Montadoras perdem a luta contra os piratas chineses
09/01/2009
Na China, as cópias vão muito além de aparelhos de DVD, relógios e bolsas. “Como exceção de sua mãe, podemos copiar qualquer coisa,” é um dito jocoso corrente em Xangai. É muito comum encontrar molho de soja misturado a água gasosa rotulado de Pepsi-Cola, roteadores de redes Cisco falsificados (apelidados com a “marca” Chisco) e telefones celulares semelhantes aos mais recentes modelos da Nokia. Também é comum encontrar plasma sangüíneo falsificado.
Entre todos os produtos, porém, automóveis são, seguramente, os mais complicados de copiar. Carros consistem em cerca de 6 mil componentes fabricados com precisão a partir de uma diversidade de materiais. Para que um automóvel seja barato, confiável e duradouro – segundo a equação econômica convencional no setor -, esses componentes precisam ser montados em fábricas que processam enormes volumes, dispõem de muito maquinário caríssimo e muitos engenheiros com boa formação.
Por isso, foi surpreendente quando automóveis falsificados começaram a surgir na China, oito anos atrás. Às primeiras cópias de carros Volkswagen seguiu-se logo o infame Chery QQ. Ele surgiu seis meses antes do lançamento de seu original, o Chevy Spark, porque uma companhia chinesa, de alguma maneira, apropriou-se do projeto.
O que inicialmente vinha em conta-gotas ganhou volume. O logotipo Toyota, a marca Honda (que tornou-se “Hongda”, para motocicletas) e pára-choques Nissan foram todos alvo de disputas na Justiça. A Shuanghuan Automobile teve problemas por ter copiado o famoso logo de quatro anéis da Audi, poucos anos atrás. A companhia então copiou o design do CR-V, da Honda, denominou-o SR-V e parece ter vencido a subseqüente batalha legal. No mês passado, a empresa conseguiu uma licença de exportação e planeja iniciá-la com outro modelo, o CEO – um veículo utilitário esportivo de notável semelhança com o BMW X5 – para a Romênia e a Itália.
A cópia do Smart – um pequeno veículo de dois assentos da DaimlerChrysler – parece ter se tornado particularmente comum. Em janeiro, a Shuanghuan lançou uma versão elétrica, denominada Dushi Mini. Isso foi depois que a Shandong Huoyun Electromobile, uma companhia que fabrica buggies para golfistas, lançou sua própria versão no ano passado e anunciou planos para vender o carro na Europa por menos de metade do preço do original. Depois que a Daimler ameaçou abrir um processo, a produção do automóvel foi temporariamente suspensa. Um porta-voz da empresa chinesa declarou-se surpreso com a semelhança de seu modelo com o original, explicando que a companhia tinha simplesmente copiado um carrinho de brinquedo. A Shandong Huoyun está agora redesenhando seu automóvel em preparação para um relançamento ainda neste ano. Uma terceira cópia do Smart foi lançada recentemente pela CMEC Suzhou, fabricante de veículos elétricos.
Existem muitos outros exemplos. O Landwind, da Jiangling Motors, que fracassou de forma espetacular nos testes de colisão europeus no ano passado, e uma cópia do Frontera, da Opel. A BYD, um fabricante de baterias, tem um carro conceitual que associa a traseira de um Renault Laguna com a frente de um Mercedes CLK e o logotipo dos autos BMW. A Great Wall, fabricante de automóveis com nomes exdrúxulos – como Sing, Wingle e Sailor -, produz uma versão do Hilux, da Toyota, que denominou Deer. A companhia está brigando com a Toyota por ter copiado seus modelos Scion e com a Fiat devido à cópia de elementos de seu novo Panda.
Até hoje, processos judiciais iniciados por empresas estrangeiras revelaram-se praticamente inúteis. As diversas intimações, ameaças, liminares e brigas nos tribunais emperraram na lentidão de artifícios legais, foram descartadas devido a tecnicalidades legais ou malograram porque as empresas estrangeiras não registraram adequadamente seus projetos. Os fabricantes automobilísticos estrangeiros relutam em criar grandes casos, receando ser excluídos de um mercado em rápido crescimento ou gerar publicidade negativa indesejável.
O grande mistério sobre esses carros copiados está em seus preços. Os piratas chineses evidentemente economizam em custos de pesquisa e desenvolvimento, mas, ainda assim, precisam comprar aço e outras matérias-primas a preços de mercado. A maioria deles fabrica automóveis em volumes muito pequenos, de modo que não há economias de escala. O fato de poderem vender esses automóveis por metade do preço dos originais sugere que algo estranho está acontecendo. Os fabricantes não conhecem seus próprios custos (uma possibilidade real), revolucionaram a fabricação de automóveis (extremamente improvável) ou estão sendo subsidiados de alguma maneira. Por enquanto, ninguém sabe a razão.
Fonte:
Valor Economico