Acordo entre Mercosul e União Europeia é fundamental para economia brasileira
15/06/2015
A União Europeia reluta em marcar uma data para troca de ofertas de liberalização de comércio entre ela e o Mercosul sem que haja maiores definições sobre como seria este acordo. Mas o esforço do governo brasileiro em acertar uma decisão já foi muito bem-vindo, aponta o diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Thomaz Zanotto, em conversa com o JB. Uma vez que se trocam as ofertas de negociação, ainda levaria um ou dois anos para o acordo entrar em vigor. Trata-se então de um projeto de longo prazo, mas fundamental para a economia do país e para acompanhar as novas regras que estão se desenhando no comércio internacional, considerando outros acordos de livre comércio como a Aliança do Pacífico ou a parceria Transatlântica entre Estados Unidos e Europa.
Os países do Mercosul poderão em breve começar a negociação para um acordo comercial com a União Europeia. A presidenta da República, Dilma Rousseff, disse nesta quarta-feira (10) que as duas partes vão apresentar em breve suas propostas para aumentar o fluxo de comércio de mercadorias entre as regiões.
Dilma chegou a fixar a data de 18 de julho para troca de ofertas, mas a comissária europeia do comércio, Cecilia Malmström, avaliou na quinta-feira (11) que os dois lados ainda não estavam prontos para os acertos finais, para definir "garantias sobre o nível de ambição" das ofertas. Uma nova reunião estaria sendo cogitada a partir de outubro, para tentar definir uma data. Zanotto salienta que a Europa está esperando uma posição mais clara por parte do Mercosul sobre como o acordo lidaria com o cenário. Ele destaca também que o próprio governo brasileiro disse que poderia se avançar em dois tempos, em declarações no dia 21 de maio, quando esteve com o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez. O presidente uruguaio declarou na ocasião que o acordo com a União Europeia é de “fundamentalíssima importância” para o Mercado Comum do Sul. “Continuamos mantendo firmemente o processo de integração regional. Mas, ao mesmo tempo em que valorizamos e queremos resgatar e fortalecer o Mercosul, também pretendemos adaptar o Mercosul à realidade política internacional, à realidade econômica e comercial internacional”.
Em 2013, a Fiesp já havia apresentado essa proposta de integração, "de forma muito veemente". Uam vez trocadas as ofertas de negociação, pode levar de um a dois anos para que o acordo seja implementado, há um cronograma de implementação, explica Zanotto. "É um negócio de longo prazo, mas fundamental, no nosso entender, para a economia brasileira aumentar [sua força]." São muitos os aspectos positivos de um acordo entre Mercosul e União Européia, indica o diretor da Fiesp. Um deles é a possibilidade de integração com áreas do mundo que têm maior desenvolvimento tecnológico e de inovação que o Brasil, caso dos países europeus, da América do Norte e dos países do Japão.
A integração com países desenvolvidos também é fundamental para o desempenho do PIB brasileiro. O que tem estado cada vez mais claro, diz Zannoto, é que estamos passando da fase de crescimento puxada pelos países em desenvolvimento, para uma em que, de fato, o G7 (Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Japão) é que vai liderar o movimento ascendente, salvo alguns casos específicos, como da Índia e da China, que ainda devem registrar crescimento um pouco maior do que a média mundial. Outro aspecto "muito importante" é o andamento de forma avançada de grandes acordos envolvendo diversos países, como no caso do acordo entre os Estados Unidos e países do anel asiático e o avanço do Transatlantic Initiative entre Estados Unidos e União Européia. Nesse cenário, estão sendo negociadas regras que vão efetivamente reger o comércio mundial, negociações que, no momento, o Brasil está ausente.
"As regras [que estão sendo negociados em acordos de comércio pelo mundo] estão ganhando um peso cada vez mais maior, maior até do que tarifas, haja visto dificuldades para exportar carne para a China, e outros produtos para Europa, para a Rússia, problemas relacionados a restrições sanitárias, por exemplo", alerta Zanotto. Seja em relação dar um upgrade em termos de tecnologia e inovação para a indústria, seja em relação a negociação das regras, seja a questão de dar mais competitividade para a economia brasileira, que hoje sofre de "problema sistêmico de competitividade", o acordo entre Mercosul e União Europeia seria então muito bem-vindo. "Como esses acordos levam muito tempo, precisamos estar engajados, nós já perdemos bastante tempo afastados desse processo. Essa guinada da Dilma é bem vinda", afirma Zanotto, que elogiou também a tendência da visita da presidente aos Estados Unidos.
Fonte: Jornal Do Brasil