Setor industrial tem o melhor ano desde 1994
09/01/2009
Pesquisa aponta que lucratividade de pequenas quase dobra
O ano de 2004 deve ser o melhor para a indústria brasileira desde 1994. É o que indica um levantamento feito pela Serasa, empresa de análise de crédito, com 10 mil indústrias nos primeiros nove meses deste ano.
De janeiro a setembro deste ano, a lucratividade das indústrias foi a maior já registrada nos últimos 10 anos. Nas grandes indústrias – aquelas com faturamento acima de R$ 50 milhões -, a margem líquida (relação lucro/receita líquida) foi de 12,4%, contra 10,2% no ano passado. Já para as pequenas e médias – com vendas entre R$ 2 milhões e R$ 50 milhões -, o crescimento da margem passou de 3% para 5,1%.
Segundo Márcio Torres, analista da Serasa, dois fatores levaram a esse resultado. O primeiro mostra que, com o crescimento do consumo interno, a indústria pôde aumentar os preços dos produtos, o que melhorou a lucratividade. “O cenário foi propício à elevação do preço.”
O outro fator mencionado foi o controle de custos das indústrias. “A contenção de custos ficou arraigada no brasileiro. Não é porque a situação melhorou que ele se esqueceu disso”, explica.
As vendas também cresceram. Para as pequenas e médias indústrias, este ano está sendo o período de maior crescimento desde 1994. Ele ultrapassa inclusive o aumento obtido pelas grandes empresas. O faturamento real (descontada a inflação) das pequenas cresceu 7,2% sobre o mesmo período de 2003. Desde 1994, o faturamento delas sofreu dois anos de retração: 1998 e 2003.
“Elas passaram 11 anos crescendo menos do que as grandes porque dependem quase que totalmente do mercado interno. Agora, com o aumento da renda e do emprego, reagiram”, afirma Torres.
Já as grandes indústrias, como vieram em um ritmo de crescimento contínuo desde 1994, expandiram menos do que as pequenas neste ano. “O mercado externo foi a válvula de escape dessas empresas”, diz o analista. Segundo ele, as exportações das grandes ainda ajudaram o desempenho das pequenas e médias, que são suas fornecedoras.
Mas, de acordo com Torres, o índice que espelha de maneira mais clara o melhor desempenho da indústria brasileira neste ano é a relação entre geração de caixa e endividamento. Esse índice demonstra em quantos anos uma empresa é capaz de pagar suas dívidas com a atual geração de caixa.
Em 2004, até o mês de setembro, eram necessários 3,4 anos para as grandes empresas e 4,7 anos para as pequenas. Somente em 1994 esse índice foi mais baixo. “As indústrias estão mais fortes hoje do que dez anos atrás, porque elas conseguem pagar suas dívidas mais rapidamente”, afirma Torres.
A expectativa do analista é que esses números não sofram grandes alterações até o fim do ano. “Diferentemente do comércio, que vende mais no fim do ano, a indústria não tem oscilações fortes no último trimestre.”
Os maiores responsáveis por esse desempenho histórico da indústria, de acordo com Torres, é a combinação de exportações com a retomada do mercado interno. “Primeiro, o mercado externo mudou a nossa indústria de patamar. Ela se tornou mais competitiva. E o que fez deste ano o melhor foi a volta do consumo.”
O que pode emperrar o desenvolvimento da indústria em 2005 é o baixo nível de investimento. Neste ano, as grandes indústrias aplicaram apenas 4,9% de seu faturamento líquido e de seu ativo imobilizado. É o menor índice desde 1994. “Enquanto não houver um cenário de continuidade, os empresários não vão investir”, avalia o analista.
O Banco Central vem justificando a elevação da taxa básica de juros com a capacidade instalada das indústrias, que não vem apresentando grande crescimento.
De acordo com Torres, os juros altos podem arrefecer o consumo. Dessa forma, as indústrias não aumentariam mais seus preços, o que não elevaria a lucratividade delas.
Outro ponto que pode fazer com que o desempenho da indústria em 2005 seja inferior ao de 2004 é o dólar. “Se ele continuar se desvalorizando, poderá prejudicar as exportações”, observa Torres. Neste ano, a moeda americana contribuiu nas vendas externas. Ao mesmo tempo, como está, não permite que a dívida das empresas alcance níveis muito altos.
Valor Online
Carolina Mandl De São Paulo
29/12/2004