Riqueza de SP está concentrada em 17% do estado

09/01/2009

São Paulo, 19 de Março de 2004 – Estudo divulgado pela Assembléia Legislativa aponta saídas para a extrema concentração de renda em São Paulo. O estado de São Paulo é o maior exemplo de concentração de renda no Brasil, com sua riqueza concentrada em apenas 17% de seu território.

Essa é a conclusão do estudo “Reflexões e Perspectivas para o Desenvolvimento Paulista”, realizado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a Fundação Prefeito Faria Lima, a pedido da Assembléia Legislativa paulista.

Segundo o trabalho, que faz um diagnóstico do desenvolvimento paulista, 83% do PIB (Produto Interno Bruto) estadual estão concentrados por apenas 100 dos 645 municípios paulistas. Só a região metropolitana de São Paulo responde por 50% do PIB paulista.

Entre outras coisas, o estudo pretende apontar e discutir as causas do desequilíbrio econômico estadual e mostrar as vocações de negócios para as regiões que ainda patinam na atração de novos investimentos. Também pretende levantar sugestões para tratar os problemas que algumas regiões outrora campeãs de investimento, como o ABC, estão tendo por conta da desindustrialização e a perda de competitividade.

A concentração do PIB está na região denominada pelo estudo de Complexo Metropolitano Expandido (CME), formado pelas regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Sorocaba, Vale do Paraíba (São José dos Campos) e Baixada Santista (Santos), formando uma região com 42 mil km² e mais de 26 milhões de habitantes, ou seja, 70% da população estadual e mais de 15% do total do Brasil.

O estudo também revela que o agronegócio paulista representa 33% do total brasileiro e é uma importante base para a exportação. Além disso, é pedra fundamental para a manutenção da riqueza estadual, colocando São Paulo no topo de todos os rankings de desenvolvimento no País. A cana-de-açúcar é a principal atividade agropecuária do estado, com 45% de toda a área cultivada.

Resumo dos problemas

O trabalho mostrou que nos últimos anos outras culturas não-tradicionais passaram a ocupar espaço, como cultivo de frutas, flores, sorgo e girassol.

O presidente da Assembléia Legislativa, Sidnei Beraldo (PSDB), afirma que o relatório é uma síntese de problemas e propostas que o fórum – organismo permanente do Parlamento paulista -, resultado da coleta, no ano passado, de volumes enormes de informação, obtidas ao longo de 17 reuniões em cidades de todas as regiões do estado.

“O desenvolvimento no rumo de uma sociedade mais justa depende de um cenário macroeconômico mais favorável, mas a Assembléia não pode ficar de braços cruzados, esperando mudanças”, alertou Beraldo. “Nosso objetivo é trazer a questão do desenvolvimento para a agenda do Parlamento paulista.”

Em relação ao interior do estado, o relatório destacou que ele não é vazio, devido à agricultura avançada produzida no estado. Uma das ações apontadas para estimular o desenvolvimento regional é o investimento em infra-estrutura de grande porte.

“Esses investimentos vão melhorar a competitividade de exportação paulista, disseminando o desenvolvimento econômico para o conjunto do Estado”, disse o coordenador do Núcleo de Economia Social, Urbano e Regional (Nesur) da Unicamp, professor Rinaldo Fonseca. Segundo ele, o relatório organiza os problemas enfrentados pelo Estado para lidar com eles com mais precisão, “apresentando realidades e tendências sobre as quais é necessário refletir”.

Arranjos regionais

Fonseca ressaltou que o apoio aos arranjos regionais também pode facilitar a instalação de indústrias no interior. Nesse ponto, o professor citou casos como São Carlos e Araraquara, que abrigam indústrias de tecnologia aeronáutica; e Ribeirão Preto, com indústrias de equipamentos médicos. “São pólos industriais nascentes e promissores.”

O especialista afirmou ainda que o turismo é uma alternativa de geração de emprego de boa qualidade e de renda, mas que ainda não despertou o interesse devido. “O Estado apresenta um grau de desenvolvimento avançado nesse sentido, mas precisamos apostar mais fichas na atividade.”

Uma das saídas para desenvolver mais o estado são os arranjos produtivos locais, grupos de empresas voltadas para o mesmo setor, conforme as vantagens e as características de cada região. O governo estadual já identificou 31 arranjos produtivos, que vão desde calçados até flores, passando por aviões.

Segundo informou Lourivaldo Carmona, assessor da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, o governo do Estado tem apoiado os circuitos turísticos regionais. “É um processo rápido de geração de emprego, trabalho e renda no Estado”, constatou.

Uma maneira de assegurar o desenvolvimento regional é o empenho de ajuntar as forças da sociedade civil, governo, universidades, para pensar o desenvolvimento regional de modo supramunicipal. “Dessa maneira seriam resolvidos problemas relacionados à água, tratamento de esgoto e desenvolvimento rodoviário”, lembrou Fonseca.

Também o reitor da Unesp, José Carlos de Souza Trindade, chamou a atenção para o fato da implantação de novos campi da Universidade em regiões consideradas pobres, citando o curso de Agronomia, implantando em Registro; de Engenharia Industrial, em Itapeva; de Mecatrônica, em Iperó; de Administração de Agronegócios e Zootécnica, em Tupã e Dracena; e de Turismo Ecológico, no Pontal do Paranapanema. “A presença da Unesp na indução do desenvolvimento regional foi sentida nas reuniões do fórum, inclusive com a apresentação de projetos por professores.”

Na reunião de ontem do fórum, realizado na Assembléia Legislativa paulista, a regulamentação da Agência Estadual de Desenvolvimento foi a reivindicação feita pelo professor da Fundação Getúlio Vargas, Yoshiaki Nakano, que lembrou ter sido o Brasil campeão sistemático de desenvolvimento de 1900 a 1973. “Falta completar esse projeto de desenvolvimento e esse fórum permanente pode catalisar as demandas da população.”

Um ponto levantado pelo coordenador da Agência Paulista de Agronegócios (Apta) da Secretaria de Agricultura é a necessidade de elaboração de um projeto de inovação tecnológica para o estado.

O projeto de lei que o Executivo mandou ao Legislativo propondo o Programa de Parceria Público-Privado foi lembrado pelo presidente da Comissão de Comunicações e Transportes, deputado Rodrigo Garcia (PFL).

“A Câmara Federal já aprovou o PPP Federal. Em São Paulo, o projeto inova ao criar a Companhia Paulista de Ativos, que vai estimular o investimento privado a firmar parcerias para atender as demandas do estado”, afirmou o deputado.

(Gazeta do Brasil13)(Marcelo Moreira)