Boletim Econômico do Banco Central Italiano – Abril de 2012

08/05/2012

A economia mundial desacelerou no quarto trimestre de 2011 – O ciclo de crescimento da economia mundial perdeu força no último trimestre de 2011. A desaceleração parece ter estancado no início deste ano: de modo geral, as expectativas de crescimento estabilizaram. Nos países desenvolvidos, a expansão da demanda agregada é limitada pelo processo de redução da dívida, tanto pública como privada.

 

O Eurossistema tem assegurado de forma decisiva a liquidez dos bancos – A fim de assegurar o crédito à economia e combater as dificuldades de financiamento dos bancos, induzidas por tensões no mercado de dívida soberana e agravadas pela grande quantidade de títulos com vencimento na primeira parte de 2012, o Eurossistema realizou, em dezembro e em fevereiro, duas operações de refinanciamento de três anos à taxa fixa de 1% e com plena satisfação da demanda; foram também relaxadas as exigências de elegibilidade da garantia e reduzida pela metade a taxa de reserva obrigatória (depósito compulsório). O montante líquido de fundos injetados no sistema foi de aproximadamente 500 bilhões, que chegaram diretamente a um elevado número de bancos.

 

As tensões sobre o mercado de dívida soberana diminuíram no primeiro trimestre… – Graças à ação do BCE, às medidas tomadas por alguns governos, especialmente o italiano, e ao acordo firmado sobre a assistência financeira à Grécia, as tensões nos mercados financeiros diminuíram consideravelmente nos primeiros meses do ano em curso: se reduziram significativamente os prémios de risco dos títulos do governo, os spreads nos mercados interbancários e os prêmios sobre CDS bancários.

 

…mas reavivaram parcialmente em Abril – Em Abril, os spreads dos títulos do governo voltaram a aumentar significativamente, mas ainda permaneceram bem abaixo dos picos alcançados em Janeiro. Voltaram a se difundir entre os operadores do mercado preocupações com o futuro de alguns países da zona do euro. Os temores de uma desaceleração mais acentuada do crescimento global aumentaram a preferência por títulos dos países considerados mais seguros.

 

A queda da atividade econômica na zona euro abrandou no primeiro trimestre – Na zona do euro, com base em indicadores conjunturais, a contração da atividade económica abrandou no primeiro trimestre deste ano. O indicador €-coin calculado pelo Banco Central da Itália vem apontando uma melhora gradual a partir do ponto mais baixo atingido em dezembro passado, chegando em março a valores de pouco negativos. A inflação ao consumidor acumulada em doze meses caiu em março para 2,6%, face a 3% no último trimestre do ano passado.

 

Na Itália, a queda no PIB continuou … – No quarto trimestre de 2011, o PIB da Itália diminuiu 0,7% em relação ao período anterior, refletindo a queda da demanda interna, compensada apenas parcialmente pela contribuição positiva do comércio exterior resultante do declínio das importações e da estabilidade das exportações. Para os primeiros meses de 2012, a tendência dos indicadores conjunturais preanuncia uma nova redução da atividade produtiva. As exportações se mantiveram substancialmente estáveis nos dois primeiros meses do ano.

 

…embora houvesse sinais de estabilização – A pesquisa realizada em março pelo Banco da Itália em colaboração com Il Sole 24 Ore junto a empresas e os indicadores qualitativos obtidos a partir das sondagens prenunciam um abrandamento, ainda que leve, do quadro crítico da economia. Surgiram, em particular, avaliações mais favoráveis sobre a demanda externa.

 

A recuperação do emprego estagnou nos últimos meses de 2011 – Após dois anos de contração, em 2011 o mercado de trabalho italiano tinha mostrado sinais de recuperação, com um aumento, em média, da ordem de 0,4% no número de empregados e uma redução acentuada nas horas autorizadas de suplementação salarial assegurada pela Cassa Integrazioni Guadagni (Fundo de Garantia Social). No último trimestre do ano, no entanto, a demanda de trabalho voltou a estagnar, frente a uma dinâmica de oferta ainda mantida. A fraca demanda continuou nos primeiros meses de 2012: a taxa de desemprego aumentou e as horas autorizadas de suplementação salarial de CIG (Fundo de Garantia Social) voltaram a crescer.

