Rússia retoma as compras de carne bovina de São Paulo e Goiás

09/01/2009

SÃO PAULO – Numa decisão que desagradou aos exportadores de carne suína, a Rússia levantou ontem o embargo às importações de carne bovina dos Estados de São Paulo e Goiás. A informação, divulgada pela agência oficial de notícias russa Itar-Tass, foi confirmada pela Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec).

Durante entrevista sobre a próxima safra, em Brasília, o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes, disse que não havia comunicado oficial da Rússia sobre a decisão. Mas o governo paulista, que semana passada enviou ofício ao governo russo pedindo o fim do embargo ao Estado, informou que a medida será oficializada entre os dois países ainda hoje.

São Paulo e Goiás estão sem exportar carnes bovina e suína para a Rússia desde 13 de dezembro de 2005, quando o país impôs embargo a oito Estados brasileiros por conta do surgimento de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná em outubro.

A Rússia suspendeu as compras dos dois Estados que tiveram focos, além do Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás. Em abril deste ano, o governo russo autorizou a retomada das compras das duas carnes do Rio Grande do Sul e em agosto, do Mato Grosso.

Dessa vez, porém, os russos decidiram retomar só as compras de carne bovina de São Paulo e Goiás, num claro sinal de que não têm interesse em ampliar as compras de carne suína brasileira, hoje originadas no Rio Grande do Sul e Mato Grosso. O governo russo quer proteger a produção local de suínos, a qual incentivou nos últimos anos.

Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), disse que a decisão russa não o surpreendeu. ” Da Rússia, eu espero tudo ” , lamentou. Ele argumentou que a medida não tem consistência técnica nem perante a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) nem ante o acordo bilateral para sanidade feito entre Brasil e Rússia. Pelo acordo, em caso de aftosa num Estado, este deve ficar sem exportar durante dois anos e o vizinho por um ano.

O executivo lembrou ainda que as regras sobre aftosa se aplicam tanto a bovinos quanto para suínos, portanto não se justifica manter o embargo à carne suína.

Segundo Camargo Neto, as empresas exportadoras já estão se ajustando ao novo cenário gerado pelo embargo russo. As que têm unidades no Mato Grosso e no Rio Grande do Sul originam a carne destinada à Rússia nesses Estados.

Mas, conforme o presidente da Abipecs, o embargo russo deve fazer as exportações de carne suína recuarem cerca de 100 mil toneladas este ano sobre 2005, quando o país embarcou 625 mil toneladas.

Entre janeiro e setembro deste ano, a Brasil exportou 371.291 toneladas, 21,6% menos que em igual período de 2005, segundo a Abipecs. Em valor, as vendas caíram 18,31% no período, para US$ 725,6 milhões. Já as vendas de carne suína para a Rússia recuaram 37,63%, para 188.315 toneladas. Em valor, o país comprou 28,07% menos – US$ 434,9 milhões.

O diretor-executivo da Abipecs, Antônio Camardelli, disse que a decisão russa de retomar as compras de São Paulo e Goiás é importante pois permitirá uma retomada dos volumes, que caíram para 15 mil toneladas/mês com o embargo. Com a abertura do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso, as vendas 30 mil toneladas. Agora, com São Paulo e Goiás, a expectativa é vender 50% mais.

Fonte:
Alda do Amaral Rocha
Valor Econômico