Previsões: Bons ventos
09/01/2009
Mesmo recomendando correções de rota, pesos pesados da economia
estão otimistas com relação a 2005
Lino Rodrigues
Em seu primeiro pronunciamento em rede de rádio e tevê do ano, no domingo 2, o presidente Lula comemorou os resultados de 2004, defendeu a política econômica e previu nova dose de boas notícias: “Estou muito otimista com 2005. É o grande ano para o País provar que é possível garantir um crescimento econômico forte, com geração de empregos e distribuição de renda.” Depois de um 2004 que cravará aumento do PIB na casa dos 5,2% – o melhor resultado dos últimos dez anos –, a perspectiva, segundo economistas, é que este ano a economia alcance uma expansão entre 3,5% e 4,5%. A maior parte de quem efetivamente bota a economia para funcionar segue a mesma toada. A nova Lei de Falências e a aprovação do projeto que permite as Parcerias Público-Privadas (PPPs) serão instrumentos importantes. Mas, para alcançar os melhores índices, outras reformas precisam avançar. Seguem as previsões de alguns desses pesos pesados.
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
“Em 2005, defendemos um ambiente econômico mais favorável para que o governo não necessite aumentar ainda mais as taxas de juro. Dependemos de uma adaptação na política econômica para que tenhamos juros mais baixos, volume maior de crédito, redução da carga tributária. Tudo isso só será alcançado com um aperto do cinto para valer. No ano passado, houve grande crescimento na arrecadação, mas um aumento ainda maior nos gastos. Reduzir despesas públicas é algo que, entendemos, precisa ser feito. As PPPs estão próximas da aprovação definitiva, depois que passaram pelo Senado. Serão um instrumento importante para investimentos em infra-estrutura, mas sabemos muito bem que não é uma realidade para 2005. Qualquer projeto de PPPs, entre ele sair do papel e virar realidade, não acontece antes de 2006. Temos uma preocupação muito grande com a questão da infra-estrutura, mas sabemos que nada será tão rápido, mesmo que haja uma reação forte nessa área. Neste ano vamos ter que enfrentar os gargalos que já existem e, certamente, estarão mais agravados.”.
Márcio Artur Laurelli Cypriano, presidente do Bradesco
“O que vimos neste final de ano foi apenas um ensaio do imenso potencial da nossa economia. A expectativa é de continuidade da melhora dos fundamentos macroeconômicos, com aumento da renda e redução do desemprego. A questão externa continuará sendo um fator de risco, mas o Brasil possui hoje uma situação mais equilibrada para enfrentar eventuais turbulências. Acredito que estamos iniciando um ciclo positivo de desenvolvimento e redução dos desequilíbrios. Não há razão para esperarmos mudanças. Percebemos que o núcleo político do governo dá o respaldo necessário para a forma de condução da política econômica. É um modelo blindado contra apelos populistas. O governo mostrou equilíbrio e capacidade para gerar um clima de credibilidade e confiança em relação ao futuro do Brasil. Acredito que continuará produzindo surpresas positivas.”
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor executivo
do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)
“Com um pouquinho de esforço de gestão e alguma audácia na promoção de investimentos, o País pode chegar a 7% de crescimento em 2005. Hoje, com os problemas de gestão na área pública e com a atual política de juros e câmbio, a previsão de crescimento é menor. Se nada mudar, o aumento do PIB em 2005 ficará na faixa dos 3,5%. Os investimentos em infra-estrutura, principal contribuição do governo para a economia, deixaram muito a desejar. Em 2005, torcemos por algumas sementes da mudança: a aprovação e os primeiros passos das PPPs; uma melhor definição do que é público e do que é privado nos investimentos em infra-estrutura; e a destinação – e mais eficiência na gestão – de muito mais recursos para os setores de infra-estrutura, coisa que não aconteceu em 2004. Somos contra o governo prosseguir com o aumento do superávit primário de 4,25%, em 2004, para 4,5% em 2005. Queremos que retorne aos 4,25%, e que a margem (0,25%) seja usada para investimentos em infra-estrutura.”
Fernando Xavier Ferreira, presidente do Grupo Telefônica no Brasil
“Esperamos que o governo mantenha a trajetória bem-sucedida de estabilidade monetária e proteção em relação à conjuntura internacional. Mas também que avance, revertendo a tendência de aumento da taxa de juros e dos spreads bancários. Outro foco é manter o crescimento sustentado, o que depende do aprofundamento da reforma tributária, desonerando a carga sobre o setor produtivo, e desatar o nó que trava os investimentos.
É importante a aprovação dos projetos das PPPs e das Agências Reguladoras, mantendo a autonomia das agências, regras estáveis e respeito aos contratos. Se avançarmos nestes dois pontos, poderemos ter um crescimento do PIB acima dos 3,5%. Também é preciso que o governo dê passos concretos em direção à distribuição de renda, outra condição fundamental para alcançar o crescimento por um longo período. Sem mercado amplo, não há possibilidade de crescimento das empresas e do País na dimensão que a sociedade espera e merece.”
ISTOÈ