Maior bolha da história dos EUA ameaça a economia

09/01/2009

Se o leitor pudesse examinar apenas um indicador para aferir as perspectivas da economia americana nos próximos anos, deveria escolher os preços de moradias. Um ano atrás, a maioria dos economistas julgava improvável que os preços médios caíssem em todo o país. Agora, muitos começaram a se preocupar com as conseqüências da queda nos preços para a economia americana. Dados divulgados esta semana pela Associação Nacional de Corretores Imobiliários revelam que os preços médios das residências praticamente não subiram nos últimos 12 meses, em comparação com o crescimento anual em torno de 15% em meados de 2005. Em algumas regiões do país, os preços já estão caindo. Ajustada pela inflação, a moradia média vale menos do que valia um ano atrás.

O boom no mercado habitacional foi o principal motor de crescimento econômico americano nos últimos anos. Foi a principal razão pela qual a economia americana manteve um desempenho melhor do que o esperado depois do estouro da bolha de investimentos nas bolsas no começo da década.

Desde 2000, o salário real da maioria dos trabalhadores americanos praticamente não subiu, mas a disparada dos preços das moradias permitiu que os consumidores continuassem gastando. Nos últimos quatro anos, o valor total das moradias americanas aumentou mais de US$ 9 trilhões, para US$ 22 trilhões. Esses avanços ajudaram a contrabalançar tanto a queda nos preços das ações como o débil crescimento dos salários.

Essa é a maior bolha na história dos EUA: em termos reais, os preços das moradias cresceram pelo menos três vezes mais do que em qualquer boom anterior no mercado habitacional. No passado, os preços médios de moradias em todo o país registraram queda, ano sobre ano, para um ou outro mês isolado, mas não caíram sistematicamente desde a década de 1930. Entretanto, a maioria dos Estados registrou quedas nos preços em algum momento nas últimas três décadas. Uma vez que parece haver uma bolha no mercado habitacional em mais Estados do que nunca, os preços poderão cair simultaneamente num número suficiente de lugares para fazer com que os EUA registrem seu primeiro declínio de preços em nível nacional desde a Grande Depressão.

Aparentemente, o boom no mercado habitacional americano parece mais moderado do que booms em outros países. Desde 1997, os preços médios dobraram, em comparação com um crescimento de quase 180% no Reino Unido. Mas as conseqüências econômicas de uma contração brusca poderão ser mais severas nos EUA, porque a economia tornou-se extremamente viciada em alta dos preços.

O boom aqueceu a economia de três maneiras: impulsionou a construção residencial; fez as pessoas se sentirem mais ricas e portanto incentivou-as a gastar mais; e permitiu que os donos de casas próprias usassem as propriedades como um grande caixa automático, obtendo dinheiro mediante empréstimos garantidos por seus lucros de capital com imóveis.

O Merrill Lynch estima que os três fatores juntos responderam por mais da metade do crescimento total do Produto Interno Bruto (PIB) americano no ano passado. Computando os setores de construção civil, financeiro e as corretoras imobiliárias, o boom no mercado habitacional também foi responsável por um terço de todos os empregos criados desde 2001. Se os preços das moradias pararem de crescer, o crescimento do PIB poderá cair para menos de 2% em 2007. Se os preços caírem, podemos esperar um desaquecimento mais forte.

Se os preços das moradias efetivamente caírem, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) provavelmente reduzirá os juros para evitar que a economia entre em recessão. Mas a capacidade do Fed de baixar os juros seria limitada, se as pressões inflacionárias continuarem fortes.

E seria certamente errado o Fed dar sustentação ao mercado imobiliário quando um esfriamento nos gastos faz parte do reequilíbrio que os EUA precisam fazer tanto aumentar sua taxa de poupança. O Fed conteve uma queda do consumo no início desta década depois que os preços das ações despencaram. Repetir a dose poderia comprometer a saúde de longo prazo da economia.

A bolha de investimentos em ações de empresas de informática gerou um estoque de capital moderno que continua a produzir ganhos de produtividade. Em contraste, os investimentos estimulados pelo boom no mercado imobiliário pouco contribuem para impulsionar crescimento de longo prazo. Casas caras apenas redistribuem riqueza de não-proprietários para donos de casa próprias. E, ainda pior, é o fato de que o boom desviou recurso de setores produtivos e fez com que as famílias poupassem menos, agravando os desequilíbrios econômicos americanos. Certamente, é melhor que os americanos comecem a poupar à moda antiga, gastando menos de sua renda, em vez de se fiarem na alta dos preços dos ativos. A festa foi boa, mas tem de acabar.

Fonte:
Valor Economico
The Economist