São Paulo recebe mostra de cinema

31/12/2005

A Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria de São Paulo realizou de 18 a 24 de novembro a 1ª Semana de Cinema Contemporâneo Italiano no Cinemark Shopping Iguatemi, em São Paulo. Trata-se de uma mostra do cinema italiano atual, cuja temática reflete a realidade do país no século XXI. A nova geração do cinema italiano aborda, principalmente, temas cotidianos e urbanos da Itália, enfatizando os problemas econômicos, envelhecimento da população, questões raciais, discriminação entre outros.

Muitos críticos avaliam a produção dessa nova geração como uma volta ao neo-realismo italiano. Dos oito filmes da programação, seis são inéditos no Brasil e apenas ?Um Coração para Sonhar? (2002), de Pupi Avati, foi exibido em circuito comercial.

Um dos destaques da mostra foi o filme ?Violação de Domicílio? (Private ? Itália ? 2004), de Saverio Costanzo, indicado pela Itália para concorrer como melhor filme estrangeiro ao Oscar e retirado da disputa por ser falado em iídiche e palestino. Segundo a Academia de Hollywood o filme deve ser falado na língua do país que o representa. Private ganhou vários prêmios, entre eles, o Leopardo de Ouro do Festival de Cinema de Locarno 2004 (Suíça); o Nastro d’Argento, em 2005, Prêmio da Imprensa Italiana; David di Donatello, Prêmio da Academia de Cinema Italiano 2005; e Globo d’Oro, Prêmio da Imprensa Estrangeira 2005.

Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Luiz Carlos Merten e publicada no Caderno 2 do Estado de São Paulo, o Diretor de Private , Saverio Costanzo, conta sua experiência em 2001 na Faixa de Gaza a qual o levou a escrever um documentário sobre o Oriente Médio quando localizou a casa que o impressionou. Ficava bem na linha de fogo e pertencia a um palestino que se recusava a abandoná-la. Preferia colocar sua vida (e a de toda a família) em risco, em nome de um princípio – sair seria dar razão aos israelenses, reconhecer que aquele território era deles. Os israelenses usavam a casa como base. A família resistia. Costanzo percebeu o potencial dramático e a força metafórica da situação. Fez Private.

Saverio contou ainda sobre a polêmica gerada quando a Itália indicou o seu filme para concorrer às indicações do Oscar como melhor filme estrangeiro e não acredita que a Academia o tenha recusado pelo tema polêmico e que tentou ser o mais realista possível. “Depois do 11 de Setembro, não existem mais conflitos localizados. A situação no Oriente Médio interessa a mim, na Itália, a vocês, no Brasil”.

Foram apenas 8 filmes exibidos durante uma semana e que ofereceram um panorama da diversidade do cinema italiano atual. Fizeram também parte da programação:

?Depois da Meia-Noite? (Dopo Mezzanotte ? Itália ? 2003), de Davide Ferrario – conta a história de um guarda-noturno que encontrou uma espécie de casa em um local abandonado dentro do edifício, e ali passa os dias quando não trabalha. Mas a Mole também é um Museu de Cinema e, da meia-noite em diante, se transforma no reino de Martino, que vive como em um mundo à parte. ?Um Coração para Sonhar? (Il Cuore Altrove ? Itália -2002), que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2003, conta a história de um homem de 35 anos dedicado aos estudos, tímido e sensível, é mandado pelo pai, um homem muito prático e atraído pelas mulheres, e ainda alfaiate do Papa, a ensinar em um colégio de Bolonha com a esperança de que viver em uma cidade emancipada o leve a encontrar finalmente uma esposa, garantindo à família a desejada descendência. ?As Conseqüências do Amor? (Le Conseguenze dell?Amore ? Itália ? 2004), de Paolo Sorrentino – Todo homem possui um segredo inconfessável. Anos de silêncio e de cigarros, anos repetitivos entre o hall e o bar do hotel, nenhum contato com o mundo. Sozinho. Um homem perdido. Perdido há anos a contemplar escondido alguma coisa. Mas o que? E por que? Enfim, quais são os segredos inconfessáveis? ?Uma Viagem Chamada Amor? (Un Viaggio Chiamato Amore – Itália ? 2002), de Michele Placido, que participou da seleção oficial do Festival de Veneza 2002, conta a vivência humana e sentimental da narradora e poetisa Sibilla Aleramo repercutiu através de um ciclo narrativo e temporal, que vai desde da adolescência à maturidade, considerando o biênio 1916-18, período no qual a mulher conheceu e amou o poeta Dino Campana. São esses os anos mais intensos e atormentados da passional e descontínua relação entre os dois… ?Mas que culpa temos nós?? (Ma Che Colpa Abbiamo Noi? ? Itália ? 2002), de Carlo Verdone – Oito personagens ligados entre si por um elemento comum, a análise de grupo, oferecem uma visão das fraquezas e fragilidades, mas também da vontade de reagir e de mudar que caracterizam os nossos dias. ?Diga com as minhas palavras? (Dillo Con Parole Mie ? Itália ? 2002), de Daniele Luchetti ? A protagonista, 30 anos foi recentemente abandonada pelo noivo, sua sobrinha, 16 anos, acabou de perder a oportunidade de passar as férias com seus amigos. Ambas solitárias e desesperadas decidem partirem juntas para a Grécia, onde inesperadamente encontram surpresas… ?A Febre? (La Febbre ? Itália ? 2005), de Alessandro D’alatri ? conta a história de um geômetra que tem no coração um sonho: abrir um local com os próprios amigos. Além do mais, quem nunca sonhou em abrir um? Todo o seu entusiasmo, as suas idéias, os seus projetos serão atingidos pelo mundo a sua volta como uma doença contagiosa que precisa ser curada com urgência. Assim se depara na cômica vida da burocracia…

Câmara Ítalo-Brasileira abre semana italiana no Cinemark – Iguatemi

Os filmes Private e La Febbre inauguraram a noite da estréia no dia 17 de novembro nas novas salas do Cinemark no Shopping Iguatemi, São Paulo, a Primeira Semana do Cinema Contemporâneo Italiano. Estavam presentes 250 convidados entre eles personalidades da comunidade italiana, diretores e produtores de cinema, distribuidoras no Brasil, jornalistas e formadores de opinião. ?Acredito que iniciativas como estas são fundamentais para implementar sempre mais o nosso cinema? ? declarou o presidente da AIP ? Filmitalia, Giovanni Galoppi, agradecendo a contribuição da Câmara Ítalo-Brasileira na organização do evento.

O presidente da AIP ? Filmitalia também confirmou a realização da Segunda Semana de Cinema Contemporâneo Italiano em 2006, junto sempre, com a organização da Câmara Ítalo-Brasileira de São Paulo – ?O interesse do público presente, principalmente de notáveis jornalistas, produtores e distribuidores, nos convenceram em dar viabilidade a esta iniciativa para o próximo ano, criando novas relações institucionais e profissionais favoráveis à distribuição de filmes italianos no Brasil e a oportunidades de co-produção?.

A semana foi encerrada com um jantar de confraternização oferecido pela VIA BLU, com a presença de importantes nomes da comunidade italiana, de distribuidores e produtores de cinema no Brasil.

Durante o final de semana que aconteceu a mostra de filmes italianos visitaram o Cinemark cerca de 600 pessoas.

A 1ª Semana de Cinema Contemporâneo Italiano é uma parceria da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria, da Assocamerestero (Associação das Câmaras Italianas no Exterior) com a AIP – Filmitalia/Cinecittà, organização de capital misto que trabalha na promoção do cinema italiano.

O acordo tem o objetivo de difundir a cultura italiana através de obras audiovisuais que descrevam a Itália de hoje e a cultura em que as produções italianas se realizam; e aumentar a penetração e popularidade do cinema italiano ao grande público brasileiro, criando espaço para o desenvolvimento econômico do setor.

Erica C. Bernardini