TIM Brasil torna-se peça-chave no jogo de xadrez da Telecom Italia

09/01/2009

O Brasil é peça central nas discussões sobre o futuro da Telecom Italia. As operações da TIM no país têm sido a maior fonte de expansão do grupo europeu nos últimos anos e, por essa razão, esses ativos assumiram papel relevante na mesa de negociações para a venda do controle acionário da companhia, hoje pertencente à Pirelli.

A TIM Brasil tem importância estratégica para a mexicana América Móvil – dona da Claro -, que junto com a AT&T fez uma proposta por dois terços da Olimpia, holding por meio da qual a Pirelli controla a operadora italiana. O ativo ajudaria o grupo controlado por Carlos Slim (América Móvil e Telmex) a ganhar mais escala e consolidar sua liderança no mercado latino-americano.

A Telefónica, outro grupo que estaria mantendo conversas com o controlador da Pirelli, Marco Tronchetti Provera, também está de olho nos ativos de telefonia móvel. De uma só vez, a empresa espanhola resolveria os problemas de perda de competitividade da Vivo e daria uma resposta a Slim.

Não por acaso, as negociações de espanhóis e mexicanos com Tronchetti Provera mereceram grande destaque nos jornais e nas TVs italianas ao longo dos últimos dias. Causa desconforto aos italianos a percepção de que os dois grupos estejam mirando a Itália para, no fim das contas, acertar um alvo do outro lado do Atlântico.

O futuro da maior operadora de serviços de telecomunicações na Itália é tema recorrente nos programas da televisão locais e desperta o interesse da população e reações espetaculosas – de uma tal maneira que provavelmente nenhuma empresa privada brasileira seria capaz de fazer.

O governo, uma ala da imprensa e boa parte da diretoria da Telecom Italia defendem uma solução caseira para evitar a venda da companhia para um grupo estrangeiro. Os principais países da Europa têm empresas nacionais de telecomunicações fortes. Embora seja relevante dentro de seu país, o grupo europeu não conseguiu expandir suas fronteiras no continente, diferentemente de outras companhias européias.

Na diretoria da Telecom Italia, o clima é de grande incerteza sobre qual será o desfecho das negociações, disse ao Valor uma fonte da companhia. Paralelamente à oferta da AT&T/América Móvil e às conversas com a Telefónica, costura-se um acordo com bancos italianos numa tentativa de evitar a desnacionalização da operadora. Além disso, há rumores sobre o interesse de outros grupos, como France Telecom e Deutsche Telekom, em analisar um investimento na empresa – a questão é que falta a eles o poder de fogo financeiro que têm o mexicano e o espanhol.

Alguns cenários despontam no horizonte vislumbrado pela administração da Telecom Italia, mas todos têm suas ressalvas.

No primeiro deles, a AT&T e a América Móvel seriam bem-sucedidas em arrematar os dois terços das ações da Olimpia. A operadora americana já manifestou que seu interesse é usar a Telecom Italia para prestar serviços a clientes corporativos dos EUA que fazem negócios na Itália – algo bem visto pela administração porque poderia fazer a empresa voltar a crescer. O lado “negativo” – na visão dos gestores – seria a “mexicanização” da companhia.

O segundo cenário, menos provável, consistiria da compra de 100% das ações da Olimpia e o posterior fatiamento da Telecom Italia. A AT&T ficaria com os ativos europeus e a América Móvil assumiria as operações na América Latina – o que reduziria as perspectivas de expansão do grupo como um todo.

Mas para reduzir a insatisfação política com a internacionalização da companhia, mexicanos e americanos cogitam obter a adesão de um banco italiano à sua proposta. Na semana passada, circulou a informação de que a Intesa Sanpaolo pode adquirir o terço restante da Olimpia.

Outra possibilidade seria a compra pela Telefónica, com a vantagem de manter a empresa, senão em mãos italianas, ao menos em européias. Porém, executivos da Telecom Italia acreditam que, no futuro, os espanhóis imporiam seu estilo e trocariam toda a direção da operadora.

O governo tem se empenhado para que bancos italianos apresentem, eles próprios, uma oferta, o que garantiria a nacionalidade da operadora. Os administradores preferem essa opção, que aumenta suas chances de se manter na empresa. Outra solução que vem sendo costurada pelas autoridades italianas implicaria a cisão da Telecom Italia. A idéia seria separar a infra-estrutura, cuja operação é custosa, e as dívidas numa empresa que poderia ser controlada por fundos de pensão, segundo interlocutor ligado ao grupo. Uma outra empresa cuidaria da prestação de serviços, mais rentável, e poderia ser adquirida por bancos.

A holding Olimpia (onde a Pirelli possui 80% e a família Benetton, 20%) tem até o fim deste mês para aceitar ou não a oferta dos mexicanos e da AT&T. Se disserem sim, os sócios da Telecom Italia receberão 2,82 euros – menos do que Tronchetti Provera pagou pelos papéis e também inferior aos 3 euros que gostaria de receber por eles. Mas é mais do que vale a empresa na bolsa. Na sexta-feira, as ações fecharam a 2,4 euros em Milão. (Com agências internacionais)

Fonte:
Valor Economico
Talita Moreira