Rússia compra menos carne brasileira após redução da demanda provocada por queda do petróleo
13/03/2015
(Bloomberg) — O efeito cascata da queda do petróleo atingiu as fazendas do Brasil em um momento em que os países produtores de petróleo, da Rússia à Venezuela, estão comprando menos carne.
As exportações brasileiras de carne bovina caíram 31 por cento nos dois primeiros meses do ano, segundo dados do governo compilados pela Bloomberg. As vendas para Rússia, Venezuela e Irã, que respondiam por quase 50 por cento das exportações brasileiras de carne um ano atrás, agora representam um quinto após registrarem o maior declínio. Essa situação está rendendo aos frigoríficos brasileiros Minerva SA e Marfrig Global Foods SA os piores desempenhos entre as empresas internacionais do setor.
Os melhores clientes da carne bovina brasileira estão comprando menos e exigindo descontos depois que os preços do petróleo sofreram a maior queda desde 2008 e que as moedas dos mercados emergentes se desvalorizaram, disse o Bradesco BBI SA. As produtoras do Brasil não têm a autorização de saúde para envio de carne fresca para os EUA, Japão e Coreia do Sul, o que as torna dependentes dos países produtores de petróleo. Para a Marfrig e a Minerva, o deterioramento no mercado internacional ocorre na sequência de um declínio doméstico, no ano passado, em linha com uma desaceleração da economia.
"É uma notícia muito ruim para o setor", disse Gabriel Vaz de Lima, analista do Bradesco que tem o equivalente a uma recomendação para manter as duas ações, por telefone, de São Paulo. "As exportações já não estão salvando o dia".
Queda nas ações
As ações da Minerva e da Marfrig, empresas que respondem por cerca de 40 por cento das exportações de carne bovina do Brasil, perderam 23 por cento e 31 por cento, respectivamente, neste ano. Estes são os piores desempenhos entre 15 empresas internacionais do setor monitoradas pela Bloomberg.
A JBS SA, que tem sede em São Paulo, subiu 17 por cento. A JBS, maior exportadora de carne do mundo, está menos exposta a economias impulsionadas pelo petróleo porque obtém a maior parte de sua receita das operações americanas, que têm aprovação para exportar a mercados de primeira linha da carne bovina, como Japão e Coreia do Sul.
A decisão do presidente russo, Vladimir Putin, de proibir as importações de produtos agropecuários dos EUA e da Austrália e aprovar as exportações de 87 plantas brasileiras de carne no ano passado impulsionou a antecipação de que o Brasil aumentaria suas exportações ao país. Em vez disso, as exportações brasileiras para a Rússia caíram 56 por cento, atingindo o nível mais baixo desde 2005.
A queda de 50 por cento nos preços do petróleo e as sanções relacionadas ao conflito na Ucrânia desencadearam a pior crise cambial da Rússia desde o calote de 1998 e empurraram a economia para uma recessão. O rublo é a moeda com o segundo pior desempenho no mundo nos últimos 12 meses, com um declínio de 34 por cento, para 61,6656 por dólar.
Queda nos estoques
"Este é um momento de ajuste", disse Mauricio Nogueira, analista do setor de carne bovina da Agroconsult, por telefone, de Florianópolis, Brasil. "O mercado está se adaptando a uma economia com o petróleo a preços mais baixos".
Embora a expectativa seja de que a Rússia retome gradualmente as aquisições à medida que os estoques caírem, as vendas provavelmente não voltarão aos níveis do ano passado, disse o CEO da Minerva, Fernando Galletti Queiroz.
"Eles estão comprando cortes mais baratos agora", disse Queiroz em uma teleconferência com repórteres na semana passada.
A Minerva está buscando destinar uma parcela da carne bovina que iria para a Rússia, seu principal comprador, a países como Chile e Egito.
A Marfrig também vê uma melhora na demanda russa nos próximos meses quando o país preencher novamente os estoques.
"A demanda da Rússia por carne bovina ainda existe", disse o CEO Martin Secco Arias a investidores no dia 9 de março, em Londres.
As perspectivas são mais obscuras para a Venezuela, onde a inflação atingiu a marca de 69 por cento em dezembro e a economia deverá se contrair 7 por cento neste ano, disse Secco.
"É mais um ponto de interrogação do que a questão da Rússia", disse ele. "O mercado parou".
Fonte:
Gerson Freitas Jr