Preço do gás gera polêmica e pode afetar gasoduto
09/01/2009
Novas estimativas, divulgadas na semana passada pela PDVSA, de preço para o gás venezuelano que será importado pelo Brasil, Argentina e Uruguai podem representar um balde de água fria no já polêmico projeto batizado de “Gasoduto do Sul” pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O preço inicial que balizou os estudos do governo brasileiro – com o gás custando entre US$ 1 e U$ 1,70 por milhão de BTU (unidade que mede o poder calorífero do insumo) sem contar os custos com transporte – gerou uma série de telefonemas entre a Bolívia e a Venezuela.
O preço foi considerado barato pelos bolivianos e acirrou os ânimos das autoridades em La Paz, em demonstração da grande sensibilidade política e econômica do tema. Em resposta, o governo venezuelano se apressou a esclarecer que seu gás (já entregue no destino) custará no mínimo US$ 5 por milhão de BTU.
O assunto veio à tona no momento em que a Bolívia tenta aumentar o preço do insumo exportado para o Brasil e ameaça rever a fórmula de reajuste prevista em contrato com a Petrobras. Um dos problemas, para a Bolívia, é que o preço do gás venezuelano é mais barato do que o boliviano, atualmente vendido ao Brasil por US$ 3,20 para consumidores industriais, sem contar US$ 1,70 do transporte.
As queixas da Bolívia tiveram pronta resposta do ministro de Energia e Petróleo da Venezuela, Rafael Ramírez, que introduziu um elemento novo na discussão ao divulgar uma nota informando que pretende estipular US$ 5 como preço mínimo (piso) para seu gás. Além disso, ele informou que o gás também terá um preço máximo (teto) a ser fixado com base em uma cesta formada pelos combustíveis que serão substituídos pelo gás, como GLP e óleo diesel, só para citar alguns.
Ao divulgar o preço mínimo, o ministro, que também é presidente da PDVSA, informou que ele inclui custos com exploração e produção na Venezuela além do transporte e compressão do gás já entregue em Buenos Aires, ponto final do gasoduto. Com isso, Ramírez pretendeu deixar claro que o gás exportado não terá preço subsidiado.
Contudo, ele evitou mencionar o preço do insumo separadamente ao citar os valores. O piso, segundo avaliação da Petrobras, é muito similar aos US$ 4,75 por milhão de BTU a serem pagos em qualquer ponto do Brasil, previstos nos estudos de viabilidade econômica. O problema está no preço máximo.
Numa reação em cadeia, a fórmula venezuelana levou a estimativas de preço desse gás no Brasil que apontam para um valor de até US$ 11 para o gás colocado no Brasil. Para o engenheiro Marco Aurélio Tavares, diretor da Gás Energy, a PDVSA está indicando que o preço teto para o gás pode ser de US$ 9, no mínimo, caso o preço seja calculado com base em uma cesta de combustíveis. “E se vamos falar em substituição de GLP no mercado industrial ou diesel para as térmicas, estamos falando em valores acima de US$ 12 por milhão de BTU”, estima o consultor.
Crítico ao projeto, Tavares acha que o Brasil não deve contar com gás barato da Venezuela se quiser continuar a estudar alternativas de importação de gás natural. “Não tem essa brincadeira de preço subsidiado. E imagina a reação da indústria se tivesse que comprar este gás por US$ 10”, pondera o consultor, que sugere como alternativa o transporte de Gás Natural Liquefeito (GNL) por navios até plantas de regaseificação.
O diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, acha a discussão prematura. Segundo ele, os estudos feitos até agora apontavam para um preço do gás de US$ 4,75 por milhão de BTU, valor próximo aos US$ 5 sugeridos pela PDVSA como preço mínimo. Sauer ressalta, ainda, que o preço terá que seguir o princípio da racionalidade econômica e por isso os vendedores de gás natural deverão estar atentos à competição com outros combustíveis menos “limpos” como a lenha e o carvão, se quiserem espaço no Brasil.
“O gás tem que ser competitivo em relação aos produtos que desloca porque senão o mercado não deslancha. Ao contrário, por exemplo da energia elétrica, o gás disputa espaço com outros energéticos como o carvão e a lenha”, pondera Sauer.
Uma nova rodada de reuniões para discutir o projeto de interconexão nos setores de gás natural começou ontem em Caracas. Do lado brasileiro participam o próprio Ildo Sauer, o diretor responsável pela regulamentação do segmento de gás da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Victor Martins, o Secretário Nacional de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, e o secretário de Petróleo e Gás do MME, João Souto. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, embarcaria ontem para Caracas, onde também é aguardado o ministro de Planejamento Federal e Investimento Público e Serviços da Argentina, Julio De Vido.
Fonte:
Valor Economico
Cláudia Schüffner