 

A dinâmica da renda ainda freia o consumo – o comportamento dos gastos das famílias é marcado pela cautela; os gastos diminuíram devido à dinâmica do rendimento disponível e às condições do mercado de trabalho. O consumo manteve-se fraco nos últimos meses, sobretudo no segmento de bens duráveis. O investimento empresarial é afetado pelas grandes margens de capacidade ociosa e pela fraca demanda interna, bem como pelas tensões, ainda que atenuadas, sobre o financiamento.

 

O núcleo da inflação permanece moderado. Os preços são afetados pelas cotações da energia e pelos impostos indiretos – A inflação de preços ao consumidor, que ficou pouco acima de 3% no último trimestre de 2011, permaneceu estável na média dos três primeiros meses deste ano. O núcleo da inflação, excluídos os componentes mais voláteis, manteve-se em torno de 2%. A tendência dos preços reflete principalmente um aumento dos bens de energia e dos impostos indiretos, que se reflete nas previsões dos profissionais sobre a dinâmica dos preços em 2012, revistas em alta nos últimos meses.

 

As dificuldades de acesso ao crédito foram combatidas com a oferta de liquidez do BCE – Em dezembro, houve uma contração nos empréstimos às empresas; as pesquisas sugerem uma restrição da oferta de crédito, associada a problemas relacionados com a captação dos bancos no exterior. As operações de refinanciamento realizadas pelo BCE evitaram um cenário pior: devem permitir uma normalização da oferta de crédito nos próximos meses. Sinais nesse sentido vêm das pesquisas mais recentes feitas junto às empresas. A fraca demanda e o aumento da insolvência dos mutuários continuarão a influir na dinâmica do crédito nos próximos meses.

 

Os bancos tiveram uma queda em sua rentabilidade, mas reforçaram o patrimônio e recuperaram o acesso aos mercados – A deterioração da situação conjuntural repercutiu sobre a qualidade do crédito e sobre o fluxo de inadimplência nos empréstimos para as empresas. Em 2011, a rentabilidade dos maiores grupos bancários piorou, mas seu patrimônio de melhor qualidade continua a se fortalecer. Em dezembro, a alavancagem destes grupos foi significativamente inferior à média de uma amostra de grandes bancos europeus. Alguns bancos italianos recuperaram o acesso aos mercados grossistas, voltando a emitir obrigações não garantidas nos mercados internacionais.

 

Em 2011 o déficit público diminui, espera-se uma grande melhoria para este ano – Em 2011, o déficit nominal do setor público foi de 3,9% do PIB, o que representa uma queda de 0,7 pontos percentuais em relação a 2010. Descontadas as despesas com juros, registrou-se um avanço de um ponto percentual do PIB. Esses avanços limitaram a 1,5% o aumento na relação entre a dívida e o PIB, que atingiu 120,1%. Como resultado das medidas corretivas adotadas no segundo semestre de 2011, a relação entre a dívida e o PIB deve começar a encolher em 2013; para 2012 está prevista uma grande melhora nas finanças públicas, apesar da queda esperada do PIB.

 

A política econômica tem como meta criar condições favoráveis ao crescimento, mas os riscos continuam altos na Europa e no mundo – Continua muito alta a incerteza em relação ao futuro da economia. A possibilidade de que uma recuperação tenha início a partir do final do ano e continue em 2013 depende principalmente da evolução dos mercados financeiros e dos rendimentos dos títulos do governo. Esses rendimentos se aproximaram do cenário mais favorável previsto no Boletim Económico de janeiro passado; mas a volatilidade continua muito alta. As medidas de liberalização e de simplificação administrativa recentemente aprovadas podem estimular o crescimento do produto potencial e ter um impacto positivo nas expectativas. A proposta de reforma do mercado de trabalho tem como objetivo atenuar sua divisão em segmentos através da racionalização dos amortizadores sociais e do reequilíbrio do custo relativo de diferentes formas de flexibilidade na utilização do trabalho. No entanto, os riscos permanecem muito elevados, devido à intensificação das tensões nos mercados financeiros europeus e a uma desaceleração mais pronunciada da economia global.

 

Fonte: http://www.bancaditalia.it/pubblicazioni/econo/bollec/2012/bolleco68/bollec68 (em italiano) http://www.bancaditalia.it/pubblicazioni/econo/bollec/2012/bolleco68;internal&action=_setlanguage.action?LANGUAGE=en (em inglês)