L’Aquila enterra seus filhos
10/04/2009
L'AQUILA, Itália (AFP) — O pequeno caixão branco de uma criança colocado sobre o ataúde da mãe foi uma das imagens mais comoventes do funeral coletivo com que a cidade de L'Aquila se despediu nesta sexta-feira dos 289 mortos do terrível terremoto de segunda-feira passada.
Uma imagem multiplicada por cinco. Cinco foram as crianças cujos caixões repousaram sobre o de suas mães nessa cerimônia que atraiu a atenção de todo o mundo.
Sob um sol inclemente, milhares de pessoas abraçaram os caixões de seus entes queridos antes que os voluntários da Defesa Civil os afastassem delicadamente, consolando-os.
Padres, freiras e seminaristas, muitos pertencentes a congregações com sede na região central da Itália, ajudaram no trabalho de reconfortar os familiares.
Outra cena que chamou a atenção foi a de um senhor ajoelhado, com um bebê nos braços, ante um caixão, fazendo a criança tocar com sua mãozinha o féretreo em sinal de adeus.
A cerimônia organizada pelas autoridades teve lugar no pátio da escola militar da Guarda de Finanças, que também serviu de necretório improvisado pela Defesa Civil.
"Não podia deixar de vir num momento tão difícil. Vim de Macerata (centro) para expressar minha solidariedade às vítimas. Infelizmente, esta será uma Sexta-Feira Santa especial para as pessoas daqui", explicou o padre Felice Prosperi.
A cerimônia sóbria e intensa, à qual assistiram a maiores autoridades do país e foi presidida pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, se viu marcada por longos e tristes minutos de silêncio.
"Perdemos amigos, colegas, vizinhos, muita gente que conhecia desapareceu. Isso é uma tragédia", comentou o prefeito de L'Aquila, Massimo Caliente, visivelmente esgoatado e comovido.
A maioria dos familiares se nega a falar com a imprensa.
As palavras do Papa Bento XVI, lidas por seu secretário pessoal, monsenhor Georg Gaenswein, nas quais oferece "fraterna solidaridade", os convidam a construir "um futuro, manter a esperança e voltar a começar".
O grande terremoto que destruiu o setor medieval de L'Aquila arrasou também pequenos povoados antigos nas proximidades, de onde chegaram inúmeras pessoas para assistir à cerimônia, como o de Onna, epicentro do tremor.
O chefe do Governo italiano, Silvio Berlusconi, também presente, aproveitou para colocar à disposição suas mansões para abrigar parte das 28.000 pessoas que ficaram sem suas casas no trágico terremoto.
"Muitas pessoas ofereceram suas casas para aqueles que ficaram sem teto. Eu também quero fazer isso. Por isso, coloco à disposição minhas residências", declarou Berlusconi na cidade de L'Aquila, onde acompanhou o funeral coletivo das vítimas.
Dos 28.000 desabrigados, 18.000 foram instalados em barracas de campanha.
Fonte:
AFP