse que não se vê o fim da crise, mas dá para ver quando para de piorar? 

Acho que vai chegar a um ponto em que o mercado vai fazer a sua parte, não vai mais dar bola para essa situação, o pessoal volta a consumir. O que assusta é o desemprego, é o inferno. Mas podemos fazer como a Itália, que começou a se desenvolver e deixou o governo de lado, com suas crises, a Máfia. Acho que vamos dar a volta. A nossa presidente deve terminar o mandato, mas com muita dificuldade. O país não está em boas condições, olha o que é o nosso Estado, é coisa de chorar. 

Está afetando as vendas? 

Está batendo feio. Até que não perdemos tanto de faturamento. Até o dia 19, estamos com 8,7% abaixo do ano passado. Mas como a nossa previsão era crescer 10%, estamos na verdade 18% abaixo. Isso representa muito no resultado final, porque as despesas e os aluguéis não baixaram, a energia subiu. 

De que tamanho foi o corte de pessoal na rede? 

Foi triste. Tinha mais ou menos 5 mil (funcionários), foram 160, 180. Só o excesso mesmo. 

Durante essa fase de dificuldades, o diretor-superintendente da rede deixou o cargo. A saída tem relação com a crise?
Não, ele saiu faz um mês. Foi porque vai fazer um negócio solo. Ele é oriundo do setor de calçados, e isso não saiu da cabeça dele. Ele até me convidou para ser sócio, mas tenho que chega, tenho de cuidar do que eu tenho. 

Está buscando substituto?

Sim, mas não é para agora. Estou deixando para o ano que vem. Tenho uma boa diretoria, a gente vai tocando o negócio. 

Está trabalhando mais?

Eu? Um pouco mais, sim (risos). Eu saía mais cedo, agora estou saindo um pouco mais tarde. Tenho dito a meus amigos o seguinte: importante é quando a gente faz o que gosta, não se estressa. Não canso, não brigo com ninguém, vou tocando o dia a dia. Amo o que eu faço. 
E tem aquela pergunta que a gente sempre faz: tem aparecido comprador para a Colombo? 

Olha, ultimamente não. Há um, dois anos, sim. Hoje, se eu quiser vender, ninguém compra (risos). Este ano, em novembro, eu completo 68 anos, mas não é de idade, é de trabalho. Eu não saberia viver sem minha empresa. Minha grande preocupação é a perpetuação, com todos os problemas, com a concorrência, que é uma loucura. Mas é assim mesmo, tem de ter condições de resolver os problemas, ser criativo. O que vale é que a gente tem saúde. Sou uma pessoa que não durmo sem rezar, agradecer a Deus. 

E enquanto durar essa situação, qual é a estratégia? 

Se parar é pior. Vamos discutir promoções especiais para mexer um pouco no mercado. Não parei com propaganda, publicidade, ao contrário, estou investindo mais em publicidade. Se parar é pior.
A Colombo vende por carnê? 

Sim, por volta de 30%. O valor maior é no cartão de crédito. 
A inadimplência aumentou? 

Sim, tem um aumento, mas não é assim assustador.

Fonte: zh.clicrbs.com.br