Sem HSBC no país, cresce a concentração bancária
15/06/2015
Hoje as equipes dos grandes bancos privados que atuam no Brasil começam a se debruçar sobre os números da filial brasileira do HSBC, colocada à venda pela matriz britânica. Estarão em jogo bilhões de reais por uma participação pequena de mercado, nem 2,5%, mas que pode determinar um novo patamar de concentração bancária no país e, portanto, de concorrência. Pela primeira vez, um banco estrangeiro poderá ficar colado nos grandes grupos brasileiros. Se tiver cacife para bancar a jogada, o espanhol Santander ganhará escala para competir mais de perto com seus rivais Bradesco e Itaú, muito à frente no mercado. Mas se Bradesco ou Itaú levarem o HSBC, os níveis de concentração ficarão no limite do razoável, de acordo com um índice adotado internacionalmente para avaliar a competição de mercado – o que pode alterar a relação de preços de produtos e serviços dos bancos.
As apostas do mercado estão quase todas indo para o Bradesco. Além de ter dinheiro para bancar a aquisição (pode gastar entre R$ 11 bilhões e R$ 15 bilhões, segundo estimativas dos analistas do banco Credit Suisse), o banco tem “muita disposição” para a compra. “O Bradesco não conseguiu engolir até hoje a união do Itaú com o Unibanco”, diz um ex-executivo, que não quis se identificar. O HSBC é um dos últimos bancos com tamanho suficiente para deixar o Bradesco perto do Itaú. Mesmo assim, não chegará a empatar em participação de mercado. Pelo lado positivo, segundo o professor do Insper Ricardo Rocha, o Bradesco tem a característica de aproveitar suas aquisições, ou seja, incorpora práticas e culturas, melhora serviços e reaproveita pessoal – o que pode ser bom para os consumidores. Pelo lado negativo, a concentração chegará perto do limite. É o que mostra o índice usado para monitorar os níveis de concentração bancária dos países, chamado Herfindahl-Hirschmann (IHH). O economista do Insper e estudioso do assunto, João Manoel Pinho de Mello, diz que quando esse índice ultrapassa o valor de 1.800 nos Estados Unidos, as operações de fusão ou aquisição geralmente não são autorizadas. As autoridades avaliam que a concentração começa a atingir níveis que vão significar preços maiores para os clientes.
Segundo Mello, se Bradesco ou Itaú levarem o HSBC, o índice no Brasil, que já ultrapassa 1.600, ficará muito perto desse limite. Para aprovar uma operação, o Banco Central pode fazer exigências como impedir que a instituição faça novas aquisições ou obrigar que o preço adotado seja o do banco comprado. Na prática, para os clientes, ao longo das últimas décadas as opções foram ficando escassas. Quem quer mudar de banco hoje não tem muita escolha. Já para as empresas que tomam crédito, a situação é mais complicada. Quanto maior a concentração, maior a tendência de seus limites de crédito ficarem reduzidos. Dados do Banco Central mostram que os quatro maiores bancos, Caixa, Bradesco, Banco do Brasil e Itaú Unibanco, respondem por 76% do crédito e dos depósitos. “O tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa”. O jingle publicitário que marcou toda uma geração de clientes do banco Bamerindus, nascido em Curitiba, se espalhou pelo Brasil na década de 90. Arrebatou milhões de clientes, mas não foi suficiente para evitar as dificuldades financeiras do banco que teve de ser socorrido no governo Fernando Henrique Cardoso, e mais tarde foi vendido para o HSBC. O banco inglês se instalou no Brasil, mas optou por se manter relativamente pequeno para um banco de varejo, seguindo a estratégia global de estar em todos os países mesmo que sendo pequeno. No Brasil, tem uma base de 10 milhões de clientes, enquanto um banco como o Bradesco tem 70 milhões. O resultado foi um encolhimento natural diante da concorrência, segundo especialistas. Dos estrangeiros que se aventuraram no varejo brasileiro, o Santander foi um dos poucos sobreviventes de grande porte. O norte-americano Citibank, por exemplo, que há cem anos atua no Brasil, não conseguiu expandir suas atividades. Já o espanhol Santander entrou firme no país com um lance bilionário pelo Banespa. Mais tarde comprou o ABN, outro estrangeiro que havia entrado no Brasil ao adquirir o brasileiro banco Real. Da história dos estrangeiros, o ABN Amro teve uma trajetória de sucesso ao ter escolhido manter a marca Real. A estratégia veio de uma clientela fiel. Tão fiel que ainda hoje é com um cliente cobrarem a volta do Real no lugar do Santander. A saída do ABN se deu, no entanto, porque o banco foi vendido no exterior e aqui no Brasil foi absorvido pelo banco espanhol. Assim como o holandês ABN, o HSBC também herdou uma clientela fiel, que agora deve ser um dos grandes ativos no leilão entre os maiores bancos brasileiro. O sócio da consultoria PwC, Antonio Toro, diz que o vencedor da disputa terá um desafio gigantesco: manter esse cliente, que será disputado pelos que perderem a disputa.
Fonte: Otempo.com.br