Pinacoteca exibe dois séculos de arte italiana

09/01/2009

Melina Dias
Diário do Grande ABC

Desde 1954 São Paulo não recebia uma exposição de arte italiana com tanto valor histórico como Luz e Sombra na Pintura Italiana entre o Renascimento e o Barroco, aberta a partir desta quarta-feira ao público na Pinacoteca do Estado. Na década de 50 foi o mítico pintor Caravaggio a estrela. Agora são 65 telas, pré e pós-Caravaggio, que devem emocionar milhares de pessoas até 30 de abril, data em que parte para o Rio.

Por um ingresso de R$ 4, o visitante terá acesso a parte do acervo particular do milionário Luigi Koelliker, presidente da Hyundai italiana. Há obras de Tiziano, Lorenzo Lotto, Veronese, Guido Reni e Guercino, entre outros. Predominam os retratos. São dois séculos (XVI e XVII) de arte italiana extraordinariamente reunidos em dez anos por Koelliker. Dois painéis na parte externa da mostra orientam sobre os movimentos renascentista e barroco na pintura.

O quadro que recebe o visitante, Retrato do Poeta Pietro Aretino, de Tiziano Vecellio (1488/90-1576), é um bom exemplo da aventura que acabou resultando na coleção. Foi comprado em um leilão em Palma de Maiorca, em 1999, por algo entre “80 e 100 mil euros”. O curador desta mostra, Vittorio Sgarbi, atribuiu a tela a Tiziano: hoje ela vale entre 2 e 3 milhões de euros. O italiano Sgarbi ostenta um currículo extenso e variado. Além da formação em história da arte é autor de dezenas de livros sobre o assunto, membro de diversos órgãos de preservação ao patrimônio artístico, foi parlamentar e até apresenta um programa de televisão.

Atribuição – Cada pintura que pode ser apreciada na Pinacoteca carrega séculos de história que renderiam dezenas de livros. Entre 1500 e 1600 os pintores eram, em sua maioria, meros retratistas a serviço da nobreza. A maioria das telas não exibe o nome do pintor. A assinatura está em detalhes pictóricos, como o uso das cores, o modo de pintar as mãos, a dose de realismo. A isso soma-se o levantamento histórico. No caso de Aretino e Tiziano sabe-se que foram amigos em Veneza. E o que seu retrato exprime dialoga com vasta obra do escritor e poeta, que começou a publicar em 1512.

Há centenas de outras pistas para um expert atribuir um quadro a um mestre. Exaustivas investigações são feitas, o caminho percorrido pela obra é reconstituído (algumas desaparecem por séculos). Todas essas informações devem ser comprovadas e aceitas por um número razoável de estudiosos reconhecidos. No catálogo da mostra, para cada tela há essa argumentação do especialista justificando a atribuição.

A mostra documenta três vertentes das principais escolas italianas: veneziana, bolonhesa e romana. Também estão presentes pintores de outras nacionalidades que se filiaram a elas, como El Greco, Van Dyck, Simon Vouet e Claude Vignon.

De perto – Durante a apresentação das obras para a imprensa, volta e meia o curador Sgarbi parecia imantado pelo quadro. Olhava as telas muito de perto, quase tocando-as com o nariz. O visitante deve imitar seu exercício, obviamente respeitando o limite imposto pela organização. Assim perceberá técnicas de cada artista representado. É impressionante como a precisão das pinceladas cria luz, volume e textura.

Fonte:
Diário do Grande ABC