Pequenas e médias vendem mais no Real

09/01/2009

As pequenas e médias empresas aumentaram em quase 50% o faturamento nos últimos dez anos, em valores ajustados pela inflação, com um crescimento mais forte no período inicial do Plano Real.

A tendência em anos mais recentes foi de estagnação nas vendas, mas as empresas conseguiram fechar os dez anos do real no azul: uma pequena margem de lucro de 3,5% sobre o faturamento, metade do indicador alcançado pelas grandes empresas.

Com dados de milhares de balanços, a Serasa, empresa de análise de crédito, levantou pela primeira vez a situação financeira das pequenas e médias – que são a absoluta maioria no universo empresarial brasileiro, mas sobre as quais há pouca informação disponível.

O aumento do poder aquisitivo nos primeiros anos do Real foi o grande impulsionador das pequenas e médias, que dependem muito mais do mercado interno do que as grandes. Os setores de comércio e serviços, que, com 65% e 54%, respectivamente, de aumento de vendas desde 1994, cresceram muito acima do industrial, com 34%.

O levantamento, “Desempenho das pequenas e médias empresas brasileiras nos dez anos do Plano Real”, indica que esse segmento ganhou das grandes empresas durante os primeiros anos da estabilização econômica. No entanto, o avanço das vendas perde força no período de esfriamento da economia com as crises externas e, a partir da maxidesvalorização de 1999, as grandes voltam a liderar com ajuda das exportações.

“As pequenas e médias são muito dependentes do mercado interno”, diz Márcio Ferreira Torres, analista da Serasa. “As grandes aproveitaram o câmbio para exportar mais. As pequenas ficaram fora desse processo.”

O estudo inclui 32,7 mil balanços de pequenas (entre R$ 2 milhões e R$ 10 milhões de faturamento) e médias (de R$ 10 milhões a R$ 50 milhões), dos setores de comércio, indústria e serviços. A comparação com as companhias de grande porte foi feita com base num levantamento já existente com 3,1 mil empresas com faturamento acima de R$ 50 milhões.

Os números da Serasa, que vão das vendas até o lucro, passando pela situação operacional e endividamento, mostram que as pequenas e médias estão patinando nos últimos anos. “Elas ganham sempre, mas não ganham muito”, afirma Torres.

A margem de lucro, que é o que sobra depois de descontados despesas e impostos, teve um pico em 1994, chegando a 5,3% com reajuste de preços, caiu para quase zero no ano seguinte por conta da inadimplência e recuperou-se nos anos seguintes, mas nunca voltou ao patamar inicial.

Já a lucratividade das grandes, empatada com as pequenas no início do real, sofreu muito mais oscilações, com prejuízo nos períodos de desvalorização acelerada, mas encerrou 2003 em 7,6%.

A estagnação das pequenas e médias nos últimos anos, lembra Torres, está na raiz do problema do emprego no país, já que as grandes são minoria e contratam cada vez menos. “Se elas não crescem, não podem criar emprego.” “Mais da metade dos funcionários com carteira assinada trabalha nessas empresas”, diz Silvano Gianni, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Há sinais de retomada neste ano. A Serasa identificou um início de recuperação no primeiro trimestre, confirmada por uma pesquisa mais recente do Sebrae de São Paulo, que avalia faturamento, pessoal empregado e massa salarial. “Em setembro tivemos o terceiro mês de crescimento seguido”, diz José Luiz Ricca, diretor-superintendente do Sebrae-SP. “É a primeira vez que isso acontece nos últimos três anos.”

O reaquecimento da economia reforça a discussão perene sobre o acesso ao crédito, que, como lembra Torres, da Serasa, é “a mola do desenvolvimento”.

Os dados da Serasa sobre endividamento mostram que os pequenos e médios empresários sofrem de uma séria aversão ao risco. A linha de endividamento bancário praticamente não se move em dez anos e representava menos de 30% do total das dívidas no início deste ano. Nas grandes, a relação é de quase 50%.

“As empresas têm medo dos bancos e os bancos têm medo das empresas”, resume Torres. “O que acontece é que elas acabam sendo financiadas pelos fornecedores, salários e impostos.”

A aversão aos bancos tem, logicamente, razões bem fundamentadas em casos reais. “Desde que não se vá ao banco, o negócio vai bem”, diz Ermano Marchetti Moraes, coordenador da Câmara de Desenvolvimento da Micro e Pequena Indústria da Fiesp, a federação das indústrias de São Paulo. “As taxas de juros não permitem que as empresas invistam.”

Valor Online
18/10/2004