Juros sobem após ata do Copom

17/06/2010

SÃO PAULO – A economia brasileira, com uma demanda robusta, segue falando mais alto nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), como informou a ata da 151ª reunião do grupo, divulgada hoje. O documento observou que permanecem elevados os riscos à concretização de um cenário inflacionário benigno. Por isso, as autoridades prometeram ser incisivas para conter essa trajetória.
 
O documento de hoje não incorporou o mundo novo que se abriu no cenário interno e externo nos últimos dias. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o aumento de 7,72% para aposentadorias acima do salário mínimo. Ontem, o governo anunciou a prorrogação de incentivos fiscais que vão beneficiar o investimento na economia em itens como caminhões e bens de capital. Hoje, a Espanha conseguiu vender títulos de longo prazo. Com isso, as taxas de juros iniciam a manhã em alta.
 
A percepção é de que a ata sinaliza mais um ato de 0,75 ponto porcentual de aumento da Selic (a taxa básica de juros da economia) em julho. "Esperava uma ata com um tom mais elevado. O documento sinaliza uma alta de 0,75 ponto porcentual no próximo encontro", comentou Paulo Petrassi, da Leme Investimentos. "Mas o governo, com as medidas recentes, mostra que não tem nenhum objetivo de fazer uma melhora fiscal até o final do ano. E as taxas só não estão disparando mais por causa das coletas diárias de preços de alimentos, que têm se mostrado benignas", completou.
 
O Copom mudou a avaliação quanto ao ritmo da economia brasileira e considera que a demanda doméstica deixou o processo de recuperação e já está em um patamar considerado "robusto". Os membros do Copom avaliaram que "permaneceram elevados os riscos" do cenário inflacionário desde a última reunião do grupo em abril, "a despeito da reversão de parcela substancial dos estímulos introduzidos durante a recente crise financeira internacional, desde a última reunião permaneceram elevados os riscos à concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual a inflação seguiria
consistente com a trajetória das metas".
 
Enquanto foram revertidas algumas parcelas dos estímulos, outros continuam e novos estímulos surgiram. Ontem, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, anunciaram a prorrogação de incentivos fiscais que vão beneficiar o investimento em itens como caminhões e bens de capital. Segundo Mantega, a isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para caminhões e tratores, que terminaria em 30 de junho, será prorrogada até 31 de dezembro de 2010.
 
No caso de veículos comerciais leves, como caminhonetes e picapes, será mantida a alíquota reduzida de 4% até o fim do ano. Sem a prorrogação, o IPI para caminhões voltaria a 5% e, no caso dos comerciais leves, subiria para entre 8% e 10%. Segundo o ministro, a renúncia fiscal da medida relativa aos caminhões é de R$ 280 milhões e de R$ 105 milhões nos veículos leves pelo período.
 
A prorrogação do incentivo é mais um sinal de que o governo, que sancionou o aumento de 7,72% dos aposentados, deve deixar com o BC a tarefa de assegurar sozinho a convergência da inflação para a meta. Mantido o placar apertado das últimas pesquisas eleitorais entre a candidata do governo, Dilma Rousseff, e o ex-governador de São Paulo José Serra, a tendência é que o governo siga mostrando leniência fiscal de fato, em contraste com o discurso de que estaria fazendo esforços para ajudar o BC.
 
Antes das últimas movimentações do governo, nas projeções oficiais para o IPCA em 2010, o BC viu uma elevação "em relação ao valor considerado na reunião do Copom de abril, e se mantém sensivelmente acima do valor central de 4,50% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)". A afirmação consta da ata divulgada hoje.
 
No exterior, o Tesouro espanhol levantou 3,479 bilhões de euros com bônus. O êxito da operação ameniza as apreensões de que o país seria o próximo da lista a pedir resgate financeiro à União Europeia (UE) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), mas ainda não erradica totalmente as tensões com a crise fiscal na Europa.

Fonte:
Patricia Lara, da Agência Estado