A mamona não foi sustentável

18/07/2008

EXAME A mamona, esta plantinha simpática que aparece na foto ao lado, tornou-se famosa nos primeiros anos do governo Lula por ser o símbolo do programa nacional do biodiesel.

Foi graças à mamona que a Brasil Ecodiesel, primeira empresa a iniciar a produção em escala industrial, tornou-se uma espécie de xodó do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve em quatro das cinco inaugurações de suas fábricas desde 2005.

Naquela época, a Brasil Ecodiesel prometia ser uma potência do biodiesel, produzindo com base na agricultura familiar e em matérias-primas alternativas, como mamona e girassol. Mas as promessas não se cumpriram.

Nos últimos meses, a estrela do biodiesel brasileiro mergulhou numa crise que a transformou num problema não só para seus executivos mas também para o mercado de combustíveis e o próprio governo. Por não cumprir os contratos de entrega do biodiesel vendido nos leilões da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), a Brasil Ecodiesel está a um passo de ser excluída das próximas licitações federais.

Além disso, diversas falhas de documentação podem fazê-la perder o selo do governo que dá isenções tarifárias e acesso privilegiado aos leilões. Pressionada pela alta na matéria-prima e pelos baixos preços que estabeleceu para seu produto nos leilões, a Brasil Ecodiesel tem vivido os últimos seis meses com problemas de caixa — e de credibilidade. Nos últimos 12 meses, suas ações já perderam 70% do valor e a empresa vem tendo dificuldade em rolar suas dívidas.

 

Na origem dessa situação estão, principalmente, erros de estratégia. Primeiro, a Brasil Ecodiesel apostou na formação de uma rede de mais de 120 000 agricultores familiares dispersos por todo o país e distantes dos maiores mercados consumidores. Seria o equivalente a administrar, sozinha, uma rede comparável à da cadeia inteira de produção de fumo no Brasil, que tem 170 000 produtores.

 Além disso, diferentemente de suas principais concorrentes, que compram matéria-prima de grandes cooperativas agrícolas, a companhia decidiu financiar diretamente os agricultores. Com o perdão do trocadilho, o uso da mamona também não se mostrou sustentável. A alta nos preços da planta fez com que 60% dos agricultores nordestinos que fornecem o produto à Brasil Ecodiesel simplesmente vendessem a quem pagasse mais caro, ignorando os contratos com a empresa.

Para completar, a soja, base para 80% do biodiesel produzido no país, teve alta de mais de 50% desde o início do ano, o que implodiu a equação financeira da Brasil Ecodiesel. Em novembro, a empresa ganhou contratos para vender o combustível por 1,86 real o litro, preço considerado insustentável. “Ninguém entendeu como eles ofereceram isso. Só o litro do óleo da soja já tornava esse preço inviável”, diz um concorrente.

A Brasil Ecodiesel justificou a decisão pelo caráter estratégico do leilão. “Sabíamos que tais preços poderiam gerar baixa rentabilidade, mas as vendas eram estrategicamente importantes para a consolidação do setor. Diversas outras empresas fizeram a mesma avaliação que nós”, afirmaram os executivos da companhia, em nota enviada a EXAME.

 

Fonte:
Revista Exame