Morte de Pavarotti provoca comoção na Itália

09/01/2009

‘Embaixador da cultura italiana no mundo’, tenor tinha ‘alma punk’, disse Bono

ROMA – Os italianos receberam com comoção a notícia da morte do tenor Luciano Pavarotti na madrugada desta quinta-feira, 6. Canais de televisão e rádios da Itália estão dedicando programas especiais a Pavarotti e transmitindo as suas interpretações mais famosas.

Ele é considerado um grande divulgador da imagem da Itália no mundo. “Pavarotti é o último representante do canto italiano, último dos tenores que levaram ao mundo a verdadeira cor da voz italiana”, comentou Bruno Cagli, musicólogo e superintendente da prestigiosa Academia de Santa Cecília.

Na opinião de Cagli, Pavarotti não tem herdeiros. “Devido à decadência do repertório operístico e à mudança do panorama cultural e social, acredito que não haja herdeiros de seu nível capazes de comunicar, daquela forma, o dom do céu que é a voz italiana.”

O presidente da Câmara dos Deputados da Itália, Fausto Bertinotti, disse que se emocionou ao saber da morte do tenor.

“Recebi com grande comoção a notícia da morte do mestre Luciano Pavarotti, altíssimo intérprete da longa tradição do canto melodramático italiano e dono de uma capacidade comunicativa fora do comum”, disse Bertinotti, em uma mensagem enviada à familia do tenor.

Vasco Errani, governador da região da Emilia Romagna – onde fica Modena, cidade natal do cantor – disse: “Para nós, Pavarotti será sempre um dos grandes símbolos da Itália no mundo”.

Diante dos pedidos de informação vindos de todo o país, a prefeitura de Modena teve que abrir uma linha telefônica especial para informar a data e local do enterro do cantor.

Pavarotti será enterrado no sábado pela manhã na catedral da cidade. Desde cedo, nesta quinta feira, fãs e amigos do tenor estão se reunindo na frente da casa de Pavarotti para prestar homenagem.

O crítico musical Mario Luzzato Fegiz disse que o cantor tornou-se popular porque soube misturar canto lírico com música moderna. “Luciano teve habilidade para unir o canto lírico ao pop e ao rock”, recordou o crítico, fazendo referência aos shows de Pavarotti com estrelas da música pop como Bono, do grupo irlandês U2, Sting e ídolos da música italiana, em eventos beneficentes.

“Pavarotti é muito mais rock do que muitos cantores de rock e provavelmente tinha uma alma punk”, comentou Bono.

Na opinião do cineasta Franco Zefirelli, Pavarotti era incomparável. “Havia os tenores e depois tinha Pavarotti. Ele adorava a música e seu maior mérito é que a abraçou como um todo, como demonstrou Pavarotti & Friends, onde se apresentava em diversos gêneros musicais, sem limites nem fronteiras”, disse Zefirelli.

Bruno Cagli recordou as polêmicas provocadas pelo concerto dos três tenores – Pavarotti, Placido Domingo e José Carreras – que contribuiu para popularizar a ópera. “Aqueles shows provocaram críticas porque representavam a contaminação de diversos gêneros de música.”

Na opinião do musicólogo, este problema está na ordem do dia agora, com a morte de Pavarotti. “A ópera não poderá mais ter a popularidade que teve um dia, é preciso encontrar novos caminhos”, comentou.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que Pavarotti era “a melhor encarnação do grande tenor popular depois de Caruso” – em referência ao napolitano Enrico Caruso, morto em 1921 e considerado o maior tenor de todos os tempos.

Fonte:
Estadão.com.br
BBC