Risco argentino cai e se aproxima do brasileiro
09/01/2009
Depois de renegociação, índice despenca de 6.607 pontos para 904 e deve ficar abaixo de 500 em julho
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
O risco-país da Argentina, país que promoveu o maior calote da história, caiu de 6.607 sexta para 910 pontos anteontem, fechando ontem em 904 pontos, segundo anunciou o banco de investimentos JP Morgan. Em julho, a expectativa é que caia ainda mais, para menos de 500 pontos, ou seja, patamar similar ao brasileiro, fechado ontem em 418 pontos.
A mudança brusca não reflete uma alteração repentina no humor dos investidores. Com a reestruturação da dívida argentina, saíram do mercado os papéis “caloteados”, ou em “default”, e entraram os novos títulos emitidos pelo governo do país vizinho.
Em fevereiro, cerca de 76% de credores aceitaram trocar títulos velhos da dívida, em “default”, por novos, com valor médio 70% menor. A troca, que foi atrasada por conta de uma decisão judicial nos EUA, foi concluída no início deste mês. A queda do risco-país da Argentina já era esperada.
Segundo especialistas, o risco medido até anteontem pelo JP Morgan era considerado um número irreal, já que os papéis argentinos estavam em “default”.
Dizer que o risco de um papel argentino é de 500 pontos, por exemplo, significa na verdade afirmar que os juros que os investidores “pedem” para aceitar tal papel é 5 pontos percentuais superior à taxa de juros dos títulos norte-americanos, considerados como os papéis de menor risco no mercado internacional.
No final do mês passado, a agência de qualificação de risco Standard and Poor’s já havia anunciado a elevação da nota da dívida de longo prazo da Argentina para “B-“. Os papéis argentinos até agora estavam classificados com a pior nota, a “SD”, aquela para títulos em “default”.
Apesar de ter saído do calote e da queda do seu risco-país, economistas ressaltam que a Argentina tem como desafio agora buscar uma solução para os 24% de credores que não aderiram à troca. O FMI condiciona um novo acordo com o país a uma negociação com esses credores.
Mas esse não é o único entrave a um novo acordo: os principais sócios europeus do FMI estariam pressionando o organismo para que um acordo também seja feito mediante a garantia de que a Argentina permita o aumento nas tarifas de serviços públicos privatizados, que estão congeladas desde pelo menos o início de 2002. Mas as eleições em outubro para renovar parte do Parlamento devem dificultar decisão do governo a favor dos reajustes.
Folha de S.Paulo
15/6/2005