O “custo Brasil” da construção.

09/01/2009

23 de Junho de 2004 – Tendo o aço como um importante insumo de produção, alguns setores industriais têm sentido as últimas altas de preço que, acumuladas, ultrapassam em muito os índices de inflação registrados nos últimos doze meses.

Com dificuldades de repassar para seus clientes os acréscimos de custos devido ao empobrecimento do consumidor médio brasileiro, enquanto podem as empresas açointensivas absorvem parte dos aumentos do metal reduzindo suas margens de lucro.

Por sua parte, as siderúrgicas justificam que operam próximo do limite máximo da capacidade instalada e sem ociosidade para expandir a oferta do produto que derrubaria os preços.

Expostas à volatilidade da flutuação cambial, têm seus gastos com insumos importados inflados com a desvalorização do real e tentam compensar os custos dolarizados exportando parte da produção, aproveitando o aquecimento da demanda externa, o qual impede a queda do preço no mercado doméstico.

Repete-se, assim, o desequilíbrio verificado em mercados de outros produtos básicos, nos quais, frente à demanda em alta, a disparada do preço reflete a capacidade instalada inelástica.

No segmento da construção civil – que vem consumindo 10% a mais de aços planos por ano, desde 1998, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) -, altas expressivas do custo de produção dificultam a retomada do nível de atividade e ajudam a sustentar o quadro recessivo registrado nos últimos anos.

O encarecimento do custo Brasil da construção – devido à alta de preços de insumos básicos, elevada carga tributária e outros fatores – reduz ainda mais o acesso de uma parcela da população à casa própria adequada pelo distanciamento do crescente preço da habitação da minguante renda do mutuário – mesmo se a oferta de crédito crescer – e também contribui para tornar o País menos atraente aos investimentos diretos estrangeiros que acabam migrando para países onde construir é mais barato.

Recente estudo realizado pela consultoria EC Harris sobre custos internacionais de construção analisou 45 edifícios semelhantes para comparar custos em 38 países. Construir no Brasil, segundo o estudo, é em média cerca de 35% mais barato do que no Reino Unido, usado como valor referencial (benchmark).

No entanto, é mais caro do que em outros países em desenvolvimento como o México, a China, a Malásia, a Arábia Saudita e países da África do Sul, e quase empata com o valor de países desenvolvidos como o Canadá.

No trabalho intitulado “Em Busca de um Consenso Pós-liberal” – do economista do Ipea Armando Castelar Pinheiro e outros – estão disponibilizados dados sobre a evolução, nas últimas décadas, do custo relativo e da taxa de investimento em capital fixo (em relação ao PIB), revelando que, praticamente com o mesmo montante de poupança interna a valores correntes, a economia brasileira cresce menos atualmente do que crescia em décadas anteriores.

A mais importante explicação para esse fato é o significativo aumento, nos últimos anos, do custo de se investir no Brasil causado pela deterioração da infra-estrutura, pela baixa competitividade do setor de bens de capital e pelas expressivas altas nos preços dos insumos da construção civil.

Usada nos últimos anos como justificativa para a não-intervenção estatal na formação de preços e para a irrelevância do planejamento governamental, a crença neoliberal na infalível capacidade de auto-suficiência do livre mercado de ofertar o que é demandado colocou o País – possuidor de grandes reservas de minério de ferro e candidato natural a tornar-se uma potência siderúrgica mundial – na incômoda situação de, em breve, ter de gastar uma parte maior de suas parcas divisas importando mais aço, conseqüentemente elevando o custo Brasil da construção que poderá atrasar a eliminação do déficit habitacional, além de obrigar ao gasto de um volume maior de recursos para se obter a mesma taxa de formação bruta de capital fixo.

Osvaldo Martins Rizzo
(Gazeta Mercantil)