TI pode ajudar Brasil em desafios de produtividade

01/08/2012

Apesar do desaquecimento econômico que se assiste em decorrência da crise na Europa, desaceleração na China e com os Estados Unidos em recuperação gradual, o Brasil não vive o pior dos mundos. Como lembra o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, embora a perspectiva de crescimento seja inferior a projeções anteriores, os fundamentos econômicos atuais são totalmente diferentes de décadas atrás, quando o País vivia um ostracismo e mergulhava em crises sequenciais. Isso não significa, entretanto, que governo e iniciativa privada devam ficar tranquilos, eles têm um grande desafio que é melhorar a produtividade.

“O Brasil tem como grande missão investir nos setores privado e público em produtividade. Produzir mais e com menor custo”, frisa Meirelles, que participou nesta terça-feira (31/07) de um debate sobre as perspectivas econômicas para o segundo semestre, promovido pela FTI Consulting. “Era impossível investir em produtividade por conta da instabilidade. Apenas quando a economia adquire previsibilidade é possível investir em produtividade no longo prazo. E isso é cada vez mais um objeto de priorização por parte das empresas e do governo e o Brasil terá condições de enfrentar esse desafio como já enfrentou outros no passado.”

O fato é que, além de reformas estruturais, o foco em ciência e tecnologia, quando se fala em governo, e o investimento em soluções que melhorem processos e ampliem a capacidade produtiva, no caso das empresas, precisam estar em pauta. “O Brasil é marcado por exportação de commodities e de alguma forma acaba num processo como esse, trazendo até sofrimento maior para nossa economia. Uma forma de mitigar é (o investimento) na fabricação de produtos ou serviços com maior valor agregado. E, com isso, inevitavelmente, falamos de tecnologia em processo ou em produto”, avalia Mauro Negrete, diretor de operações e tecnologia da Cetip.

Quando se avalia o segmento corporativo, especificamente, dinheiro não parece ser o maior problema, talvez, o direcionamento da verba, já que a mentalidade no período de forte crescimento da última década estava em volume e não em produtividade e qualidade. Dados do estudo Antes da TI, a Estratégia, produzido pela IT Mídia, por exemplo, mostram que 20% dos CIOs das 500 maiores empresas do Brasil contariam com orçamentos entre 10% e 20% maiores neste anos. Além disso, 36% dos participantes contaram com orçamentos anuais variando entre R$ 8,1 milhões e R$ 30 milhões.

Outra avaliação nesse sentido vem da própria FTI Consulting. Como explica Paulo Araújo, diretor da prática de tecnologia da consultoria, o que tem se observado neste momento é apenas uma postergação de projetos, especialmente na área financeira que, tradicionalmente, é um grande comprador de TI. Por outro lado, ele vê setores como saúde e óleo e gás promovendo investimentos acima da média o que deixam a questão meio que balanceada. Além disso, o especialista avisa que, de forma geral, as companhias brasileiras entenderam a importância de se investir em TI como estratégia de automação de processos e melhoria de oportunidades, acreditando que essa onda terá continuidade.

Negrete, da Cetip, lembra que algumas áreas no Brasil são altamente desenvolvidas na aplicação da tecnologia para melhoria de produtividade e automação de processos, como a financeira, e devem servir como exemplo para outros setores. “Temos outras áreas que se desenvolveram bem em tecnologia, como agronegócio, e a produtividade cresceu com isso. Mas há setores em que isso não é realidade”, pontua, deixando um alerta para quem ainda não se atentou ao fato.

O fato é que para atender ao desafio da produtividade e manter a economia aquecida, o País precisa investir em instrumentos que propiciem a ampliação da produção sem elevar o custo, e isso passa por colocar dinheiro na formação de pessoas e na compra de soluções tecnológicas capazes de automatizar processos e reduzir erros operacionais. O governo federal tem dado alguns passos nesses sentidos, com suporte à formação de estudantes em universidades renomadas no exterior e programas de incentivos à inovação, mas os especialistas acreditam que isso precisa vir com mais força. “O que discutimos é a taxa de crescimento futuro, se será maior ou menor e com mais ou menos produtividade. Qual crescimento sustentável para os próximos anos?”, provoca Meirelles.

 Fonte:
Information Week