Produção argentina cai e país já vive desaceleração

09/01/2009

A Argentina deu um forte sinal de que está moderando seu ritmo de crescimento econômico. A produção industrial de junho teve uma queda de 0,5% em relação a maio. O crescimento na comparação com junho de 2004 foi de 6,4%, um número ainda alto, mas muito inferior às taxas da ordem de 15% que chegaram a ser registradas em 2003 e no ano passado.

“Há uma desaceleração, e já vínhamos observando esse fenômeno”, afirmou o economista Fausto Spotorno, da consultoria Delphos Investment.

“É lógico que a expansão se vá moderando, porque é muito difícil manter taxas de crescimento da ordem de 8%”, afirmou Hernán Fardi, da consultoria Maxinver. Segundo ele, apesar do resultado negativo na comparação mês a mês, o desempenho de junho “continua sendo um bom número”. O índice ficou abaixo da previsão feita por analistas na pesquisa semanal realizada pelo BC argentino: esperava-se um crescimento de 7,8%.

Na avaliação de Spotorno, o recuo na taxa mensal ocorreu porque muitos empresários aceleraram a atividade produtiva nos meses de maio e abril como forma de prevenção contra um cenário de escassez energética.

Por enquanto, os problemas com o fornecimento de gás e eletricidade a empresas ainda são pequenos, em parte porque o país vive neste ano um inverno de temperaturas amenas.

Spotorno também considerou que a menor atividade da indústria registrada em junho é consequência da política monetária menos expansiva praticada pelo BC em maio e no mês passado. Ele afirmou que em julho o banco central voltou a fazer uma política mais expansiva, o que mostra que, por enquanto, a opção do governo argentino é tentar estimular o crescimento da demanda mesmo que a inflação suba um pouco. “Depois que passar a eleição parlamentar de outubro, devemos ter menos crescimento com menos inflação”, disse.

Para Fardi, o principal problema da Argentina é conseguir atrair investimentos para sustentar taxas de crescimento altas. Esse fator já vem sendo apontado desde o início da recuperação, mas tende a ter mais peso por causa dos altos índices de utilização da capacidade instalada em alguns setores industriais. Em junho, a média chegou a 71,2%, apenas abaixo do pico de 71,3% que havia sido atingido em abril.

Entre os setores monitorados pelo Indec, órgão de estatísticas ligado ao Ministério da Economia, se destaca o declínio observado na produção de papel e papelão, que recuou 10,1% em junho. O dado poderia indicar expectativas de desaceleração por parte de outros setores.

Entre as dificuldades para que os investimentos ocorram nos próximos meses está a expectativa em relação ao período eleitoral e a falta de crédito. Segundo Alberto Bernal, da consultoria Ideaglobal, de Nova York, a Argentina está se aproximando do “dia D” em que precisa mostrar ganhos de produtividade para manter o ritmo de expansão na casa de 6%.

Bernal afirmou à agencia “DowJones” que, com o aumento das expectativas inflacionárias (a taxa pode chegar a 11% em 2005), as empresas podem ter mais dificuldade para se modernizar, devido ao receio de contrair dívidas.

Fonte:
Valor Economico
Industria
Paulo Braga
19/7/2005