Telecom Italia pode sair do país, afirma presidente

09/01/2009

A Telecom Italia cansou-se da disputa pela Brasil Telecom. Está disposta a vender sua participação na companhia, informou à Folha o presidente da Telecom Italia no Brasil, Paolo dal Pino.

“Basta! Se os fundos de pensão acham que sabem gerir a companhia, que façam isso. Comprem a nossa parte. Que a Previ compre, porque a Telecom Italia não quer perder dinheiro num negócio no qual não há transparência nem competência”, afirmou o executivo, referindo-se ao fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ.
“Esse investimento se tornou um pesadelo. Queremos nosso dinheiro de volta. Se os fundos querem reestatizar a Brasil Telecom, que façam isso, mas de maneira completa”, afirmou o executivo em entrevista telefônica.

De acordo com o empresário, há outros lugares em que a Telecom Italia, braço da Pirelli que atua na área de telecomunicações, pode investir. “Fomos maltratados [no caso da telefonia fixa]. Esse processo de privatização acabou muito mal”, afirmou. “Há vários países capazes de receber investimentos da Telecom Italia. Parece que o nosso investimento na Brasil Telecom não é bem recebido. Perfeito. Vamos sair”, disse.

Segundo Dal Pino, a fatia que os italianos estão dispostos a vender inclui as ações em poder da Telecom Italia e as ações compradas do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, em toda a cadeia de controle da operadora. O motivo para a venda, disse o executivo, é que a empresa vem perdendo valor com tantas disputas jurídicas entre os sócios.
Além de parte da Brasil Telecom, a Telecom Italia é dona da TIM Brasil, segunda maior operadora de telefonia móvel do país. Dal Pino ressaltou que a Telecom Italia não pretende abandonar o investimento na companhia, apenas na Brasil Telecom. Nos cálculos de Dal Pino, nos últimos sete anos a Telecom Italia investiu US$ 8 bilhões (R$ 20 bilhões) no país.

A Brasil Telecom foi criada em 1998, quando o governo FHC privatizou o Sistema Telebrás. É a operadora de telefonia fixa responsável por parte da região Norte e Centro-Oeste.
O modelo de privatização adotado pelo Brasil permitiu que as concessionárias de telefonia pudessem ser controladas por meio de uma intrincada teia de ações e empresas. Assim, na Brasil Telecom o controle é disputado por três grupos: fundos de pensão nacionais, Citigroup e Opportunity.
A Telecom Italia também se uniu ao grupo, com a intenção de, mais à frente, comprar o controle da Brasil Telecom. Era considerada a compradora natural da parte dos demais.

No modelo concebido originalmente, cada sócio tinha um papel. Fundos de pensão -liderados pela Previ- e Citigroup entravam com o dinheiro; o Opportunity, com a montagem do negócio; e a Telecom Italia, com a “expertise” industrial.
Uma série de manobras societárias e de disputas, porém, racharam o grupo. A princípio, Citi e Opportunity eram alinhados contra fundos e Telecom Italia. Isso mudou.

Hoje, Citi e fundos de pensão têm um acordo de vender suas ações em conjunto, o chamado “tag along”.
Os fundos se comprometeram, em março, a comprar a parte do Citi na Brasil Telecom em um prazo máximo de três anos. O valor, combinado por meio de um contrato “put”, foi cerca de US$ 400 milhões, ou R$ 1 bilhão. O valor é considerado 300% acima do preço de mercado das ações. De acordo com os fundos, o total se justifica porque os papéis dão direito ao controle da companhia.

Em abril, a Telecom Italia anunciou a compra das ações do Opportunity na Brasil Telecom. Comprometeu-se a pagar US$ 392 milhões (R$ 960 milhões) pela participação e outros US$ 65 milhões (R$ 160 milhões) pelo fim das demandas judiciais.

Guerra
Os fundos não gostaram da decisão da Telecom Italia. Consideraram que o antigo aliado estava virando a casaca em favor de Dantas. As entidades de previdência questionaram a venda das ações do Opportunity para os italianos na Justiça brasileira. O Citi fez o mesmo na Justiça americana.
Agora, é a vez de a Telecom Italia realizar uma ofensiva contra os fundos. A empresa apresentou ontem à Justiça do Rio uma ação contra as entidades de previdência. Questiona o fato de os fundos de pensão terem prometido, em segredo, um valor tão alto pelas ações do Citi. A ação judicial tem pedido de liminar para suspender o acordo “put”. Segundo advogados da Telecom Italia, a ação impetrada ontem é apenas a primeira de uma série.
“Fomos infernizados pelo Opportunity durante anos. Pagamos caro para afastá-lo da companhia, mas Citi e fundos estão substituindo Dantas”, afirmou Dal Pino à Folha.
Questionado o que fará se os fundos não quiserem comprar a parte da Telecom Italia, o executivo foi direto. “Se não querem compra, que respeitem o que havia sido combinado lá atrás, no processo de privatização”, disse.
“Tirem as causas da Justiça e deixem que a TIM e a Brasil Telecom Celular se unam e que a Telecom Italia cuide da administração da Brasil Telecom porque ela está perdendo valor”, completou.

Folha de S.Paulo
01/7/2005