A agonia da educação brasileira
09/01/2009
Todos os dias, por meio de diferentes meios de comunicação, assistimos à crise social vivida pelo Brasil, principalmente por conta da baixa geração de empregos nos diferentes setores da economia.
Enquanto o governo lança mão de programas sociais paliativos e pouco eficazes, além de tentativas tímidas para estimular o ridículo crescimento econômico do país, a educação brasileira, que parecia ter chegado ao fundo do poço, tem nos mostrado a cada ano que é sempre possível piorar mais.
Evidência irrefutável disso foi dada esta semana pelo Ministério da Educação com a divulgação do desempenho dos alunos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2006. Os dados refletem, de forma bastante clara, a lamentável situação do ensino médio por todo o país, onde a média de acertos foi de apenas 36% na prova objetiva e 52% na redação, um resultado pior que o registrado em 2005 que já foi, por sinal, péssimo: 39% na prova objetiva e 56% na redação, e que tem piorado a cada ano. Ou seja, se o Enem fosse uma prova escolar, os participantes estariam reprovados na prova objetiva com um desempenho sofrível e apenas uma minoria deles passaria na redação.
Os dados mostraram também que, em todos os Estados da União, sem exceção, a média dos alunos provenientes das escolas públicas foi bastante inferior à obtida pelos estudantes de escolas particulares, as quais, por sua vez, raramente superaram 60% de acerto na prova objetiva. Cumpre lembrar que o quadro gravíssimo observado no ensino médio implica também o comprometimento direto da qualidade do ensino superior.
A fraquíssima formação dos alunos no ensino médio, bem como a indiscriminada autorização para abertura de “universidades” com qualidade de ensino questionável, aliadas ao “mercantilismo” de vários cursos de graduação têm sido (concomitantemente à perda do poder aquisitivo da classe média que a cada ano é esmagada por uma carga tributária astronômica e crescente) fatores decisivos também para as crises financeira e humana pelas quais passam universidades particulares sérias que detêm estrutura adequada e prezam pela boa formação profissional como a PUC (Pontifícia Universidade Católica) e a Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), por exemplo.
Tal situação atinge não diretamente no aspecto econômico, mas, principalmente humano, as universidades públicas que, a exemplo das particulares, recebem a cada ano uma quantidade cada vez maior de alunos despreparados para freqüentar um curso superior por não terem recebido a formação básica suficiente, o que muitas vezes os impede até mesmo de se expressarem de forma coerente.
Apesar de muitas universidades poderem dispor de estrutura física adequada e corpo docente qualificado, é visível a dificuldade com que estas se deparam para formar profissionais com o nível de qualidade de que o nosso país precisa, não apenas para seu crescimento econômico, mas também social e cultural.
O governo federal divulga, por meio de falsas e caras propagandas televisivas, que o cidadão brasileiro está tendo cada vez mais acesso ao ensino superior, mas fecha os olhos ou finge não ver que a qualidade de muitas dessas vagas que estão sendo abertas e, obviamente, de muitos dos alunos que irão preenchê-las é extremamente duvidosa.
Como se observa, é necessário que a nossa sociedade se conscientize o mais rápido possível sobre toda essa camuflagem estatística que nos é imposta a cada dia para que urgentemente se encontrem caminhos concretos capazes de reverter essa lastimável situação da educação brasileira que há anos tem caracterizado os ensinos fundamental e médio e que, agora, ameaça de forma gravíssima o ensino superior.
Além disso, não podemos nos esquecer jamais de que os alunos que estão sendo enganados pela péssima qualidade do ensino médio público e por muitas instituições mercantilistas de ensino superior, que anunciam mensalidades de cursos como se fossem ofertas de supermercado, serão profissionais com os quais teremos, inevitavelmente, que tomar contato em um futuro bem próximo.
Alexandre D. Martins Cavagis é PhD em medicina pela Universidade de Groningen, Holanda, doutor e mestre em bioquímica pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e professor universitário e de ensino médio .
Fonte:
Jornal da Piracicaba