Mercado vive ‘superquarta’ com decisão sobre juro nos EUA e no Brasil

29/10/2008

No Brasil, analistas estão divididos sobre qual rumo o BC vai tomar.
Mercado financeiro trabalha com hipótese de redução dos juros nos EUA.

 Em meio às turbulências da crise financeira, os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos anunciam nesta quarta-feira (29) o rumo que será dado às taxas de juros dos dois países. A expectativa e a reação a essas mudanças devem ditar o rumo dos mercados financeiros no dia.

 As decisões que serão tomadas pelas autoridades monetárias ganharam importância com o agravamento da crise financeira em outubro e indicarão se as instituições irão priorizar o combate à inflação – elevando as taxas – ou a luta contra a desaceleração econômica, reduzindo-as. Atualmente, a taxa brasileira de juros está em 13,75% ao ano, enquanto a americana situa-se em 1,5%.

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No EUA, a maioria dos analistas espera que o Fed (Federal Reserve, o Banco Central do país) reduza sua taxa de juros para combater o crescente temor de recessão no país. É a primeira reunião da instituição desde o último dia 8, quando o Federal Reserve (Fed), o Banco Central Europeu (BCE) e outros países reduziram suas taxas em meio ponto percentual, em uma ação coordenada para enfrentar a crise financeira.

 
Desde então, países como China, Índia, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Suécia, Israel e Coréia do Sul seguiram o exemplo e também diminuíram suas taxas. No entanto, nações como Islândia e Hungria seguiram o caminho inverso e elevaram suas taxas para combater a inflação e evitar a desvalorização excessiva da moeda local. 

Influências

A decisão do Fed poderá ser influenciada pela primeira estimativa de taxa de crescimento para o terceiro trimestre, que só será divulgada ao mercado na quinta-feira (29) – entretanto, o comitê americano deverá ter acesso aos dados com antecedência. Os analistas antecipam, em média, um recuo do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5% em ritmo anual entre julho e setembro.

Ian Shepherdson, economista da consultora High Frequency Economics, afirmou que ficará "muito surpreso" se o Fed baixar sua taxa em menos 0,5%. Para Joseph LaVorgna, analista do Deutsche Bank, a possibilidade de uma queda de 0,25 ponto percentual para que o Fed "mantenha alguns cartuchos" no combate à crise não se sustenta, "dada a tática destinada a 'atacar e impressionar' que o Fed e o Tesouro parecem ter adotado recentemente".

O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, costuma dizer que a tarefa do BC às vezes se parece mais com a de psicólogo do que com a de economista, principalmente porque, como afirmou recentemente um dos membros do Fed, uma queda da taxa é sentida apenas nove meses depois. 

 

Aqui dentro

Já no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou os juros nas últimas quatro reuniões, como forma de combater a ameaça de elevação da inflação na esteira da elevação dos preços das commodities agrícolas e do petróleo.

 No entanto, o quadro mudou radicalmente desde então – o preço do petróleo e dos alimentos diminuiu, mas a depreciação do real frente ao dólar manteve a ameaça de elevação do custo de vida. Com isso, o BC terá de buscar conter a inflação mesmo com o perigo do desaquecimento da economia, frente à freada já registrada nos países desenvolvidos.

Os analistas estão divididos sobre a postura que será adotada pelo BC na reunião. Alguns apostam na elevação da Selic – taxa de referência de juros no Brasil –, e outros na queda. Há ainda um terceiro grupo que aposta na manutenção dos índices.

 O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse a taxa deverá começar a recuar. “Se o mundo mudou, o cenário externo mudou e todos os países estão rebaixando os juros, porque o Brasil faria diferente? Faço uma aposta de que os juros no Brasil começam a cair agora, não sei em que momento, se nesta reunião do Copom ou na próxima”, disse. 

 Divisão

Outros analistas acham que a Selic tende a ser elevada, conforme a mais recente pesquisa Focus – levantamento realizado pelo BC com diversos agentes econômicos –, que mostrou uma projeção do mercado de avanço para 14% ao ano, ou seja, um aumento de 0,25 ponto percentual.

 Já quem defende a manutenção vê a possibilidade de uma “parada técnica” – ou seja, manter os juros como estão até a próxima reunião, em dezembro. O ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas considera inviável uma redução dos juros nesse momento, "pois não se sabe até onde vai o câmbio". "O mais indicado é uma trégua, para avaliar a evolução do dólar", ressalta.

Fonte:
G1
(Com informações da France Presse e BBC)